Reflexos da manhã

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A noite estrelada de Búzios fazia Anne demorar a pegar no sono. A holandesa estava encantada com o lugar — cada detalhe das praias, das ruas; ela simplesmente desejava morar ali. Sentada na varanda do quarto, que oferecia uma vista privilegiada para o mar, Anne tinha apenas um abajur aceso, o suficiente para iluminar o livro que havia trazido. Estava ali porque sabia o quanto Carol estava cansada, exausta após a viagem e o longo jantar com as amigas. Não queria incomodá-la, então resolveu se distrair com a leitura.

Enquanto Anne virava mais uma página, o som suave da porta se abrindo atrás dela a fez desviar o olhar. Carol, ainda com os cabelos meio bagunçados e os olhos sonolentos, surgiu na varanda, encostando-se na porta de vidro.

— O que você está fazendo aqui? — Carol perguntou, a voz rouca de quem acabou de acordar. — Está tarde, amor...

Anne sorriu, fechando o livro devagar.

— Não conseguia dormir. Esse lugar é maravilhoso demais para fechar os olhos tão cedo. E você estava exausta, não quis te acordar.

Carol caminhou até ela, sentando-se ao seu lado na espreguiçadeira, o vento leve do mar brincando com os fios de seu cabelo.

— Você sempre se encanta com as coisas simples, né? — Carol comentou, olhando o horizonte e sentindo o cheiro salgado do mar. — Mas você também precisa descansar.

Anne apoiou a cabeça no ombro de Carol, suspirando.

— Só mais um pouquinho. Queria aproveitar esse momento.

Carol envolveu Anne em um abraço apertado e, com a voz suave, murmurou:

— Não me pede nada com essa voz... você sabe que eu não resisto.

Anne riu, aquela risada gostosa que Carol tanto adorava. Ainda sorrindo, Anne olhou para o relógio em seu pulso e arregalou os olhos ao perceber a hora.

— Que horas são? — Anne perguntou, incrédula. — Já são... 4:50 da manhã?!

Carol franziu o cenho, ainda meio sonolenta.

— Como assim? Você ficou acordada esse tempo todo?

— Acho que sim — Anne respondeu, rindo. — Estava tão absorvida no livro e no som das ondas que nem percebi o tempo passar.

Carol suspirou, esfregando os olhos antes de se aproximar mais, agora com um sorriso nos lábios.

— A gente já tá quase no nascer do sol — comentou, olhando para o céu, que começava a ganhar um tom suave de rosa. — Quer ficar e assistir?

Anne assentiu, os olhos brilhando de animação.

— Claro! Acho que vale a pena ter ficado acordada até agora.

Carol, mesmo ainda meio adormecida, puxou Anne para perto e murmurou com um sorriso preguiçoso:

— Só não me pede mais nada com essa voz, tá? Já tô rendida.

Anne soltou outra risada, inclinando-se para descansar a cabeça no peito de Carol. As duas se aconchegaram na espreguiçadeira, assistindo em silêncio enquanto o céu se transformava lentamente, com o som suave das ondas e o frescor da manhã envolvendo-as. O cansaço não importava mais; o momento era precioso demais para ser desperdiçado.

Enquanto o céu começava a clarear, Anne ergueu o olhar para Carol e, com um brilho travesso nos olhos, sugeriu:

— Que tal descermos para a praia? — perguntou, já imaginando a sensação da areia sob seus pés.

Carol fez uma careta, ainda meio sonolenta e com o corpo pesado de cansaço.

— Agora? Anne, a gente acabou de acordar... eu tô com preguiça.

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