Como combinados Eros me levou de volta para a minha casa. No meio do caminho minha mãe mandou uma mensagem avisando que a Larissa já estava bem. Que tinha sido medicada. Estava dormindo na nossa cama. E que era um resfriado que provavelmente passaria em alfuns dias. Ela não teve mais febre. Então não tinha com o que se preocupar.
Ao guardar as roupas na mala e colocá-la no carro senti meu coração apertar. Eu queria ficar ali com Eros. Ele tinha planejado todo o final de semana. Sentiria saudades. Embora ele me abraçasse e me beijasse com frequência, aquele ar alegre fugiu. Muitas vezes pelo caminho Eros falou que não era para me preocupar. Que teríamos mais tempo. Mas em vez de me sentir melhor com essas palavras, um buraco abria dentro de mim.
Ao chegar na frente de casa, Eros saltou para fora e abriu o bagageiro para pegar minha mala.
- Você vai querer entrar? - eu não conseguia decifrar o que passava dentro da cabeça dele. Respirava fundo. - Nós podemos dormir na sala de estar num colchãozinho no chão.
- Por mais que a proposta seja tentadora. Acredito que é melhor você focar na Larissa por hoje e amanhã. Depois que ela estiver melhor você pode ficar comigo.
Me doía ter que concordar com Eros. Nos abraçamos no jardim e ele me deu um beijo carinhoso.
Minha mãe abriu a porta da frente e meu pai já apareceu com a Larissa no colo.
- Mamãe! Mamãe! Mamãe! - ela sacudiu as pernas até que meu pai a colocasse no chão.
- Quantas saudades, meu amor! - eu a peguei no colo e a enchi de beijos.
- Olha! - ela esticava seu bracinho cheio de tatuagens que vem nos chicletes. - Vovô disse que me deixava fazer uma tatuagem. Você quer fazer uma também?
- Claro que sim. - eu coloquei a mão na testa dela para sentir a temperatura. Parecia normal.
- Venham para dentro vocês! - gritou minha mãe da área da casa. Ela cochichava com meu pai. Os dois parados, com os braços cruzados e volta e meia apontando com o dedo indicador. - Oi, Eros. Venha para dentro. Está frio. Eu fiz bolo. Vem! Saiu do forno à recém.
- Eu acho melhor não. - Eros deu um beijo na minha testa. Larissa ficou olhando-o admirada. - Uma outra hora quem sabe. Não quero atrapalhá-los.
- Atrapalhar? Imagina! Venha! Você não tem um tempinho para passar com seus futuros sogros. - mamãe usava argumentação pesada.
Eros olhou para mim. Nos seus olhos havia incerteza.
- Vem Eros. - minha menina estendeu o bracinho para ele. Nós vamos jogar dominó. Mas cuidado! O vovô vence sempre.
- Vem! - eu estendi meu braço e ele apertou o botão do controle do carro.
Ele pegou na minha mão.
- Vamos! - minha mãe acenava para apressarmos. - Está frio aqui fora! - minha mãe sempre está com frio. - Você vai ficar se pegar esse ventinho gelado, Larissa.
Minha filha pulou para o chão. E saiu correndo pela casa.
Eros limpou os pés no tapete de entrada e ficou todo sem jeito ao sentar do meu lado no sofá.
Nossa sala era um pouco apertada. Dois sofás gastos pelo tempo. Um de cada lado, a televisão na parede e uma mesinha no centro. Peças de jogos espalhados pela sala. Larissa fazia uma bagunça.
- Você aceita um pedaço de bolo? - minha mãe já estava parada ao lado oferecendo comida. Eros por educação aceitou. - Pega dois de uma vez!
- E então o que houve com a nenê? - peeguntei.
- Ahhhh! - minha mãe balançava as mãos como se não fosse nada demais. - Estava com febre. Tossia bastante.
- Também! Passa o dia correndo de pés descalços. - primeiras palavras que eu ouvi meu pai pronunciar desde nossa volta. - Não é?
Larissa fazia de conta que não ouvia meu pai reclamando dela.
- Isso é coisa da idade. Quando a Tati tinha esse idade vivia correndo pelada pelo quintal. Lembra?
Eros deu uma risadinha nervosa. Eu fiquei vermelha de vergonha.
- Sério! Odiava roupa! Eu colocava, virava as costas e ela se pelava todinha. Eu tinha medo que achassem que a gente era doido e não colocava roupa nos filhos.
- Que interessante! - a voz de Eros saiu com um toque de veneno. Eu acirei meus olhos para ele. - Me conte mais!
