Uma nova Cinderela (parte 64)

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Eu senti o corpo de Eros cair sobre o meu. Eu tentei lhe segurar, mas com o peso nós dois fomos ao chão.
- EROS! EROS! EROS! EROS! - eu gritava e chorava. O som da polícia e de ambulância ficava mais forte. O homem sem máscara fugiu.
Fícamos eu e Eros alí no carpete do escritório.
- EROS! EROS! EROS! EROS! RESPONDE!
Muito sangue escorria pelo tapete criando uma grande poça vermelha e espessa.
- Eros por favor responda! Eros! - eu dava tapinhas de leve no seu rosto. Havia muito sangue pelo chão. Sangue nas minhas mãos.
Eros gemia e respirava fundo.
- Está doendo muito. - ele respirava fundo e gemia. - Eu não sei se vou aguentar.
- Não fala isso, Eros! Não fala isso! - lágrimas escorriam do meu rosto e caíam sobre ele. Meu lindo Eros. - Você vai viver até os 100 anos. Você vai ver. Nós vamos ter muitos filhos. Vamos morrar numa casinha na beira da praia. Vamos ver o sol nascer todo dia. Até o final da nossa vida. Nem que eu tenha que te empurrar numa cadeira de rodas. Então não diga que você vai morrer. - eu não sabia o que fazer. Era muito sangue. Eros revirava os olhos. Parecia não conseguir respirar. Ele estava se indo.
- Tati. Pega na minha mão. - eu segurei a sua mão firme. - Me desculpas! Me desculpas! Eu fui um idiota.
- Eros, não fala isso. Não diz isso. Por favor! Eu que te peço desculpas por ser teimosa. Se eu sobesse o quão idiota foi brigar com você e ficar longe de você. Eu te amo. Eros. Eu te amo. Você vai viver até os cem anos. Você não vai morrer aqui no seu escritório. Você vai morrer na sua cama quentinha. Dormindo. Você merece isso, Eros. Por favor, Eros eu não sei mais viver sem você. Fica comigo! - eu não enxergava mais nada, eram tantas lágrimas.
- Você está grávida mesmo?
- Siiiimmm - eu quase gritei. - Eu estou grávida.
- Aí, Tati. Você mesmo aqui desse jeito você me fez o homem mais feliz do mundo. - ele tentava manter os olhos abertos.
- Eros! Eros! Eu te amo! Fica aqui comigo! Fica por mim! - mas ele já não estava acordado. Seu corpo estava mole. Havia sangue por toda parte. - SOCORROOOOOOOO! - Eu puxei todo ar do fundo do pulmão. - SOCORROOOOOOOOO! - Ninguém respondia. Não tinha chegado ninguém.
Eu coloquei a sua cabeça sobre meu colo. Minhas pernas estavam estendidas como um travesseiro.
- Socorro. Socorro. Socorro. - eu já não conseguia gritar. - Eros eu estou aqui. Eu estou aqui. - eu beijava a sua boca. As pálpebras fechadas. As lágrimas salgadas molhando minha boca. Eu dava vários beijos. Desesperados. - SOCORROOOOOOOO! - eu poderia deixá-lo ali e ir buscar ajuda, mas eu não tinha coragem. Seus dedos já não apertavam a minha mão. Ele já estava totalmente apagado. - SOCORROOOOOOOO!
- TEM ALGUÉM AÍ? TEM ALGUÉM AÍ?  - alguém usava um megafone na sala.
Eles tinham chegado.  Eu não estava acreditando. Eu rasgei meu pulmão.
- AQUIIIIIIIII! AQUIIIII! NO ESCRITÓRIO! SOCORROOO!
Vários  passos vieram até nós dois. Ao ver o policial na porta do escritório eu não consegui contir as lágrimas e o choro. Eu soluçava.
- Salva ele! Salva ele!
O policial ficou chocado com a cena que presenciava e começou a gritar.
- Os bombeiros! Uma maca! Rápido! Tem um homem baleado! Uma moça também! Rápido! Tem muito sangue! Rápido.
- Salva ele! Salva ele!
Vários policiais e bombeiros entraram no escritório. Tiraram ele de cima de mim e o colocaram na maca.
- Ele tem ainda sinais vitais? - uma paramédica falava com outro.
- Alguma coisa. Mas não por muito tempo.
Carregaram Eros para fora da mansão. Eu queria ir junto com ele. Mas os policiais me seguraram.
- Acalme-se senhora. Ele está sendo levado para o hospital.
- Eros! Eros! - eu sussurrava. - Me deixa ir com ele.
- Senhora. Qual é o seu nome? Você está ferida.
- Tatiana. Eu acho que não. Me deixa ir com ele.
- A senhora tem que ser verificada por um paramédico. Por favor não se mexa. Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance.
- Ele vai morrer.
- Senhora. Deixe te avaliarem. Por favor.
O barulho da ambulância se afastava. Eles estavam levando Eros embora.
- Senhora. Senhora. Me conte o que aconteceu.
- Foi um assalto. Eles bateram nele. Espancaram Eros. - lágrimas jorravam desenfreadas do meu rosto. - Me leva até o hospital onde levaram ele. Por favor! Por favor!
- Ela está como? - perguntou o policial ao paramédico que me avaliava no chão da sala.
- Você sente alguma dor? - eu balancei a cabeça negando. - Tem algum corte ou machucado. - Também neguei. - Ela está bem. Só está suja de sangue. O rapaz perdeu muito sangue.
- Me levem no mesmo hospital. Eu quero ficar com Eros. Por favor.
O policial aprovou.
- Levem-na de ambulância. Rápido. Você consegue se levantar?
- Eu consigo. - me levantei cambaleante. Minhas pernas estavam formigando. Mas levantei.
O policial estendeu a mão e me segurou até chegar na ambulância. Eu subi na ambulância e me sentei ao lado da maca.
Demorou dez minutos para chegar ao hospital. Os paramédicos me deram lenços úmidos para eu tentar limpar o meu rosto.
Quando as portas da ambulância foram abertas eu saltei para fora. Pisei com tudo no asfalto.
- Cadê ele? Onde está o Eros?
O médico veio até mim.
- Você é o que do rapaz?
- Eu sou noiva dele. Ele está vivo? Me diz que ele está vivo?
- Seu noivo levou três tiros. Está fazendo cirurgia agora. É tudo o que posso lhe dizer.
- Eu quero vê-lo.
- Eu sinto muito. Mas não posso deixar você ir.
- Me deixa ir vê-lo.
- Senhora. Se acalme! Eu lhe prometo que estamos dando o máximo para garantir que seu noivo saia vivo. Agora vamos para o consultório. Preciso cuidar de você. Alguém chama a psicóloga por favor! - ele gritou para as enfermeiras. - Você se sente bem para ir caminhando comigo até a minha sala?
- Eu... - eu só queria ver Eros. Eros não podia morrer. Eu não podia imaginar a minha vida sem ele. Eros. Por favor. Sobreviva!
- Venha comigo, senhora. - o médico me levou até a sua sala. Ele me deitou na maca e começou a me analisar. - Há alguém para quem possamos ligar?
- Sim. Minha mãe.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora