Uma nova Cinderela (parte 43)

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Eu não sabia o que responder. Eu o amava, nunca teria coragem de dizer não para ele. Se ele quizesse casar comigo eu aceitaria.
- Eu estou aqui. Quero que você nunca se esqueça disto. Eu estou aqui e sempre estarei para você. Até o fim. Eu sei que você sofreu muito já. Eu juro que toda vez que penso no Marcus tenho vontade de ir na casa dele e dar umas porradas nele. E olha que eu sou da paz. - Eros acariciava os cabelos que caiam da minha testa em tiras na frente do rosto. - Minha mãe também era assim. Ela achava que eu deveria ser como ela queria. Claro que não se compara com o que você viveu. Mas é horrível viver preso a pessoas assim. Tóxicas. E tem muita gente tóxica por aí. Muitas pessoas se submetem a relacionamentos tóxicos e situações humilhantes porque não tem opção melhor. Às vezes é no trabalho pelo emprego, às vezes é num relacionamento pelos filhos. Mas nós estamos livres. E você como eu não devemos aceitar nunca mais este tipo de situação. E se a minha mãe quiser tirar a empresa e me deixar pobre porque eu vou me casar com a empregada e assumir sua filha com outro homem, eu não tenho medo. Sabe que um dos momentos mais felizes da minha vida foi quando numa noite eu e a Vanessa, minha ex-mulher, morávamos num barraco e os vizinhos do prédio de cima da rua colocaram um sofá velho pro lixo e nós dois fomos buscar o sofá de madrugada. Um carregando de cada lado. Hoje recordando, nunca pensei que aquele sofá velho e podre poderia significar tanto. - lágrimas vertiam dos olhos de Eros.
- Você ainda sente saudades dela?
- Eu sempre vou sentir. Depois que eu perdi ela e a mina bebê, eu só queria ficar trancado no meu quarto. No vazio. Eu passava os dias me perguntando porquê. A morte tirou tudo de mim. Minha filha era tão nova. Tinha tanta coisa para viver. A morte debocha de nós a todo momento. E quando ela chega perto faz-nos refletir tudo. Quase tudo fica parecendo bobagem perto dela. E foi ali que eu decidi que seguiria em frente. É duro. Muito duro. Falando não chega perto do que é viver isto. E... - Eros soltou o ar. As palavras que vinham do fundo pareciam trancar na sua garganta. - E pensar que eu... - ele desviou os olhos de mim e virou o rosto para o mar. - E pensar que eu tentei me matar. Que eu queria morrer. - ele não conseguia transbordar tudo que ele sentia.
Meu coração se afligia ao tentar imaginar meu Eros tentando se matar. Isto em doía tanto. A dor dele era minha dor também.
- Foi por isso que você foi contratada. A empregada anterior me encontrou desacordado na minha cama. Eu tomei tantos remédios que fui parar na emergência e tive que fazer uma lavagem estomacal. E você não pode imaginar o quanto é horrível uma lavagem estomacal. E... - ele pegou na minha mão. - Se eu tivesse morrido eu nunca teria tido a sorte de te conhecer. É isto.
Me doía tanto ouvir isto. Mas era necessário. Eu queria segurar Eros no colo e dizer que iria ficar tudo bem.
- Ás vezes eu ainda refaço a cena do acidente na minha cabeça. Eu sou uma bagunça, né? Um cara fudido.
- Não é não. No final todo mundo é fudido. Uns mais, outros menos.
- Eu estou cansado de chorar. - nós engolimos um riso idiota e Eros balançou minha mão. - Vamos ser feliz?
- Vamos.
E então ele me beijou. Com sede de amor. E eu retribui.
- Você deve estar com fome? Não está?
- Estou.
- Espera aqui um pouco. Eu vou lá dentro buscar uma toalha e uma cesta de piquenique que eu pedi pra deixar preparado. Você quer beber champagna?
- Eu estou com ma digestão da bebida de ontem de noite.
- Então pode ser um suco de laranja?
- Pode.
Eu fiquei parada na parte da lancha da frente observando Eros caminhar até lá dentro. Tínhamos dito tanta coisa um para o outro que eu ainda não conseguia assimilar tudo. Foi um rompante. Mas foi como se nossos laços alcançassem dentro, amarrando um ao outro. Eu agora o via de uma nova forma. Mais intensa. Mais sofisticada. E ainda mais linda.
Eros voltou com uma vesta de piquenique e duas taças de champagna.
Nós se ajoelhamos e ele estendeu uma toalha xadrez, vermelho e preto, de piquenique. Colocou com cuidado a cesta sobre a toalha e começou a tirar bolos, talheres, salgados, maçãs, morangos e croissants. Tirou uma caixinha de som e uma caixinha de suco de laranja.
- É sério que você vai casar comigo mesmo?
- Só um minuto. - Eros tirou do bolso um novo celular e seu dedou percorreu pela tela. - Agora sim. - uma música romântica começou a tocar na caixinha de música. - Tatiana. Por favor! Se levante.
Eu ergui minhas sobrancelhas.
- Levante-se! Vamos!
Eu então eu me levantei. E Eros ficou de joelhos.
No susto eu levei as duas mãos ao meu rosto.
- Eu não acredito que você está fazendo o que eu acho que você está fazendo.
- Pois muito bem, senhorita Tatiana. - Eros estava tirando o anel do seu dedo. - Eu não planejei isto. Mas acredito que não poderia acontecer de um jeito ou momento melhor. - Eros colocou a mão fechada sobre os lábios e pigarreou limpando a voz. - Senhorita Tatiana. Você aceita se casar e viver pelo resto da vida com este homem que já não sabe respirar sem a vossa presença? Aceita casar comigo, Tatiana?
- Aceito! Aceito! - me joguei nos seus braços e beijei seus lábios. Ele me abraçou e entupiu de beijos.
- Agora temos que brindar!
Eu fiquei ao seu lado e assisti Eros desenroscar a tampa da caixa de suco e servir as taças. Ele alcançou a primeira taça para mim e depois pegou a sua. Ergue a taça aos céus.
- Um brinde ao nosso amor. Ao meu capôzinho de fusca. A garota que faz me coração bater diferente.
- Um brinde ao chefe. Aquele pirocudo que gasta absurdamente para me ver sorrir e me mostrar o quão a vida é maravilhosa. Ao nosso amor.
Tim-tim.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora