Uma nova Cinderela (parte 36)

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A champagna descia fácil pela garganta. Amarga. Mas eu estava adorando. Eros colocava morangos na minha boca e eu os mastigava. A cada curva que a limousine realizava nossos corpos se unindo e se segurando. Eros insistia para eu beber mais.
- Isso aqui é amargo. Minha mãe comprava umas cidras no ano novo. Adorava. - Eros me segurava abraçadinho para não me deixar cair. O vento da noite assoprando meu rosto. - Isso aqui é muito bom. Poderia ficar aqui com você a noite toda. - eu estava ficando rouca de gritar. Só nos berros para que ele conseguisse me ouvir.
- Vamos nos sentar um pouco.
Nos abaixamos e o teto solar fechou. Eu deitei sobre o banco com a cabeça repousada no colo de Eros. Ele ajeitava meus cabelos.
- Você é linda! Sabia?
- Você é um galanteador. Aposto que dizia isso para todas.
- Como você sabia?
- Está nos seus olhos, meu amor. Está preso na sua pele. O irresistível Eros.
- Gostei do irresistível.
- Eu estou com fome. Me alcança aquelas balinhas.
Eros observou pela janela.
- Já estamos chegando. Melhor comer lá. Não quero você sem fome.
- E vai ter o que para comer? Sabe o que eu tenho vontade de comer agora? - a bebida me deixava mais desinibida. Alegrinha também. E relaxada. Muito relaxada. - Estou com vontade de comer sopa.
- Deve ter alguma no cardápio do restaurante. - o veículo parou de se movimentar. - Chegamos.
Eros segurou minha mão para se levantar. A porta abriu. O chofer estava parado do lado de fora, esperando nossa saída.
- Aí. Obrigado, tio. Foi top! - eu fazia sinal de joinha para ele. Eros segurava minha mão.
À primeira vista, o restaurante era um estabelecimento comum. Tijolos à vista. Portas grandes de madeira. Pedras rústicas no piso. Mas ao subir as escadas e chegar ao segundo andar os olhos se enchiam com tanta beleza. Uma área aberta com pergolado e muitas flores e pequenos feixes de luz. Velas sobre as mesas. A recepcionista estava toda sorridente. Disse a Eros que poderia escolher qualquer mesa. Um rapaz de terno tocava músicas populares no piano. Apenas instrumental. Músicas românticas como do coldplay ou adele. Muito lindo. No fundo atrás de uma parede de vidro os cozinheiros trabalhando.
Eu caminhei a passos largos até a sacada. Lá no fundo o mar quebrando.
- Quero sentar aqui. Nessa mesa. Quero jantar olhando o mar.
- Está bem. - Eros levantou o dedo e apontou para a mesa. O garçom já se aproximava.
Era estranho estar o restaurante vazio. Mas depois de alguns minutos parecia muito agradável. Lá em baixl na rua a limousine estava estacionada. Casais e famílias passeavam aproveitando o calor e a noite de lua cheia.
- Você tem alguma ideia do que deseja comer? - Eros puxou a cadeira para mim.
- Tem caipira? De morango?
O garçom levantou as sobrancelhas chocado com meu pedido.
- Tem tudo que você quiser. - Eros devolveu os menus. - Não é impossível de conseguir algumas caipiras de morango. - o garçom apenas colocou os menus embaixo do braço.
- E a senhorita deseja jantar?
- Sim. Estou varada de fome. - eu continuava fascinada com a vista. Lá embaixo um homem de casacão e chapéu parecia se aproximar do nosso chofer. - Que estranho aquele homem de casacão num calor desses.
- Do que você gosta, Tati? - Eros já estava bebendo um vinho branco.
- Gosto de pizza. Tem pizza.
- Sim, senhorita. - o rapaz parecia desvia o olhar do meu decote. - Algum sabor em especial?
- Todos. Vamos comer um rodízio então.
Eros erguia as sobrancelhas, parecia se divertir.
- Faz um tempão que não vou a um rodízio. Nunca imaginei que fosse jantar pizza com você hoje. Tati, você é realmente surpreendente. - ele passou as mãos por cima da mesa e segurou as minhas. Na cozinha o forno à lenha funcionava a toda força. - O garçom não tirou os olhos de você.
- E a recepcionista da sua bunda. - retruquei.
- É que você é muito gostosa.
- Sou mesma. - fiz um biquinho para ele e depois sorrio.
- Agora vamos aproveitar que eu não posso te deixar nua aqui e te chupar todinha para conversar. Como está lidando com a sua futura sogra?
- Ela é um doce. - fingi um sorriso e engoli um gole da caipira. Nem percebia o garçom chegar até a mesa de tão silencioso e discreto que ele era. Quando me virava de lado, as taças já estavam cheias novamente. - Ela é difícil mesmo. De todos os seus parentes, ela é a mais complicada.
- Nós podemos resolver este problema. É só contar para ela. - Eros bebericava da nossa caipira. - Talvez ela passe mal. Ameaçe me tirar a empresa. Mas passa.
- Ela me contou sobre o seu passado. - senti Eros ficar tensionado. Ele tentava fingir normalidade.
- E o que ela te contou? - Eros mexia a colherzinha no fundo da caipira.
- Ela disse que você se apaixonou por ela. Que ela era empregada de vocês. Que foi injusta com você.
- Ela foi mesmo.
- E você a perdoa?
- Perdoar é algo difícil. Não sei se usaria esta palavra. Eu me adaptei. Essa é a minha realidade.
- Eu só queria te entender melhor. Eu tenho medo de tocar em pontos sensíveis de você. Eu te amo. E eu sinto que você é muito frágil. Eu sei que por trás desse homão gostoso, poderoso, pirocudo, existe uma pessoa magoada com a vida. E eu não te condeno. Me deixa te entender melhor.
Trouxeram as pizzas. Vários sabores. Já coloquei 4 pedaços no meu prato. Eros também encheu o seu patro.
- Ainda é difícil para mim. - Eros tentava ser o mais gentil possível comigo. Eu não queria fazê-lo se sentir mal. Só que eu precisava entendê-lo. Saber qual eram os seus segredos, seus medos, para vê-lo por completo. - Mas eu prometo tentar ser o mais transparente possível. Não há uma fórmula mágica para superar. Provavelmente eu nunca vá superar, mas eu estou aqui seguindo em frente.
- Eu te admiro muito. Você não sabe o quanto me sinto sortuda por estar ao seu lado. Entre tantas pessoas no mundo, justo eu. Aqui. Sentada na sua frente. Comendo pizza com um homem maravilhoso. Um príncipe de verdade. Um homão do caralho.
- Assim você me deixa sem palavras. Vou acabar viciado nos seus elogios também. - nós dois rimos juntos.
- Você me acha parecida com ela?

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora