Boca

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O que é que eu ia fazer? Ia perder minha virgindade, mas eu estava tão segura que era aquilo que eu queria... Eu acho que... Eu acho que amo ele.

[...]

Acordei com um barulho irritante, abri os olhos e vejo o João com o celular na mão.

-Desculpa, princesa, tenho que ir trabalhar. -Falou ele e bocejei.

-Tudo bem, eu tenho que ir pra casa. -Falei coçando meus olhos.

-Ah não, fica. -Falou ele manhoso e eu ri.

-Eu tenho uma casa, João Pedro. -Falei e ele revirou os olhos.

-Eu também. -Ele falou e ri.

-João, eu tenho que ir pra casa, amanhã eu tenho aula e tenho que acordar cedo. -Falei me levantando e colocando minha roupa, e ele já estava quase pronto.

-Qual a chance de você faltar na aula manhã? -Ele perguntou amarrando o tênis e eu coloquei minhas sapatilhas.

-Nenhuma, não vou faltar. -Falei arrumando meu cabelo, ele passou desodorante e perfume e veio na minha direção, descemos as escadas.

-Então a gente pega roupa pra você, uniforme ou qualquer coisa e você dorme aqui. -Ele falou e pensou um pouco. -Tipo... Pra sempre. -Completou ele sorrindo e ri.

-João, seus pais já devem estar me xingando, eu vivo aqui. -Falei.

-Lógico que não. -Levei um susto com Diego falando atrás de mim.

-Ai, nossa que susto, mano. -Falei e eles riram.

-Você é sempre bem vinda aqui em casa e no morro também. -Falou Diego e sorri.

-Obrigada Diego, mas eu não quero incomodar.

-Isa, o João incomoda mais que você. -Ele falou e eu e ele rimos, João me mostrou a língua.

-Mas de verdade, amanhã eu tenho aula, não quero incomodar vocês...

-Nada disso, está resolvido, manda fazerem suas coisas que você vai dormir aqui, e nem vem com essa de 'eu incomodo' você não incomoda e é bem vinda aqui, então nem tenta, agora você liga pra alguém fazer isso e entregar na portaria que um vapor vai buscar e você vai passar o dia comigo. -Falou João me abraçando e dei um sorrisinho tímido.

-Tá, mas se eu estiver incomodando, é só falar. -Eles assentiram e começamos a comer o que o Diego fazia.

Terminamos de comer e subimos pra escovar os dentes, depois peguei meu celular e ele o dele, ai descemos e eu liguei pra empregada lá de casa e mandei ela fazer uma mochila e ainda a minha mochila da escola. Chegamos na boca, João ficou um pouco pra trás e eu fui logo entrando, mas meu sorriso murchou, todos me encaram, eles me olham de cima a baixo, como se fossem me estuprar. Me encolhi e dei um passo pra trás.

-Olha só, o que faz uma menina tão gostosa aqui? E ainda mais sozinha? -Perguntou um cara se aproximando, eu fui indo pra trás com medo, mas trombei em alguém, me virei rápido com o susto, mas logo vi o JP que encara o cara e todos os outros com raiva.

-Quem falou que ela tá sozinha? -JP perguntou nervoso, todos fecharam a cara e o cara que tava quase me tocando foi pra trás.

-Foi-foi mal, eu não sabia que você tinha uma nova, desculpa. -Falou ele e João Pedro deu um passo pra frente.

-Ela não é "uma nova" ela é A fiel. -Ele falou irritado. -Eu quero que todos escutem, essa é a Isabella! Minha fiel! Se algum de vocês mexer com ela, vão se ver comigo! Espalhem para o morro e pros outros morros! Hoje a noite tem baile pra comemorar a conquista do morro da Urca e a minha fiel. -João falou e estendeu a mão pra mim.

Peguei a mão dele e logo fomos para o escritório do Diego.

-Se alguém mexer com você, você me falar, ouviu? -Ele perguntou nervoso.

-Calma, JP.

-Você ouviu o que eu falei? -Ele perguntou grosso.

-Ouvi, João Pedro, e você? Ouviu o que eu falei? -Perguntei.

-Calma, Isabella? É por isso que eu não trago você aqui, eles são animais, se eu não estivesse chegado, você estava fodida, literalmente. -Falou ele e me aproximei dele, pegando seu rosto.

-Mas você estava lá, e me protegeu. -Falei e ele suspirou.

-Desculpa ter sido grosso, é que eu não imagino alguém te machucando, ainda mais no meu morro. -Ele falou e deu um beijo na minha testa. -Agora você está mais segura, então desce lá e pede uma paranga de dez. -Ele falou e assenti, desci as escadas e fui com aquele cara que me ajudou em uma invasão que teve.

-Oi Isa... Digo, Patroinha. -Ele falou e dei uma risadinha.

-Patroinha? -Perguntei e ele assentiu.

-Tem a Patroa que é a mulher do BBoy e tem a Patroinha que é a fiel do JP, você, no caso. -Ele explicou e me sentei em uma cadeira ali do lado.

-Qual a diferença de Fiel e Mulher? Tem tipo uma escala? -Perguntei e ele riu assentindo.

-Tem "a nova", que é a peguete ou ficante fixa, tem a "fiel" que é a namorada, tem a "mulher" que é a mulher, tem a "Tala" que é talarica, tipo a amante. -Ele explicou e eu assenti.

-Então eu sou a Fiel do JP? Pq não falam namorar? -Perguntei.

-Porque "namrada" é gíria do asfalto. -Falou ele e assenti. -Mas você é fiel agora, antes de ser fiel, você era a Mina do JP, todo mundo sabe quem é você. -Falou ele e o encarei confusa.

-A Mina? Como assim?

-É, e você tem que se sentir orgulhosa com isso.

-Por quê? O que é ser a Mina de um traficante? -Perguntei mais confusa e agora curiosa.

-Primeiro que o JP não é um simples traficante, ele é o JP. Segundo que são poucas meninas que podem ter esse nome nas costas, e você é a mais foda, como dizem pelas quebradas. -Ele falou e ai que eu fiquei mais curiosa ainda.

-O que é ser a mina de alguém? -Perguntei e ele deu um sorrisinho.

-Pergunta pro JP. O que você deseja? -Ele perguntou.

-Uma paranga de dez. -Falei e ele assentiu me dando um pacotinho com a erva, agradeci e subi com a expressão curiosa e confusa.

-Tá tudo bem? -JP perguntou me olhando. -Demorou. -Ele comentou e eu sentei na frente dele.

-O que é ser a mina de alguém? -Perguntei e ele arregala os olhos e vejo suas bochechas começarem a tomar um tom avermelhado... Ele está corando?!!!!

Aconteceu 1: Me Apaixonei Pelo Herdeiro do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora