A primeira briga

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Já havia se passado três meses desde que Carol e Anne haviam começado a morar juntas. Nesse tempo, ambas já conheciam bem as características uma da outra, especialmente quando se tratava da famosa TPM. Anne se tornava extremamente preguiçosa e sensível, enquanto Carol sentia sua paciência, que já não era muito grande, sendo sugada. As mudanças de humor repentinas de Carol estavam cada vez mais frequentes, mas o que realmente a incomodava naquela tarde era outra questão.

Durante um jogo, Carol notou uma fã que estava na arquibancada, gritando o nome de Anne e a olhando com uma intensidade que a deixou inquieta. Essa situação despertou um ciúme que Carol não conseguia controlar. Assim que chegaram em casa, não pôde mais conter seus sentimentos.

— Anne, podemos conversar? — começou Carol, com um tom tenso.

— Claro, o que aconteceu? — Anne respondeu, olhando para a namorada com preocupação.

— Eu vi como aquela fã estava te olhando hoje — Carol disse, a voz levemente elevada. — Parecia que ela estava mais interessada em você do que em qualquer outra coisa.

— Você está brincando, certo? — Anne perguntou, surpresa. — Era só uma fã. Você sabe que eu sou comprometida.

— Mas você não viu como ela sorriu para você? — Carol continuou, a frustração crescendo. — Eu sinto que você não se importa com a maneira como isso me afeta.

— Carol, você realmente está me acusando de alguma coisa? — Anne questionou, cruzando os braços. — Eu não tenho culpa se as pessoas se sentem atraídas por mim. Eu estou aqui com você.

— Não é isso! — Carol exclamou, sua paciência se esgotando. — Eu só... Eu só gostaria de ser a única a receber essa atenção. Às vezes, sinto que você se esquece de mim quando está cercada por essas pessoas.

— Eu não estou te esquecendo! — Anne rebateu, levantando a voz. — Você precisa confiar em mim. Eu não fiz nada para te deixar insegura.

— É fácil dizer isso, mas parece que você gosta da atenção. Não sei como lidar com isso! — Carol respondeu, sentindo o coração acelerar.

— Você está sendo insegura! — Anne disse, a frustração visível em seu rosto. — Isso não é sobre você; é sobre o meu trabalho. Eu não posso simplesmente ignorar as pessoas que admiram o que faço!

— Eu prometo que não sou... — Anne começou, mas Carol a interrompeu, incapaz de conter o turbilhão de emoções que tomava conta dela.

— PROMETE? — Carol gritou, sua voz cortante. — Você sabe quantas vezes eu já ouvi isso? Quantas vezes alguém disse que me amava, que eu era a prioridade, mas, no final, fui trocada? — As palavras saíam de forma desordenada, o peito de Carol subindo e descendo rapidamente com a respiração acelerada.

Anne parou imediatamente, seus olhos se arregalaram com a intensidade da reação de Carol. Ela abriu a boca para responder, mas fechou em seguida, percebendo que nada que dissesse naquele momento iria ajudar. Com um leve aceno de cabeça, ela ficou quieta, observando Carol desabafar.

Carol, por outro lado, estava sendo invadida por lembranças dolorosas. A imagem de sua primeira namorada surgiu na mente, a menina que dizia exatamente as mesmas palavras: “Você é a minha prioridade, eu nunca vou te trocar.” Mas então, um dia, Carol descobriu que havia sido substituída por uma garota que seguia a ex-namorada em todos os seus jogos, uma "fã". A sensação de traição e impotência que Carol havia sentido naquela época voltou com força total.

O peso dessas memórias fez seu coração acelerar ainda mais, e, de repente, a sala parecia pequena demais, sufocante. Ela sentiu o nó na garganta se apertar, e as lágrimas começaram a se formar nos seus olhos.

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