- Ela era terrível. Vivia trepando em tudo que era planta. Teimosa. Você não imagina o quanto.
- Assim Eros vai fugir daqui e nunca mais vai querer me ver. Vai achar que eu era doida.
- Ela sempre foi muito alegre. Até conhecer o traste lá. - meu pai também começou a narrar minha vida. - Ela ficou muito triste enquanto viveram juntos.
- Mas agora isso é passado. - minha mãe interrompeu. - Lari, meu amor. Busca para a vovó o álbum de fotos?
Eu arregalei os olhos. Tentei impedir a Larissa de ir buscar, mas ela já tinha se mandado pegar o álbum.
- Mãe! - eu arregalava os olhos para que ela fosse mais discreta.
- Que foi? Dá o álbum pro Eros olhar, nenê.
Eros abriu o álbum e começou a folhear as páginas. Minha mãe já se aproximou e sentou do lado de Eros.
- Aí! Meu Deus! Olha essa foto! O primeiro banho na banheirinha! Lembra? - ela apontava para a foto em que eu era um bebê pelada, bangela e sorridente. Meu pai esticava o pescoço do outro sofá para tentar ver as fotos.
- Essa é a festinha de aniversário de 7 anos dela. Esses são os primos e esses os tios e tias.
- Acredito que o Eros não esteja tão interessado em conhecer meus parentes, mãe.
- Estou adorando! - Eros deu um sorriso debochado.
- Tu me paga! - sussurrei no pé do ouvido dele.
- Olha você correndo pelada no quintal! - Eros apontou para a maldita foto.
Eu estava vermelha de vergonha. E Eros se deleitava. Elogiava meu corte de cabelo da infância. Eu parecia um cogumelo gigante. Era minha mãe que cortava meu cabelo e as vezes um pouco do meu couro.
- Tão bonitinha! Você era uma fofura! - Eros olhava para mim e sorria.
- Meu Deus! Como o tempo passa! - minha mãe se apoiava no braço do sofá. - Não é? Véio? - minha mãe chamava meu pai de "véio" na intimidade e ele chamava-a de "véia".
Quando Eros virou a última página do álbum de fotos, agradeci pelo fim da tortura.
- Aí! Acabou! Finalmente! - peguei o álbum das mãos dele e o guardei.
- Agora me digam. Como foi a viagem? - minha mãe estava ansiosa para saber detalhes.
- A vovó disse que vocês andaram de lancha! - Larissa abriu a boca bem grande para comentar o que sabia. - E que lancha é coisa de gente rica mesmo! - Eros ficou vermelho.
- Andamos de lancha, sim. Fícamos na praia. Fomos jantar num restaurante ontem de noite também. - Eros segurou a minha mão. Eu me recordava de tudo que tinha acontecido. Lembrei de mim pelada na rua, pulando o muro e na praia de nudismo. - Foi maravilhoso.
- Pena que vocês voltaram. Deveriam ter aproveitado mais! - meu pai estava muito interessado no que tínhamos feito.
- Sim. Mas família em primeiro lugar. E - Eros olhou nos meus olhos - ao lado da sua família é o melhor lugar para se estar.
Meu coração encheu de alegria. Eu me virei para limpar uma lágrima que se acumulou no canto do meu olho. Não queria que Eros me visse chorando.
- Eu acredito que já incomodei vocês demais agora. - Eros se levantou. - Já está na hora de ir embora.
- Nãoooooo! Imagina! - minha mãe e meu pai já estavam o atacando para não fugir.
- Nós não jogamos nem uma partida de dominó e - meu pai procurava motivos para convencê-lo a ficar. - fique para jantar com nós. Minha mulher faz uma sopa maravilhosa e uma pão caseiro muito bom mesmo. E eu não falo isso porque ela é minha mulher. É porque é boa mesma a comida dela. - ele deu um tapinha sobre a sua barriga saliente - E eu era novi assim como você. Todo fortão. Bariga reta. Casei e olha isso aqui. - ele batia na barriga e ria.
Eros queria ficar mas se sentia um intruso.
- Fica Eros! - Larissa usou todo seu charme e seus olhos grandes para implorar. - Fica! - ela sorria e erguia as sobrancelhas.
- Já que vocês insistem. - Eros se sentou de novo no sofá. E eu beijei a sua bochecha.
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Eros
RomanceDepois de um casamento fracassado e uma gravidez não planejada, agora Tatiana aceita qualquer emprego para sustentar a sua filha. Ela é só mais alguém no mundo tentando neste momento sobreviver e seguir em frente. Depois de ser traída pelo pai de su...