Meus pais

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A Superliga estava se aproximando de sua fase decisiva, e a expectativa pairava no ar. Hoje, o Sesi Bauru receberia o Praia Clube nas quartas de final. As jogadoras estavam imersas em um misto de ansiedade e determinação, cientes de que cada ponto poderia ser crucial para a conquista do título. As equipes se preparavam para um embate que prometia ser emocionante, e a pressão aumentava à medida que o horário da partida se aproximava. O ginásio estava repleto de torcedores, que compartilhavam da expectativa e do nervosismo, criando uma atmosfera eletrizante.

O primeiro set começou com uma intensidade palpável. As jogadoras se posicionaram, e o árbitro apitou, dando início à partida. Anne estava focada, mas, ao olhar para a arquibancada, seus olhos se encontraram com os de seus pais. A presença deles, que deveria trazer conforto, se transformou em um lembrete angustiante de sua infância. Ela se lembrou dos jogos de sua adolescência, onde cada erro era seguido por críticas severas, fazendo com que se sentisse pressionada a ser perfeita.

A lembrança foi como uma onda avassaladora. Seu coração acelerou, e a respiração começou a falhar. Ela tentava se concentrar no jogo, mas as memórias a cercavam, transformando o ginásio em um lugar opressivo. Em um momento de desespero, Anne caiu de joelhos no meio da quadra, lutando para recuperar o fôlego. O barulho da torcida se tornou distante, e tudo que ela conseguia ouvir era seu próprio coração batendo descontroladamente.

Carol, que estava posicionada perto da rede, percebeu a queda de Anne imediatamente. A preocupação se instalou em seu coração. Ela abandonou rapidamente a jogada e correu até a amiga, deixando o jogo de lado. O olhar de Carol era de pura preocupação e empatia. Ela se agachou ao lado de Anne, buscando seu olhar e oferecendo um apoio silencioso.

— Respira, Anne. Estou aqui com você — sussurrou Carol, enquanto segurava a mão da jogadora. A torcida e o jogo pareciam se desvanecer, e naquele momento, apenas a conexão entre elas importava. Carol guiou Anne a focar na respiração, incentivando-a a soltar o ar lentamente, enquanto tentava fazer o mundo ao redor parecer um pouco menos ameaçador.

Com o tempo, a respiração de Anne começou a se estabilizar, e a pressão em seu peito diminuiu. Ela olhou para Carol, que ainda a encorajava com um sorriso calmo. A intensidade do momento trouxe um novo ânimo a Anne, que percebeu que não estava sozinha. A equipe a apoiava, e a força que sentia ao lado de Carol era maior do que qualquer crítica do passado.

O jogo recomeçou, mas a ansiedade de Anne ainda a dominava. Ela tentava se concentrar, mas a pressão era esmagadora. A cada ponto perdido, a sensação de fracasso aumentava, e a lembrança de seus pais a observando só tornava a situação mais insuportável. Com o coração apertado e a mente turvada, Anne decidiu que era melhor se retirar do jogo.

— Eu não consigo — murmurou para Carol, a voz trêmula. — Preciso sair.

Carol assentiu, entendendo que, naquele momento, o bem-estar de Anne era mais importante do que qualquer partida. Com um gesto de compreensão, ela ajudou Anne a se levantar e acompanhou a amiga até a saída da quadra, enquanto o jogo continuava sem elas.

Os minutos seguintes se desenrolaram como um borrão. A equipe de Bauru, motivada pela torcida e pela ausência de Anne, ganhou confiança e se aproveitou da situação. O primeiro set terminou com uma vitória convincente para o Sesi Bauru. As jogadoras comemoraram, mas Anne se sentiu paralisada. O peso da culpa começou a se instalar em seu coração.

Sentada sozinha em um canto da arquibancada, com as pernas abraçadas ao peito, ela assistiu à celebração de sua equipe. A euforia dos colegas a fazia sentir-se ainda mais isolada.

— Se eu estivesse lá, poderíamos ter vencido — pensou, a autocrítica a consumindo. A ideia de que sua ausência havia contribuído para a derrota a fazia se sentir como um fardo.

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