27 centímetros! Isso não pode ser real. Eu lavava a louça e só pensava nos 27 centímetros. Ele devia estar enganado. Ou mentindo. Homens mentem em tudo. Vai ver tinha uns 20 e ele aumentou alguns centímetros. Ou o metro dele era diferente dos que eu conheço. Quase saí a procura de um metro ou uma régua para ver de perto quando dava 27 centímetros.
Na manhã seguinte o tempo virou bruscamente. Eros não estava de bom humor. Preparei o café da manhã e fiquei espiando ele de longe enquanto colocava as roupas sujas na máquina de lavar roupa.
Por dentro uma ansiedade enorme me corroía. Queria que ele se levantasse, viesse até mim e pegasse na minha mão. E então eu seria sua. Só sua. Passei a noite anterior abraçada ao meu travesseiro sonhando com seu cheiro. Seu corpo musculoso. Seus vinte e sete centímetros. Só pensava nele. No seu sorriso. Na sua boca. Nos seus olhos. Até nas suas orelhas. Estava totalmente apaixonada. Uma idiota sonhadora.
A bebê dormia enquanto na televisão passava galinha pintadinha. E eu ali feliz. Sonhando com o meu chefe. Lembrava como ele parecia ser insuportável e depois fascinante. Uma mistura de ódio e tesão. Tinha medo de fazê-lo se afastar de mim. Vai que eu o magoasse ou falasse alguma bobagem. Ou que ele me visse apenas como mais uma dessas garotas.
Minha respiração até trancava enquanto esperava ansiosa pelo contato dele. Mas ele estava frio. Seus olhos não saiam do jornal. Sua mão não soltava a xícara de café.
Não me contive. Tinha que falar com ele. Eros era meu exigênio. Eu precisava ouvi-lo nem que fosse reclamar.
- Aposto que está olhando o horóscopo. E aí? É hoje que você vai encontrar o grande amor da sua vida.
Eros deu uma gargalhada tão gostosa que meu coração chegou a inflar de alegria.
- Na verdade olhava economia. - ele virou seu rostinho lindo para mim. Eu continuei enfiando as roupas na máquina. Por um segundo fiquei tentada de roubar uma cueca suja sua. Para dormir abraçadinha de noite.
- Que emocionante! - fui sarcástica. Percebi que ele adora sarcasmo. Fiz uma cara de enjoo.
- Preferia que fosse pornô? - já estava todo abusadinho de novo. Nem parecia o mesmo homem de segundos atrás. - Se quiser a gente pode subir lá em cima. Eu não sou muito fã, mas por você eu posso até assistir uns. Prefere com pipoca doce ou pipoca salgada? - ele ria. - Pra acompanhar na nossa sessão. Tem um tela de cinema lá em cima. Aposto que é bem emocionante. - ele rebatia com mais sarcasmo ainda.
- É uma pena, mas hoje tenho que passar pano pela casa. E parece que ela tens alguns quilômetros quadrados. - fechei a tampa da máquina e apertei o botão de ligar.
- Se você passar pano pelada eu te pago o dobro.
- Como se atreve. - entrei na brincadeira. - Três segundos e estaria no banheiro batendo punheta. - ecurvei meu corpo para trás. A cabeça pra frente. Fechei o dedo indicador com o polegar. Dobrei o resto dos dedos com o indicador. E os balancei em frente a minha cintura. Como se estivesse batendo punheta. Ainda puxei os lábios da boca para baixo, franzi a testa e gemi.
Eros deu uma gargalhada tão alta que reverberou pelos cômodos da casa.
- Ei??? Isso é uma punheta ou um avc? - ele se engasgou gargalhando. - Venha até aqui. Sente-se.
Eu lavei as mãos tirando os vestígios de sabão em pó, sequei na toalha de louça e puxei a cadeira do lado de Eros. Fez um leve barulho as pernas da cadeira arrastando. Então eu sentei.
- O que o senhor deseja?
- Companhia. Será que posso ter o prazer da sua companhia.
- Posso lhe oferecer minha companhia apenas por 15 minutos. - pisquei os olhos várias vezes bem charmosa para ele. Não me contive e fiz um biquinho com a boca. - Agora, sem brincadeiras. Me conte o que está acontecendo.
Ele pôs o jornal de lado.
- Nada de mais.
- Hummmm. Seiiii.
- Tá bom! Tá bom! Minha família está vindo aí. Os resultados do balanço da empresa não estão perto, do digamos, ideal. E minha mãe me ameaça empurando candidatas para futura nora em troca de não me tirar da direção da empresa. Família, né!?
- E não há nada que possa ser feito? - ele realmente parecia lascado. Balançava o rosto de um lado pro outro.
- Eu pensei em dar chumbinho (veneno de rato), mas homicídio ainda é crime neste país.
- Aí que horror!
Eros deu uma gargalhada.
- Sua mãe é tão difícil assim? - estava muito curiosa.
- Ela é. - ele inspirou fundo.
La fora raios iluminavam a escuridão do céu.
- Nós podíamos fazer um acordo. - ele estava sério.
- Qual? - minhas mãos suavam. Meu coração palpitava forte. Ele não tirava os olhos de mim. Sua mão pegou na minha.
- De tentar.
- Tentar o quê? - queria que ele dissesse o que desejava. Mesmo já sentindo o que seria. Tinha vojtade de gritar sim. Mas a vida me ensinou a não se jogar de cabeça. Da última vez acabei grávida e criar filha sozinha sem dinheiro ou estrutura me fez chorar noites seguidas em desespero.
- Se eu pedir promete não rir na minha cara? - Eros falava tão devagar que as palavras pareciam se quebrar em sílabas. Havia um sorriso tímido nos seus olhos.
- Peça. Melhor botar pra fora do que segurar pra dentro. O mundo não acaba quando a gente recebe um não.
- Talvez o meu acabe se eu receber um não. - ele pisava em ovos. - Tenho medo de perder algo precioso.
- Ó meu Deus. E o que seria tão precioso assim? - minha pressão estava caindo.
- Você! - foi tão inesperado que me pegou de jeito.
- Ahh. Você é todo sarcástico mesmo. O que iria querer com uma pessoa como eu?
- Por enquanto eu só quero uma coisa de você. Só uma coisa.
- O quê? - fui ríspida.
- Um beijo.
Senti meu coração parar. Meu corpo fervendo. Não conseguia me mexer. Por dentro eu tinha vontade de confessar. "Eu também, Eros".
- Isso vai acabar em merda. Um patrão com sua empregada. - eu parecia minha mãe resmungando.
Eros se levantou da cadeira. Ela fez um barulhão. Eu me levantei também. E ele veio com tudo pra cima de mim.
Seus braços se envolveram ao redor da minha cintura.
- Eu não me importo. - Eros inclinou-se contra mim. Sua boca se abriu. E fechou sobre a minha. Sua língua invadiu-me. E eu fechei os olhos. Por dentro eu só pensava "Isso vai dar merda!". E por dentro eu também pensava "Me possua, Eros!"
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Eros
RomanceDepois de um casamento fracassado e uma gravidez não planejada, agora Tatiana aceita qualquer emprego para sustentar a sua filha. Ela é só mais alguém no mundo tentando neste momento sobreviver e seguir em frente. Depois de ser traída pelo pai de su...