Uma longa conversa

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Carol tinha acordado antes de Anne, então decidiu pedir à recepção que mandasse o café da manhã para o quarto. Elas iriam embora na noite do dia seguinte, e Carol aproveitou para arrumar as malas de ambas, separando uma roupa para Anne passar o resto do dia, que por sinal combinava com a sua. Quando Anne despertou, sorriu ao ver Carol terminando de arrumar as malas e ajeitando a mesa para o café. Ela se espreguiçou, foi tomar um banho e, ao voltar, se sentou junto a Carol.

— Meus pais querem conversar comigo… e te conhecer também — disse Anne com uma expressão de receio, sabendo que seus pais, especialmente sua mãe, nunca apoiaram seu relacionamento com Carol.

Carol, por sua vez, ficou animada, mas um pouco apreensiva. Sabia que o encontro com Irene, a mãe de Anne, não seria fácil, já que ela sempre se mostrou manipuladora e inflexível quanto à relação das duas. O pai, Teun, por outro lado, era mais compreensivo e apoiava a filha. Carol olhou para Anne com carinho, apertando sua mão levemente.

— Vai dar tudo certo, amor. Não importa o que aconteça, estamos juntas nessa.

Anne assentiu, um pouco mais tranquila, mas ainda havia um peso sobre seus ombros. Ela sabia que a reunião com seus pais seria difícil, especialmente com Irene, que sempre demonstrou desaprovação por seu relacionamento com Carol.

(...)

No caminho para o restaurante, a tensão no carro era quase palpável. O almoço seria em um renomado restaurante de comida holandesa em Bauru, um lugar escolhido por Irene para a ocasião. Anne segurava a mão de Carol enquanto ambas trocavam olhares silenciosos, tentando buscar força uma na outra.

Ao chegarem, Teun os recebeu com um sorriso caloroso e um abraço acolhedor, enquanto Irene manteve um semblante mais frio e reservado. Sentaram-se à mesa, e o clima, embora tenso, parecia controlado. Carol notou o olhar crítico de Irene sobre ela, e Anne, percebendo isso, respirou fundo antes de tentar suavizar o ambiente com uma conversa casual sobre os últimos jogos que ela e Carol tinham disputado.

— Vocês têm jogado muito bem — disse Teun, tentando quebrar o gelo. — Vi as últimas partidas, e o trabalho em equipe de vocês é incrível.

Carol sorriu, agradecida pelo elogio, e começou a responder, quando Irene decidiu fazer uma pergunta carregada de intenções.

— E a sua família, Carol? — Irene perguntou, ajeitando o guardanapo no colo, com o tom cheio de uma ironia velada. — Eles sabem dessa... escolha? E você tem planos para construir a sua própria família? Gostaria de saber como pretende fazer isso, já que, como uma mulher LGBT, deve ser um tanto complicado.

A pergunta caiu como uma pedra sobre a mesa. Anne, já tensa, apertou a mão de Carol sob a mesa, claramente incomodada com a provocação da mãe. Carol, porém, manteve a calma.

— Minha família sabe, sim, senhora Irene — começou Carol, mantendo um tom firme, mas respeitoso. — Eles me apoiam desde o começo. Claro, foi um processo de adaptação, mas hoje somos muito próximos. E sobre construir uma família... Anne e eu temos conversado sobre isso. Queremos, no momento certo, pensar em filhos, se for o que decidirmos. Sabemos que há desafios, mas estamos prontas para enfrentá-los juntas.

Irene, sem esconder seu desdém, rebateu imediatamente.

— Filhos? — repetiu, com uma risada sarcástica. — E como exatamente vocês planejam ter filhos?

Teun, percebendo o desconforto crescente, tentou intervir.

— Irene, talvez esse tipo de pergunta seja pessoal demais. Não precisamos entrar nesses detalhes.

Mas Irene não recuou. Seus olhos estavam fixos em Carol, esperando por uma resposta que pudesse desmontar.

— Existem muitas formas de formar uma família, senhora Irene — Carol respondeu, mantendo a compostura. — Podemos considerar adoção, inseminação ou até uma barriga de aluguel. O mais importante para nós é que nossos filhos cresçam em um ambiente de amor e respeito.

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