Uma nova Cinderela (parte 55)

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Ao ver Eros chorando daquele jeito eu só me perguntava se a culpa era minha.
Talvez se eu fosse embora ele não sofresse tanto.
- É tudo minha culpa! - eu sussurrei.
Eros ao ouvir as palavras que saíram da minha boca veio correndo até mim e se ajoelhou na minha frente.
- Nunca mais repita isto. Não é sua culpa. Nunca!
- Mas Eros. Olha para mim! Sua mãe não mentiu. Nós somos muito diferentes. Somos de mundos diferentes. Talvez seja melhor eu me afastar.
Eros soluçava ao chorar.
- Eu morreria sem ter você. Eu te amo e quando digo isto não é como dar um bom dia. Eu te amo de verdade. Amo tanto que ao pensar em ficar sem você ou nunca mais te ver meu coração parece que vai parar de bater. Então promete para mim que nunca mais vai repetir isso! Promete!
- Eros! Eu não sou para você! É horrível de dizer isto. Me dói tanto. Eu só não quero que você sofra.
- Eu sei, Tati. Eu sei! A culpa não é sua. As coisas são difíceis mas elas vão se ajeitar. Eu prometo.
Sharon já tinha se retirado. Só sobrou nós dois na sala. Eu sentada no sofá com as mãos espalmada sobre as bochechas e Eros ajoelhado na minha frente.
- Eu te amo, Tati! Te amo!
- Eu também te amo. - respondi.
Eros me beijou. Suas lágrimas salgadas tocavam meu rosto.
- Então nós vamos ficar juntos. Haja o que houver. E isso é tudo. Não importa o que aconteça. Até o último minuto.
Eu apenas consentia e sentia seus lábios. Seu calor.
- Você quer me deixar? - Aquelas palavras saíram tão baixinhas e com tanta dor que me rasgaram por dentro.
- Nunca! Eu quero ficar com você até o final da vida.
- Então nós vamos ficar juntos e não importa quem não concorde. Você é minha e eu sou seu.
Eros se levantou e sentou do meu lado. Ele me abraçava e limpava as lágrimas que insistiam em correr pelo meu rosto.
- Eu só não queria te fazer sofrer. - confessei.
- Tati. - Eros segurava com os braços ao redor da minha cintura e beijava meu rosto. - Você é a responsável por me fazer feliz.
Por mais que as palavras ditas por Eros tivessem coesão, o fantasma do medo de não dar certo cresceu sobre mim. Eu sabia que daqui para frente eu sempre me questionaria se Eros não tinha aberto mão demais da sua vida para arriscar comigo. Ou se ele em algum momento poderia se arrepender. Tantas dúvidas. Tão poucas respostas. E tanto sofrimento sendo reavivado.
Eros pegou um copo de água e pediu se eu não queria tomar um banho com ele e ir descansar.
Eu disse que era melhor eu ir para casa. Que precisava de um tempo só para mim. Para colocar as coisas em ordem dentro da minha cabeça. Eu sabia que Eros ficou muito triste ao ouvir eu falar que precisava de espaço. Mas eu percebi que ele entendia.
Eu lavei o rosto e fui para casa.
Minha mãe levou um susto ao me ver entrar pela porta.
- Mas já? Tão cedo! Aconteceu alguma coisa? Eu estava agora mesma ligando para o salão. Pensei em fazer um penteado diferente para o jantar hoje à noite. Uma maquiagem mais chique. A cabeleireira tem uma maquiadora nova que dizem fazer milagres na cara. O que acha? - me doía ouvir mamãe toda cheia de expectativas. - Eu também comprei uma orquídea para a sua futura sogra! - ela correu buscar o vaso para me mostrar. A flor roxa pendia num caixo. Linda e delicada. Minha mãe tinha feito até um laço vermelho ao redor do vaso.
- Aí, mãe! - eu comecei a chorar. - Não vai ter jantar hoje não.
- Como assim? O que que aconteceu? Está tudo bem? Está tudo bem com o Eros? - minha mãe me arrastou até o sofá.
- Eros brigou com a família. Foi horrível. A mãe dele não aceita muiti bem as coisas.
Minha mãe estava ouvindo com paciência, erguendo as sobrancelhas.
- Ela te disse alguma coisa? Porque se ela disse algo eu juro - minha mãe bufava - eu vou lá e dou na cara dela.
- Ela acha que eu não sou mulher suficiente para o Eros.
Minha mãe ficou em silêncio por alguns segundos, mastigando a informação.
- E saber que eu gastei dinheiro para comprar orquídeas para aquela nojenta. - minha mãe nem conhecia as pessoas e simplesmente pegava nojo. - Aí, amor. Eu não sei como explicar isso. Mas eu também quando vi vocês dois juntos a primeira vez acreditei que isso não daria certo. Rico e pobre são dois mundos muito afastados. Mas o que eu quero dizer - ela respirou fundo. - é que eu estava errada.
Eu deitei no colo da minha mãe e ela acariciou o meu cabelo.
- A gente se esquece do tanto de preconceitos que temos. - minha mãe estava calma e paciente. - Sempre que olhamos de longe só vemos o superficial. E um relacionamento é muito mas muito mais do que quem é mais bonito ou rico ou melhor. Muitas vezes um casamento vai te deixar doida. E está tudo bem desde que haja respeito dos dois lados. O que eu quero dizer, minha filha. É que eu me enganei feio. E eu entendi isso quando vi vocês chegando mais cedo da viagem. Ele se importa com você. Ele fica feliz quando te faz feliz. Eu vi isso no parque. E ele está disposto a mover céus e terras para continuar com você. Então se ele te ama e você ama ele, isso é o que importa no final. O resto é o resto. E pelo que me lembro eu não te criei para aguentar calada. Se a vaca da sua futura sogra te falar algo responda.
- Mãe! - eu não acreditava que minha mãe estava chamando de vaca minha sogra.
- Que é? Peguei nojo dela e você sabe como é quando eu pego nojo. - seus dedos continuavam massageando minha cabeça. - Não desiste não. Eu sei que vocês se amam de verdade. Então só não desiste. Por você.
Nós ficamos ali. Eu no colo da minha mãe. Ela ligou a televisão. Fícamos em silêncio olhando o programa da manhã.
Às vezes não pensar em nada ajuda muito mais. Eu só precisava de colo e um pouco de espaço.
- Eu vou sempre estar aqui. - sussurrou a minha mãe. - Você quer comer bolo? Fiz bolo de chocolate.
- Quero.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora