Além das Redes

The fight

– Ana Carolina, acorda! – Gabi entrou no quarto quase correndo, a voz carregada de urgência. – O Zé Roberto quer todo mundo no auditório em 15 minutos.

O aviso repentino fez Carolina pular da cama, ainda meio confusa. Ela não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas pegou o primeiro conjunto de moletom que viu e amarrou os cabelos num coque desajeitado.

– Mas por quê? – Carol ainda tentava entender a situação enquanto calçava o tênis. A resposta veio no áudio do treinador, cuja voz não estava em seu tom habitual. – Que estranho ele marcar uma reunião de emergência assim, do nada... – completou, com uma sensação crescente de ansiedade.

Ambas se apressaram para terminar de se arrumar e saíram em direção ao auditório. Quando chegaram, encontraram o técnico Zé Roberto com uma expressão séria que beirava o assustador. Nem Gabi, filha do treinador, lembrava de tê-lo visto tão furioso. Todas as jogadoras estavam lá, com exceção de uma: Sheila Castro.

– Estão três minutos atrasadas. Façam 30 abdominais, agora! – Zé Roberto ordenou, sem sequer olhar diretamente para elas.

Enquanto elas começavam a fazer os exercícios, o treinador ligou o projetor posicionado sobre a mesa. A tela logo se encheu de imagens e vídeos da festa da noite anterior.

– Acho que essas imagens valem mais do que mil palavras – disse Zé Roberto, com a voz firme e controlada. – Estou aqui para informar que TODAS vocês estão fora da seleção! Com exceção, claro, da Sheila, que não participou do incidente. – E, com essa declaração cortante, ele se retirou da sala, deixando um silêncio pesado.

– Espera, como assim? – Carol olhou ao redor, buscando respostas no rosto das companheiras, o tom de dúvida ecoando no ambiente.

– Foi ela, aquela desgraçada! – Thaísa levantou-se de repente, os olhos inflamados de ódio. Sem esperar explicações ou consolo, ela saiu da sala, determinada.

As outras jogadoras tentaram segui-la, mas Thaísa já estava disparada, seu alvo claro: Sheila. Sabia exatamente onde encontrá-la. Caminhou a passos largos pelos corredores até o alojamento, o coração batendo rápido no peito, mas não por ansiedade – era pura raiva.

Quando chegou, encontrou Sheila no refeitório, sentada tranquilamente, com um sorriso de satisfação no rosto, como se não tivesse uma preocupação no mundo. A visão da outra jogadora tão despreocupada fez o sangue de Thaísa ferver ainda mais.

– Você! – Thaísa gritou, atraindo a atenção de todos no local. Sheila apenas ergueu o olhar, o sorriso ainda no rosto.

– O que foi agora, Thaísa? – perguntou Sheila, desdenhosa. – Está nervosinha porque finalmente suas atitudes tiveram consequências?

– Nervosa? Você armou pra gente! – Thaísa avançou, sem conseguir mais controlar a fúria.

Sheila se levantou, cruzando os braços, como se estivesse preparada para o confronto. – Eu? Por acaso fui eu que decidi ir à festa e me comportar como uma idiota? – provocou, o sorriso cínico crescendo no rosto.

As palavras de Sheila foram o estopim. Thaísa não hesitou mais. Num impulso incontrolável, deu um empurrão forte na outra, fazendo-a cambalear para trás. Sheila tentou manter o equilíbrio, mas Thaísa estava fora de si. Ela avançou novamente, desta vez agarrando Sheila pelos ombros e a sacudindo com força.

– Você destruiu a carreira de todas nós, sua cobra! – gritava Thaísa, enquanto as outras jogadoras chegavam correndo para separar as duas.

Sheila, ainda com o sorriso no rosto, apenas revirou os olhos, como se a agressão de Thaísa fosse apenas mais um incômodo momentâneo. As companheiras finalmente conseguiram afastá-las, mas a tensão ainda pairava no ar, densa e sufocante. As jogadoras que seguravam Thaísa lutavam para conter sua força, enquanto Sheila, já recomposta do empurrão, ajeitava a roupa com a maior calma do mundo. O sorriso cínico nunca desapareceu de seu rosto, e aquilo apenas intensificava o ódio de Thaísa.