Uma nova Cinderela (parte 22)

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Minha mãe ouviu o "amor" pronunciado por Eros. Eu quase o beijei na boca, me contive no último segundo.
- Estou realmente impressionado. - meu pai que não é muito de falar com estranhos parecia estar começando a gostar de Eros. De Marcus ele nunca gostou. Mesmo Marcus lhe comprando presentes.
- Estamos esperando o quê? Vamos entrar. - Eros deu a mão a Larissa. Que aceitou com tanta tranquilidade. E adentramos o parque caminhando pelo cascalho. O barulho dos brinquedos funcionando e as luzes impressionam.
É barco viking, é torre que despenca, montanha russa, carossel, carinhos de bate-bate, trenzinho, xícaras girando. Dezenas de brinquedos a espera.
Eros não precisou falar com ninguém. Apenas acenou para a moça da bilheteria e ela retribui.
- Esse homem gosta mesmo de você. - minha mãe estava querendo saber mais. Nem um parque lhe chamava mais atenção do que um potencial marido para alguém. - Eu ouvi ele te chamando de amooor. - ela esticou o "o" para frisar bem a palavra.
- Agora não mãe. Mais tarde. - tentei ser o mais discreta possível.
- Então, qual vai ser o primeiro brinquedo? - Eros estava quase tão animado quanto Larissa. - Como é o aniversário da Larissa ela escolhe.
- Eu quero montanha russa!!!! - Larissa apontava para o brinquedo.
- Que tal algo menos perigoso, Larissa? - minha mãe estava apavorada.
- Eu quero.
- Então vamos naquela que parece uma largatixa maconheira.
- É uma centopéia, mãe. - Eros gargalhou.
- Eu quero montanha russssssaaaaa! - Larissa pulava.
- Você só fez cinco anos. Não sei se eles vão deixar. - minha mãe nãos estava muito afim de ir. - A gente pode ir no carrossel. É bem mais tranquilo. Que acha meu, amor?
- Montanha russaaaaaaa! - Larissa pulava.
- Está bem. Mas vamos com calma. Eu tenho problema com varizes.
- Mãe? O que varizes tem a ver com a montanha russa?
Fomos na montanha russa. Subimos os degraus da plataforma metálica. Meu pai estava animado. Dava para ver seus olhos sorrindo. Seu cabelo balançando com a brisa da noite. As luzes do parque iluminando seu rosto. Parecia anos mais jovem. A gente se esquece que pai e mãe também é gente. Tem sonhos. Já foi jovem.
Sentamos na primeira célula da montanha russa. No bico do trem. Eu, Eros e Larissa. Meus pais foram na de trás.
Quando a barra de fechar caiu sobre nossos colos demos um gritinho. Meu coração parecia que iria saltar da boca.
- Véio não ria. Eu posso morrer aqui. Uma das minhas varizes podem explodir. - minha mãe estava quase gritando.
Meu pai gargalhava alto. Larissa dava gritos de empolgação.
- Aí, meu pai! Isso está se mexendo. Estão vendo? - minha mãe estava apavorada.
E o trem começou a andar devagarzinho. O som das engrenagens, o solavanco na arrancada, o barulho metálico rangendo, a leve vibração.
Segurei firme na mão da Larissa. Por precaução.
- Me solta, mãe!
- Está bem. Está bem. - ela parecia mais preparada do que eu.
E o trem começou a dar uma volta e subir. Só senti meu corpo sendo jogado para o lado e depois para trás.
- Aí! Vai bater! Vai bater! - minha mãe gritava desesperada.
- Ahahahahahahahhhha! - meu pai chorava de tanto rir.
E cada vez mais alto o trem subia. As coisas lá embaixo ficando pequenas. O friozinho na barriga. E então ele chegou no ponto mais alto.
- Eu vou morrer! - minha mãe gritou.
Nós caímos na gargalhada. Então o trem começou a descer. Tão rápido que eu apenas gritei. Nós gritamos.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
E o trem subiu, desceu, girou, freou, acelerou. E em um minuto senti tanta adrenalina que me senti vivíssima.
- Eu quero mais! - Larissa levantou as mãos tentando alcançar o céu estrelado.
- Pai? Mãe? Está tudo bem? - eles estavam encurvados, abaixados dentro do vagão deles.
- Seu pai perdeu a prótese dele. - minha mãe resmungava.
- A perereca? - Larissa perguntou curiosa.
- Que perereca? - Eros não estava entendendo.
- A dentadura. - fechei os olhos tentando não ver a reação de Eros. No mundo dele duvido que as pessoas perdiam a dentadura. Ou colocavam-nas de noite dentro de um copo com água.
- Acheeeei! - meu pai gritou.
Graças a Deus! Só me faltava passar a noite olhando pro meu pai sem a perereca dele.
- Eu já falei para você colocar prótese fixa. A Irene colocou lá no dentista dela, ele faz até parcelado. - Minha mãe estava indignada. - Imagina passar o aniversário da sua neta sem a chapa?
- Eu não vou lá naquele dentista. Depois que a Irene colocou a prótese nova, quando ela sorri não consigo tirar os olhos dos dentes dela. Ficou parecendo uma égua.
- Eu vou pegar uns refrigerantes para nós. - Eros encostou de leve a mão no meu ombro. Fiquei aliviada dele dar um tempinho para meus pais terminarem de discutir sobre pererecas e cavalos.
Nosso segundo brinquedo foi o carrinho de bate-bate. Meu pai era craque, girava o carinho com uma habilidade enorme. Larissa só batia em todos de propósito. Chorava de rir a cada batida.
Depois fizemos um circuito de brinquedos. Rímos tanto que as bochechas chegavam a doer. Passamos pelas xícaras giratórias, carrossel (minha mãe insistiu muito, bateu 120 fotos montada nos cavalinhos).
- Tati, tira umas fotos nossas. Quero fazer uns quadros pra lá em casa. Queria fazer uma live, mas meus dados de internet já acabaram. Me ajuda, filha.
Peguei no celular e tirei fotos dela. Minha mãe quase delirou quando viu um pé de orquídeas liláses. Queria levar uma muda para casa. Tive que agir rápido e impedi-la.
- Vamos tirar uma fotos todos juntos. - minha mãe ordenou.
Meu pai deu uma bufada. Odeia tirar fotos. Mas fomos os cinco.
Minha mãe pressionou a garota do cachorro quente para tirar fotos para nós.
- Eros, você também. - minha mãe acenou para ele se aproximar. - Quero aqui na frente da monta russa. Venha logo!
- Eu preciso ir antes no banheiro. - Eros estava querendo fugir.
- Nada disto. Banheiro depois. Vem!
E nos amontoamos os cinco. Larissa na minha frente. Eros do meu lado. Sua mão por trás de mim pegando na minha cintura. Meus pais do outro lado. Já podia imaginar a foto parando na capa do facebook da minha mãe e dezenas de comentários das minhas tias.
- Digam "x"! - a moça do cachorro quente apontava o celular. - E está pronto a foto. Tirei umas cinco para garantir.
- Obrigada. - minha mãe esticava o braço para olhar a tela. Tinha esse vício horrível. Empinava o nariz e olhava a tela como se estivesse no chão.
- Nós podíamos ir na montanha russa agora. O que acham? - Eros estava sugestivo.
- Sim! - minha mãe concordou de sopetão. - E a Larissa vem comigo e seu avô.
Larissa achou estranho, mas não reclamou. Eros queria ficar comigo, totalmente sozinhos, na montanha russa. E minha mãe estava dando uma forcinha.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora