Eros guardou o pau dentro da sunga. Eu me recompus e descemos as trilhas dentro do matagal à passos largos. Senti uma leveza ao ver o mar mais uma vez.
- Nossa! Foi muito doido! - confessei.
- Foi sim! - Eros me beijou e continuamos caminhando pela praia. - Vamos voltar para a casa de praia?
- Vamos! Eu preciso de um bom banho. Olha só o meu cabelo!
- Somos dois. Eu também estou podre. Preciso descansar um pouco.
E caminhamos pela praia até voltar a nossa lancha. Lancha do Eros, digo.
Ao entrar na lancha e sentar ao lado de Eros, enquanto ele ligava o motor e se afastava senti meu corpo cansado se esparamar.
- Não sei se estava preparada para aquela loucura de antes. Mas não me sinto arrependida.
- Eu acho que estamos apaixonados demais para desejar outro corpo. Eu fiquei pensando. Se visse algum homem encostar no seu corpo eu enlouqueceria de inveja.
- Eu também.
- Então nada melhor do que continuarmos nosso relacionamento old school monogâmico.
Nos olhamos e rimos de nervoso.
- Você tinha que ver a sua cara, Eros! - eu tentei reproduzir os olhos arregalados dele.
- Vou confessar. Muito doido. Levamos como uma experiência. Você poderá contar isso para os seus netinhos.
- Jamais! - me levantei e abracei seu corpo por trás. Eros controlava a lancha.
Fícamos abraçados por alguns segundos.
- Ei? Você quer pilotar um pouco?
- Mas eu não sei.
- É fácil. Venha! Pegue aqui.
- Eu segurei no controle da lancha e empurrou o controle para o lado esquerdo delicadamente.
- Vê? Assim vai para a esquerda. - e depois virou o controle para o outro lado. - Para cá para a direita. E aqui desliga. Vê como é fácil.
Eros soltou as mãos e deixou eu sozinha segurando o controle.
- Você é doido, Eros! E se eu bater em alguma coisa?
- Bater no que? Tem nada na frente.
Depois de alguns minutos me acostumei. Era muito divertido.
- Agora enquanto você pilota podemos pensar no que faremos hoje de noite. Eu pensei em ir em algum restaurante. Mas como da última vez você quis comer pizza. Estou sem ideias.
- Eu não sei. Poderíamos pedir algo para comer e ficar na casa de praia. Quero aproveitar o momento e ficar sozinha com você. Eu sei que isso vai parecer estranho. Mas queria não ter que te dividir com ninguém. Você entende? Não ter ninguém nos olhando. Algo mais calmo. Podemos assistir um filme. Eu posso cozinhar para você. O que acha?
- Acho interessante. Você quer treinar a nossa futura vida de casados.
- Adoraria. Eu cozinho uma lasanha hoje e podemos assistir um filme depois. Beber algo. Conversar e amanhã de manhã você pode cozinhar para nós.
- E o que a senhorita gostaria que seu noivo cozinhasse?
Não percebi. Mas enquanto falava eu soltei os controles e Eros assumiu a lancha.
- Um churrasco? Sabe fazer churrasco?
- Sim. Sei. Meu vô fazia todo final de semana. Todo domingo. Eu gostava se sentar do lado dele e vê-lo virar os espetos.
- Nós podemos também assistir um filme romântico e você sabe.
- E se eu quiser o "você sabe" antes do filme?
- Tudo é negociável. - beijei sua bochecha. - E então? Topa?
- Topo, sim. Estou cansado de ficar pelado por aí. - eu amava quando Eros fazia piada de si mesmo.
Lá no fundo da lancha um som familiar veio até nossos ouvidos.
Eu tentava decifrar do que era o barulho.
- É o seu celular.
Fui rápida atendê-lo.
- Alô? Mãe? O que houve?
- Ah...oi...Tati. Eu não sei o que dizer. Eu estou no hospital com seu pai e a Larissa. Eu fiquei meio assim de ligar. Não queria atrapalhar sua viagem. É a primeira vez que você e o Eros saem de viagem. E você não se diverte muito. E eu não queria atrapalhar. Mesmo!
- Mãe! O que que aconteceu?
- A Larissa estava com febre e eu dei diclofenaco mas não abaixava. E estamos aqui esperando a vez dela de ser atendida. Eu acho que é só dor de garganta. Eu falei para o seu pai que iria ligar pelo menos para avisá-la, mas não queria te assustar. Parece que é nada demais. Uma gripe ou tosse. Ou talvez virose.
- E vocês estão aonde?
- No posto. Ela já vai ser atendida pelo pediatra. Já estamos esperando há quase uma hora.
No fundo ruídos e vozes. Eu consegui decifrar a voz da Larissa pedindo se era a mamãe. Meu coração ficou apertado.
- Mãe. Passa o celular para a Larissa.
- Larissa. Sua mãe quer falar contigo. - eu ouvi a voz longe da minha mãe.
- Mãeee! Mãeeee! Me traz um presente! Cof! Cof! - a voz dela estava rouca. Ela tossia como adulto.
- Larissa! Diz pra mãe o que você sente.
- Dói garganta! Traz brinquedo!
E ouvi um estouro na ligação.
- O celular caiu no chão. Ela derrubou. - minha mãe estava impaciente já. - Eu só liguei para avisar, mesmo. Não se preocupa. Aposto que vão dar algum antibiótico e mandá-la para casa. É coisa normal de criança.
- Eu entendi. Mas... - meu coração estava aflito. Eu me sentia culpada. E se acontecesse algo?
- Vamos fazer assim. Eu vou te avisando por mensagem como estão as coisas e qualquer coisa te ligo. Pode ser?
- Está bem, mãe. - por dentro me doía dizer isto.
- Agora me diz. É lindo aí? Vocês fizeram o quê?
- Estamos andando de lancha agora. Voltando para a casa de praia.
- Lancha? Lancha? Aqueles negócios que ficam no mar e andam sobre a água?
- Isso mesmo, mãe.
- Aí que chique! Meu Deus! Eu nunca andei de lancha! Você pode tirar umas fotos e mandar para mim. Quero te ver nessa lancha!
- Aí, mãe!
- Vá! Tire fotos lindas. Tire fotos de tudo. Alegre a sua mãe aqui.
- Está bem. Mas não vá colocar no facebook ou nos grupos de whats da família.
- Prometo que não. - ela sempre promete e posta as fotos em segundos depois que eu mando.
- Diga para a Larissa que eu amo ela. E que ela pode ligar a qualquer hora.
Amo vocês, mãe. Manda um beijo para o pai.
- E você não se preocupe. A Larissa está bem. Parece que a febre até já baixou. Aproveita aí! E tira muitas fotos. Tira fotos da lancha!
- Está bem. Te amo.
- Também. - e a ligação foi encerada.
Eu voltei para a cabine com Eros. Ele não falou nada mas estava curioso para saber quem era.
- Era minha mãe. A Larissa está gripada. Estão no posto. Ela logo vai ser atendida por um pediatra.
- E ela está bem?
- Ao que parece. Está bem.
- Vamos voltar então para casa. - Eros foi enfático.
- Mas você programou tudo isso. E é nosso primeiro final de semana juntos. Juntos de verdade.
- Tati. - Eros olhou no fundo dos meus olhos. - Eu sou adulto suficiente para saber que uma mãe nunca ficará tranquila enquanto não tem certeza que seus filhos estão bem. Fim de semana? Nós teremos todos ainda pela frente. Então vamos voltar.
- Me dói o coração fazer isso. Queria ficar com você.
- Eu sei. E sei que sua filha vem em primeiro lugar. Eu não conseguiria sair ou fazer qualquer coisa sabendo que sua filha não está bem ou pode precisar de você. Então é isto. Nós vamos voltar.
- Eu não sei o que falar. Obrigada. Obrigada por entender.
- Eu não fiz nada além da minha obrigação. E eu estou com saudades da sua família. Da Larissa e dos seus pais. Em breve viajamos de novo. - Eros deu um beijo na minha testa. - Te amo. - ele sussurrou.
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Eros
RomansaDepois de um casamento fracassado e uma gravidez não planejada, agora Tatiana aceita qualquer emprego para sustentar a sua filha. Ela é só mais alguém no mundo tentando neste momento sobreviver e seguir em frente. Depois de ser traída pelo pai de su...