Uma nova Cinderela (parte 41)

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- Vamos acordar, princesa. Já está na hora. Eu tenho uma surpresa para você.
- Que horas são, Eros? - a luz do quarto cegava meus olhos. - Ainda são cinco horas da manhã?
- Sim. Venha. Se levante. Já estou preparando sua mala.
- Como assim? Eu quero dormir mais. Nós dormimos quantas horas?
- Eu sei que você deve estar acabada de sono. Mas é que eu preparei algo especial.
- E tem que ser agora mesmo? - eu puxava o travesseiro e tampava meu rosto. Só senti o peso do Eros sentando sobre o colchão.
- Tem. Agora mesmo. Não podemos perder mais tempo. Não podemos se atrasar. Então venha. - Eros encostou no meu braço. Eu só levantei a cabeça.
- Eu prometo que será inesquecível.
- Está bem. - me levantei da cama e sentei na beirada. Eros me trouxe um par de chinelos e um roupão.
- Venha! - ele pegou na minha mão e saímos os dois caminhando pela casa. - Eu prometo que você vai gostar.
Ainda estava totalmente escuro lá fora. Agora não havia quase ninguém na rua. Já era muito tarde. Eu tive a impressão de ouvir um passarinho cantar ao caminhar pelo jardim até a porta.
- Venha, amor. Já vai poder sentar e relaxar. - Eros carregava uma mochila nas costas. Um homem vinha na nossa direção.
- Está tudo certo senhor. É só ir até o pier.
Que diabos faríamos num pier a uma hora dessas?
Contiuamos caminhando pela rua. A mesma que atravessamos pelados na noite anterior até encontrar um escada de pedras que descia pela praia.
- Cuidado para não tropeçar e cair. - Eros segurava na minha mão.
Eu escutava o som do mar. As ondas quebrando infinitamente. Senti uma vontade enorme de dormir.
- Ali está! - Eros estendeu a mão rumo ao final do píer. - Nossa lancha.
- Você tem uma lancha?
- Eu tenho muitas coisas, Tati. Agora venha. Vamos logo.
Eros parecia uma criança animada.
- Nós vamos andar de lancha às 5 horas flda madrugada?
- Isto mesmo, minha querida.
A embarcação era linda. E enorme. Branca. Nunca tinha visto uma de perto. Devia custar uma fortuna. Eros me ajudou a subir. Um pequeno balançar da água me deixou um pouquinho tonta.
Eros foi até a cabine. Eu fui atrás. Ele me colocou numa cadeira sentada e enrolou um cobertor em mim.
- Obrigada. O senhor sabe pilotar essa lancha?
- Sim. Aprendi quando tinha 15 anos com meu pai. Ele me levava no meio do mar e me deixava dar umas voltas.
- Isso não me deixa muito segura. Eu tenho pânico. Eu não quero morrer como no Titanic.
- Pode apostar que te devolverei a terra sã e salva.
Eu levantei o cobertor até tampar a boca. Como num casulo. Eros ligou a lancha. As luzes iluminando a água do mar no escuro. O barulho do motor ligando me deu um friozinha na barriga.
- Você pode tirar um cochilo lá embaixo. Tem um ótimo quarto lá se você quiser dormir um pouco. Eu te chamo quando for a hora certa.
- Eu acho que vou ficar aqui enrolada no cobertor. Caso você bata eu tenha alguma chance de gritar.
- Você é um figura. Por isso eu te adoro. Agora durma e daqui uma hora eu te chamo.
- Você não vai desovar meu corpo em alto mar.
- Não tinha tido essa ideia ainda. Mas é de se pensar.
Eu apenas sorri e senti os olhos pesando. Apenas inclinei a cabeça para baixo e em alguns segundos dormi.
- Tati. Meu amor. - algo chaqualhava meu braço.
- Já acordei. Já acordei. Meu deus, que que foi?
- É agora amor. Venha. Está quase na hora.
Eu retirei a coberta sobre mim. O céu já não era escuro. As estrelas já não brilhavam. Apenas a lua uma manchinha branca.
Saímos da cabine e fomos até a ponta da lancha.
- Falta três minutos.
- Eros? Nós estamos no meio do Oceano Atlântico?
- Mais ou menos isso. Eu queria que você visse isto.
E então um pinguinho de luz lá no fundo coloriu o céu de laranja. Eu não via nenhuma porção de terra. Só mar e o sol nascendo.
Luzes rosas, azuis e liláses coloriam as nuvens no céu. O sol imponente nascia.
- Eros, é tão - as palavras me sumiam. - lindo. É a coisa mais linda que eu já vi. É como uma pintura. - eu me sentia incapaz de descrever a beleza daqueles minutos.
Eros me abraçou e fícamos ali abraçados olhando o sol nascer. Em alguns minutos o mundo pareceu ser mágico. Se transformar. Da noite para o dia. A luz tão forte que eu tinha que pressionar as pálpebras para conseguir ver.
- Aí, Eros. É tão lindo! Eu só. - engoli em seco. - Obrigada! Obrigada mesmo!
- E tem mais uma coisa. - Eros puxou um pedaço de folha de papel do bolso. - Eu fiz isso. Pensando em você. Espero que não fique tão estranho. - Eros estava tremendo. Eu nunca tinha visto tremer assim.
- E o que é?
- É o que eu sinto.
Eros desdobrou o papel e começou a lê-lo. No começo sua voz tremia, ele tropeçava nas palavras. Mas a cada palavra dita ele ficava mais tranquilo e confiante. No final ele nem olhava mais para o papel. Sabia as palavras escritas de cor. Apenas dois filetezinhos de lágrimas escorriam pelo seu lindo rosto enquanto seus olhos brilhavam com a luz iradiada pelo nascer do sol.

"Meu coração bate diferente.
Bate diferente porque bate por você .
Eu nunca senti algo assim
Não recordo de senti-lo doer, meu anjo.
Eu temo tudo. Quase tudo.
Mas imaginar te perder faz meu coração doer.
Não é que antes ele não batesse
É que não era assim.
Agora quando lembro do seu soriso ele para.
Agora quando te vejo se aproximar ele acelera.
E agora mesmo quando ouso transformar o que sinto em poesia ele quase engasga.
Meu coração bate diferente
Bate diferente porque bate por você.

Descobri que não preciso do mundo
Pois você é o meu mundo.
Descobri que não preciso de todas respostas.
Pois você é a resposta que eu sempre busquei.
Eis aqui o segredo que eu tenho medo que o mundo saiba.
Você é o meu ponto fraco.
Você é o motivo pelo qual eu acordo de manhã. O motivo de eu gargalhar. O motivo de eu sonhar. O motivo de querer viver. Você. Você. Só você.
E aqui
Sob o nascer do sol
Em alto mar
Quero sussurrar e te confessar.
Meu coração bate diferente.
Bate diferente porque bate por você."

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora