Capítulo 14

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Eros estava enfiando sua língua dentro da minha buceta. Eu estava deitada sobre o carpete aveludado da sala de cinema. E parecia que um som vinha de longe. Um apito. Com o som do filme rodando era difícil de entender que som erra esse que tocava ao fundo. Quase impercebível. Eros me chupava com sede.
- Para! Para!
- Que foi? - Eros levantou a cabeça para me olhar nos olhos.
- Escuta! Tem um som estranho. Não sei o que é. Está ouvindo?
Fícamos os dois em silêncio tentando captar o apito. E então como uma chave que destranca uma porta eu reconheci o som.
- É a campainha. Tem alguém tocando. É a campainha.
Rápida me levantei e comecei a me vestir. Eros também.
- Mas quem poderia ser? - Eros estava pegando meus sapatos no canto da sala. - Meu Deus!
- Que foi? - peguei os sapatos das suas mãos.
- Eu sei quem é. É a minha mãe.
- Sua mãe está lá embaixo?
- Sim. E provavelmente a família toda.
- Como assim?
- Eles sempre chegam de surpresa. Ano passado foi uma dor de cabeça horrível.
- Aí! Minha nossa! - eu já estava vestida. Corri para fora. Pelo corredor. Desci as escadas e atendi o interfone ao lado da porta de entrada. - Sim?
- Finalmenteee! Meu Deus do céu! Abra logo! Vamos! Eu sou a mãe do seu patrão! Preciso de ajuda com as malas! Querido se aquiete. - pelo chiado de vozes a futura sogra não estava sozinha.
Apertei o botão com força.
- Abra o portão! O portão. Meu esposo está esperando para colocar o carro na gargem. Abra o portão! - nunca ouvi voz tão sibilante como esta. Os "n"s parecendo um mugido. Os "s"s sibilantes. A forma como falava lento e no final exaltava as síbalas como se fosse uma rainha dando ordem aos escravos.
Abri o portão do jardim e o da garagem. Tentei arrumar meu uniforme. Desamarrotar. Passei a mão sobre meus cabelos. Eu devia estar horrível.
- Cadê a antiga empregada? - uma senhora com um casaco gigante, lindo, peluciado, pelos saltando no pescoço e nas mangas, luvas pretas, cabelo platinado preso num coque, escarpins nos pés, meia calça preta, vinha caminhando pela calçada do jardim. - Preciso de ajuda com as malas! - ela apontava para o carro de luxo que entrava pela propriedade tão silencioso que nem parecia ter motor. Preto. Lindo. E pelo que parece, caro. Muito caro. - Érik, está fazendo o quê? - uma criança estava correndo atrás do carro.
Eu fiquei com as mãos cruzadas. Esperando a minha futura sogra se aproximar.
O carro parou e uma moça linda. De rosto angelical desceu.
- Oi! - além de linda, parecia ser muito simpática.
- Cadê Eros? Depois de tantos anos ele ainda não aprendeu a receber a mãe? Garota! Pegue as malas no porta malas e leve para o quarto de hóspedes. Deve ter três quartos vagos, se não me engano.
- Tem, sim, senhora. - não consegui olhar no fundo dos olhos dela.
- Prepare depois um banho de banheira para mim. Sharon, querida, você também quer tomar um banho de banheira? Relaxar um pouco.
Sharon, então esse era o nome da garota de rosto anjelical. Pernas compridas. Muito linda.
- Não precisa se preocupar comigo, senhora.
- Já falei que é para você me chamar de Shirley. Você vai ficar o dia todo na porta.
Fiquei rubra. Senti minhas bochechas ficando vermelhas. Dei um passo rápido para o lado. Eu estava estática com tanta informação. Sem saber direito para onde correr.
Me lembrei das malas. Caminhei a passos largos até o porta-malas do carro. Um senhor saiu do carro e abriu o porta-malas para mim. Parecia ser tão educado. De pose. Caminhava como se estivesse pisando sobre ovos. Um sorriso firme e bonito. Sorria não só com a boca, mas com os olhos também.
- Espera que eu te ajudo a levar as malas, menina.
