- Tão pequena e já viu tanta tristeza. - reclamei, roubando outra torrada.
Kristal - Acho que ela é mais forte do que aquilo que aparenta ser. Se fosse outra criança, chorava e desconfiava de tudo, ela não. É quieta e sabe quando não deve falar. É muito crescidinha a minha menina. - disse com orgulho nos olhos.
- Sai á mana, já viste? - disse na brincadeira, embora Kristal não tenha achado muito piada. - Estava só a brincar.
Kristal - Não estavas, porque é a verdade. - entregou me uma caneca com chá, sentando-se na mesa a comer comigo. - Por mais que tu já me tenhas perdoado, eu nunca me vou perdoar. Eu gostava de ter visto crescer até hoje Katherine, tal como o teu irmão.
- Podemos esquecer isso? Não quero estar sempre a pensar nessa altura miserável. - bebi um pouco de chá. - Por favor.
Kristal - Desculpa, tens razão. - sorriu.
Percebi que tentava tirar tais imagens que ocupavam a sua mente, e para ser sincera, aquilo também afetava bastante, mas o mais importante para mim, é que ela voltou, e trouxe-me uma mini eu. O resto é relativo.
Não vai ser fácil esquecer, pois foram anos de sofrimento., mas perdoar.. consigo.- Só tenho uma curiosidade.. - ela arqueou as sobrancelhas.
Kristal - Sei o que vais perguntar.. - desta vez foi a minha vez de arquear a sobrancelha. Como saberia ela o que ia perguntar? - A razão do teu irmão ter-te levado com ele?
- Ele era pequeno como saberia ele para onde ir, ou para onde iria me deixar?
Kristal - Numa noite, o teu pai saiu de casa, foi ao casino. Vocês estavam comigo em casa, víamos televisão, e eu ria me bastante com as figuras que tu fazias assim que o teu irmão brincava contigo. Vocês eram inseparáveis, logo quando nasceste, mesmo quando estavas na barriga, mesmo o teu irmão sendo pequeno, era muito inteligente. Ele punha as suas mãos na minha grande barriga, e beijava-a. - notei os seus olhos brilhantes. - "Estou cá fora á tua espera mana" era o que ele dizia sempre.
Fez uma pequena pausa, engolindo a seco.
Kristal - Numa noite, como estava a dizer. Enquanto estávamos a ver televisão, já era muito tarde, e vocês acabaram por adormecer.
O teu pai entrou em casa, super chateado pois tinha perdido todo o dinheiro, e para piorar estava completamente fora de si, bêbado. - ouvi que tinha engolido lágrimas, para as mesmas não escorrerem, nem mostrar parte fraca. - Ele gritava em casa, enquanto eu rezava para que ele não fosse agressivo, pelo menos na vossa presença, mas foi tudo em vão. Ele começou aos berros a dizer que a culpa era minha de ele ter perdido, pois ele antes dizia, que era o seu amuleto da sorte, e desde que vos tive deixei de ir com ele ao casino. - engoliu novamente. - O teu irmão foi o primeiro a acordar, e abraçou-se logo a ti. Meros minutos depois já eu estava no chão a ser puxada pelos cabelos até ao quarto. - uma lágrima escapou-lhe, limpando-a logo a seguir. - Eu tentei largar-me, pegar nas vossas coisas e irmos embora. Eu não estava mais para aquela vida, mas ao mesmo tempo, o teu pai era o homem da minha vida. - soluçou. - Eu só gritava "foge", "corre daqui para fora". O teu irmão era tão corajoso, ele pegou na tua mala, e em ti, saindo de casa. Eu tentei manter o teu pai "entretido" para vocês puderem fugir. - limpou a cara. - Estava nos meus planos ir-vos buscar, mas o teu pai não me deixava. Muita vez que ele me apontou uma faca dizendo que se eu saísse por aquela porta, matava-vos a minha frente. - chorou. - Ele estava doente. Ele está doente. - corrigiu. - Dias mais tarde, ouvi dizer que tinham família, e ia decidir não intervir, não vos queria pôr mais em sofrimento. - limpou a cara novamente.Dei por mim, com a cara completamente molhada, e as bochechas quentes.
Kristal abdicou da sua felicidade por nós. Eu pensara que ela me tinha abandonado. Por um lado talvez, mas para o que ela sofreu?! Ela é uma guerreira.
Levantei-me dando-lhe um abraço.- Eu amo-te mãe, apesar de tudo. - entreguei-lhe um beijo na testa.
Kristal - Eu também filha. Desculpa pela fraqueza da tua mãe. - abracei-lhe mais forte, acabando por me afastar, ainda agarrada aos seus braços.
- És uma guerreira, não uma fraca. Não merecias o marido que tinhas. - sorri, embora tenha sido bastante fraco.
- Então como nasceu a Karol?
Kristal - Um acidente. - arregalei os olhos. - Consequências de o teu pai bêbado. Forçou-me a ter sexo com ele, sem preservativo. Descobri que estava grávida semanas depois. - sorriu. - Mas não me arrependo de a ter tido. - falava da Karol. - Vocês os três, são as minhas estrelas. Preciso que vocês me prometam uma coisa.
- De experiência própria, quando uma pessoa utiliza "preciso que me prometas uma coisa" é porque não é nada de bom. - olhei-a preocupada.
Kristal - Vocês ficam unidos para o resto das vossas vidas. - afirmou. - Eu preciso de saber que vocês irão ficar unidos Katherine. A vossa irmã precisa de ambos. - olhou-me séria.
- Credo mãe! Parece mais uma despedida. - afastei-me dela.
Kristal - Não me chegaste a prometer.
________________________________Capitulo bastante emocionante, eu própria emocionei-me ao escrever.
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