Strength and sweat

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O sol de 40 graus do Rio de Janeiro já brilhava forte, mesmo às 5h40 da manhã. Anne despertou com um raio de luz incidindo diretamente em seu rosto. Virando-se na cama, sorriu ao ver a presença familiar ao seu lado. Carol estava deitada, parcialmente coberta pelo lençol branco, suas costas nuas reveladas. Para não acordar a companheira, Anne se levantou com cuidado, caminhando silenciosamente até o banheiro para seu banho matinal.

Ao sair do banheiro, secando os cabelos, se surpreendeu com Carol, que agora estava sentada no vaso, de pernas cruzadas como uma criança à espera de algo. Anne deu um leve sobressalto.

— Desculpa, não queria te assustar — disse Carol, soltando um longo bocejo. — Está mais calma para o jogo?

— Depois de passar a noite assistindo A Princesa e o Sapo, acho difícil não ficar — Anne respondeu, arrancando uma risada de Carol. — Droga, esqueci meu uniforme...

Com um sorriso brincalhão, Carol estendeu a mão e lhe entregou o uniforme da jogadora holandesa, que ela já havia pegado discretamente. Anne riu de alívio e gratidão, pegando o uniforme.

Carol saiu do banheiro, dando-lhe espaço para se arrumar para o grande jogo. Anne sabia que, se ganhasse hoje, teria a chance de competir diretamente contra Carol na final, já que a seleção brasileira já estava classificada. O pensamento a fez respirar fundo. Era estranho pensar que, em poucas horas, poderiam ser adversárias em quadra, mas, naquele momento, tudo parecia certo entre elas.

No ginásio lotado, a atmosfera era elétrica. O público estava animado, ansioso para assistir ao confronto entre a Holanda e Estados Unidos, um jogo decisivo que definiria o último finalista do torneio. Nas arquibancadas, uma seção reservada estava repleta de atletas, incluindo a seleção brasileira, já classificada para a final. Carol estava ali com suas companheiras de time, Fê Garay, Gabi e Roberta, todas de olho no jogo — mas especialmente Carol, que não conseguia desviar sua atenção de Anne.

As jogadoras brasileiras conversavam descontraídas, mas Carol mantinha o foco na quadra. De tempos em tempos, os olhares de Anne e Carol se encontravam, mesmo que brevemente, criando uma troca silenciosa entre elas. A tensão do jogo estava presente, mas havia algo além disso, uma conexão que transcendia as linhas da quadra.

— Ela está jogando bem hoje, hein? — comentou Roberta, notando a performance de Anne em uma defesa espetacular.

— Claro que está! Tem a melhor motivação possível — provocou Fê Garay, lançando um olhar malicioso para Carol, que apenas balançou a cabeça com um sorriso discreto.

Anne, por sua vez, concentrada no jogo, não conseguia ignorar a presença de Carol nas arquibancadas. Saber que ela estava ali a fazia querer jogar ainda melhor, dar tudo de si em cada ponto. E a cada movimento decisivo, como um saque poderoso ou um bloqueio preciso, seu olhar rapidamente buscava a reação de Carol.

No intervalo entre os sets, enquanto as jogadoras se hidratavam e ouviam as instruções dos técnicos, Carol decidiu caminhar até mais perto da área da quadra. Encostada na grade, ela observava Anne, que fazia alongamentos e parecia evitar olhar diretamente para ela, embora um sorriso sutil entregasse sua percepção.

— Você está indo muito bem — disse Carol, num tom firme, mas que só Anne conseguia ouvir.

Anne apenas lançou um olhar rápido e, em um movimento quase imperceptível, acenou com a cabeça, os olhos brilhando de determinação.

— Vamos ver como você vai reagir na final — Carol continuou, um toque de provocação na voz.

— Se eu chegar lá, você vai ter que me aguentar. — Anne respondeu, piscando um olho antes de se virar para voltar à quadra, onde o próximo set estava prestes a começar.

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