Eu não sabia o que dizer. Como me portar. Assim que o porta-malas se levantou tirei todas as malas para fora em segundos.
- Paulo. Deixa que a garota leva. Qual seu nome menina?
- Tatiana, senhora.
- Deixa que a Viviane leva.
- Meu nome é Tatiana, senhora.
- Tanto faz. Aqui se troca de empregada toda estação mesmo. Cadê o Eros?
Shirley invadiu o hall de entrada. Só ouvi sua voz reverberando dentro do salão. Provavelmente iria sair entrando pelos cômodos.
Eu carreguei duas malas. Uma em cada braço. Pesadas. Meus dedos ficaram roxos. Não iria conseguir carregar sem descanso. Principalmente subir as escadas com as duas de uma vez.
Eu só vi o menino passando gritando por mim e pulando em cima do sofá. Meu coração gelou. O menino estava com os tênis nos pés. Pulando em cima do sofá braquíssimo.
- Eros está dormindo ainda. - Shirley já estava no primeiro degrau da escada.
- Eu acredito que ele esteje tomando banho, senhora.
Ela parou quieta. Por alguns segundos não ouvimos nenhum som. Só os passarinhos lá fora. Era como se o mundo tivesse parado por algum instante.
- Estou com saudades do meu bebê. Já faz quase um ano que ele não me visita. Ou que eu o vejo. Eu trouxe um presentinho para ele. - ela nem esperava eu responder. Era como se eu estivesse assistindo um monólogo. Ela falava como se conversasse com alguém. Mas na verdade, não estava interessada em ouvir os outros. Atropelava-me quando eu abria a boca. - A Sharon. - Shirley abriu um sorriso gigantesco. De satisfação e apontou para a garota de rosto angelical. - Eles eram namoradinhos na infância. - Shirley balançava a cabeça frenética de emoção. - Eles brincavam de médicos. - ela deu um risinho tão estranho.
Meu coração parou. Senti meu corpo ficando mole. Eu apenas olhava para Sharon. Que garota incrível. E eu, a empregada. Qualquer homem acharia Sharon irresistível. Eu estava começando a ficar preocupada. E Shirley, minha futura sogra, parecia olhar com crta curiosidade e nojo para mim. Via no canto do sorriso falso. A boca puxando para baixo. Começou a me faltar ar. Nunca fui insegura com outras mulheres. Mas depois que Marcus, pai da minha bebê, me traiu e eu descobri. Nunca mais consegui recuperar minha segurança. Passei dias pensando como é que eles trepavam. Se seria corna mais uma vez.
- Mãe? - Me virei e lá no alto da escada, Eros estava vestido de terno. Como todo dia antes de ir trabalhar. Lindo. Imponente. E ele olhava para mim. Nos meus olhos. Senti um calor dentro de mim. O que será que Shirley acharia se soubesse que seu bebê estava chupando a bucetinha da sua empregada. Aposto que ela surtaria. Ri comigo mesma imaginando a cena.
Eu peguei apenas uma das malas e comecei a subir as escadas.
- Bebê! Aí que saudades de você, amor! - Shirley dava ganidos de alegria.
Eu apenas continuei com o meu serviço. Fingindo ser apenas a empregada.
Eros tocou na minha mão quando nos cruzamos.
- Deixa que eu levo para você. - Eros ficçou os olhos dentro dos meus. Senti as borboletas baterem asas na barriga.
- Não precisa, senhor. - abaixei a cabeça e continuei o meu trabalho.
Muitos gritos e gargalhadas ficaram atrás de mim. Esses dias que a família dele iria ficar aqui seriam difíceis. Mas eu não sou garota que desiste das coisas. Não é mesmo? Então só restava esperar. E ter paciência.
Passei pela porta do quarto de Eros. E avistei num relance a sacada. Seria difícil de fuder assim de novo agora.
- Vivi! Vivi! - Shirley gritava lá embaixo. - Deixe as malas aí, Vivi! Venha preparar um café da manhã para nós.
Soltei o ar. Como se tentasse diluir o ódio. Iria ser difícil. Mas eu não iria desistir.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora