Eros

Uma nova Cinderela (parte 59)

- Eros, estão todos nos olhando! - um friozinho na barriga me desconcertaca ao ver os olhos pousando sobre nossa carruagem.
- Claro que estão! Nós estamos um espetáculo. Agora me dê a sua mão, lady. - Eros desceu da carruagem e estendeu o braço para eu ter firmeza ao descer os degraus. O vestido azul grande dificultava ver os meus pés.
No chão, nós três caminhávamos de mãos dadas até a grande porta do salão de festas da escola. Ao ver mais uma vez de perto um lugar que antigamente era tão familiar senti uma apertadinha no coração.
- Isso aqui já foi meu mundo. - eu estava ansiosa. - Antigamente quando eu era estudante parecia muito menor.
- Ei! Psiu! - uma mulher acenava lá na dentro do salão. - Tati! Tati! Tati!
Era minha antiga colega de escola. Alice. Magra e baixinha, no tempo da escola ela se achava a mais gostosa. Ainda era a mesma, só que mais velha.
- Mulher! Quanto tempo! Meu Deus! Você está tão linda! - ela me abraçou. Eu fiquei curiosa olhando a sua fantasia de arlequina. Barriga de fora, piercing no umbigo.
- Eu não sei o que falar. Quanto tempo.
- Eu sei. E não parece que mudou muita coisa. E quem é este homem com você? - ela estava muito interessada no Eros.
- Eu sou o noivo da Tatiana. - Eros cumprimentou ela.
- Menina onde tu arranjou esse homem? Eu quero um também assim! Ele tem irmãos?
- Você ainda continua a mesma. Veio muita gente da nossa turma?
- Acho que quase todos. Tirando o Felipe que foi preso e o Alan que morreu ano passado de acidente de carro, veio todos. Lembra da Vanusa? A que batia em nós? Tá acabada. Parece que agora o marido bate nela.
- Nossa! E o Marcus veio?
- O seu... - Alice fazia caras e bocas para não falar ex na frente da Larissa e do Eros. - Não vi. Nem ele e nem a piranha dele.
- Eu não sei o que dizer. É uma emoção voltar aqui. Lembra que sentávamos nessa escada para falar doa meninos e mal das garotas? Nós íamos até o mercadinho da esquina e juntávamos moedas para comprar um refrigerante. Lembra?
- Difícil se esquecer. Foi ali atrás que você deu os primeiros beijos. Hahahahaah - Alice me abraçava e gargalhava. - Agora eu vou entrar e procurar o meu garoto. Ele está vestido de it, a coisa. Foi tão bom te ver. Muito mesmo. E antes que demore mais dez anos para nos ver quero te desejar toda a felicidade do mundo. Sério, mesmo. Foi maravilhoso ter sido sua colega. Vou guardar você no meu coração.
- Eu também vou. - nós nos abraçamos e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Ao ver Alice se afastando um vulcão de lembranças erupçou dentro de mim.
- Está tudo bem? - Eros como sempre cordial.
- Está tudo ótimo. Vamos? Larissa venha no colo.
Entramos na festa. Batmans, Elsas, Coringas, Príncesas, Fadas, Diabos, Policiais, Bombeiros, Médicos. Um emaranhado de adultos e crianças correndo e gritando. Muita gente que ao ver meu coração acelerava ao relembrar dos tempos de escola.
- Professora Lú! Minha nossa! Quanto tempo! - minha professora de história me abraçou forte. Agora ela esstava mais velha. Parecia uma vovó frágil. Ela me deu um abraço tão gostoso.
Eros pacientemente me esperava conversar com cada conhecido que me abraçava. Ele se divertia ao olhar para as crianças. Ele caminhava com a Larissa pelo salão. Buscava bebedias e petiscos. No palco uma banda formada por antigos alunos tocavam músicas do momento.
- O que está achando? - Eros me alcançava um copo de plástico de refrigerante.
- Eu não sei explicar. Eu fico feliz por estar aqui de novo. Mas fico triste por ter passado o tempo. É confuso. Eu fico com as duas sensações. Quando eu estudava queria que acabasse logo. Mas também queria que não acabasse nunca. E eu só sinto. E é muita lembrança para a minha cabeça. E ainda tem você aqui junto. A Larissa. Se anos atrás alguém tivesse me dito que eu voltaria aqui sem o Marcus eu gargalharia na cara dela. E é a vida. A todo momento muda. Mesmo no marasmo e na sutileza. Tudo passa. E isso dói um pouquinho.
- Eu te entendo.
Sentamos nas grandes mesas. Dezenas de pessoas passavam e me cumprimentavam, elogiavam minha fantasia. Perguntavam sobre a minha mãe e meu pai.
Logo a diretora da escola subiu ao palco agradecer pela presença. Fotos antigas passaram num telão. E eu levei as mãos ao rosto ao me ver numa foto cantando o hino nacional mexendo na cordinha para astear a bandeira. O uniforme gigante e azul. A camisa branca. O pátio da escola, uma calçada de pedras. As paredes pintadas com desenhos feitos pelos alunos.
- Aquela era você? - Eros se divertia horrores.
- Eu sei. Não era a coisa mais linda do universo. E teve uma fase que eu andava meio rebelde e não penteava o cabelo.
- Eu vou precisar dessa foto, junto com aquela sua pelada correndo do álbum da sua mãe, para exibir na nossa festa de casamento.
- Você quer casar comigo e se separar em seguida, Eros?
Ele gargalhava comendo galeto.
- Ahhh, mas estava tão bonitinha. Deixa vai?
- Em casa conversamos sobre isso.
- Me senti 30 anos casado com você agora. Depois nós podíamos dançar lá no meio da pista. Exibir você para todo mundo. Mostrar que você está por cima da carne seca. Se quiser abro até a minha camisa para mostrar meus lindos mamilos. Aposto que suas colegas vão morrer de inveja de você. Quer?
- Você está doido. Faz tanto tempo que não danço. Vou parecer que tenho um ataque epiléptico na pista.
- Aposto que vai arrasar.
Jantamos e logo depois Larissa insistiu em ir brincar com as colegas da escolinha. Uma mãe estava de olho nela e disse que eu não era para me preocupar.
No som, músicas antigas começaram a tocar.
- Meu Deus! Essa música é do meu tempo! - eu fiz a coreografia com as mãos. Eros franzia os lábios e cerrava os olhos me analisando e rindo da situação.
- Para quem não se lembra de como dançar você está muito bem.
- Vamos para a pista! - eu pulei o banco e puxei Eros pela mão. Fomos para o meio do salão. Muitas mulheres faziam a coreografia frenética.
Eros tentava acompanhar, mas se confundia errando os movimentos. Eu senti uma alegria imensa. Me senti com quinze anos outra vez.