Uma nova Cinderela (parte 42)

10.5K 575 28
                                    

No rosto lindo de Eros, dois filetes de lágrimas brilhavam ao toque do sol da manhã. Seus olhos verdes ganhavam cores fortes e vivas que me fascinavam.
Eu o ouvi pronunciar entre pigarros e pausas dramáticas o poema de Eros.
Sua mão não tremia mais. Ao dizer "meu coração bate diferente porque bate por você" todo meu medo fugiu. Eu senti ao vê-lo se expor o que ele sentia. Éramos dois medrosos, machucados pela vida, grossos por fora, cada um a sua maneira. Eu venenosa e sarcástica. Ele uma muralha impenetrável que trancava seus sentimentos num baú lá no fundo. Mas éramos frágeis. E só tínhamos medo de repetir as mesmas dores.
- Eros. - eu respirei fundo. Não conseguia ficar calma. Meu corpo também tremia agora. - Eu te amo. Amo tanto. Que não consigo imaginar por alguns segundos a dor que seria te perder. - eu sentia lágrimas quentes escorrendo pelas minhas bochechas. - Eu te amo. Amo mesmo.
Eros me abraçou. Seus grabdes braços se envolveram ao redor da minha cintura. Sua boca tocou meus lábios. Eu senti o sabor salgado das suas lágrimas. Senti o calor do seu corpo emanando para o meu.
Nosso beijo lento, demorado e iluminado em alto mar pelo nascer do sol levou toda minha insegurança embora. Agora eu conseguia vê-lo através da sua casca. Ele mostrou a sua versão mais crua. E vendo a sua fragilidade eu perdi meus medos. Eu amava Eros e Eros me amava. Não era algo só da minha cabeça. Era algo dos nossos corações.
Ficamos abraçados olhando o sol refletir sobre a água salgada e azul do mar.
- Eu ainda não consigo acreditar que tudo isso é real. - é difícil começar a revelar nossos pesadelos. Mas quando deixamos a porta abrir é como se virassemos um copo sem querer, difícil de parar. - Eu sempre acreditei que uma garota como eu não merecesse alguém como você.
- Eu não sou um presente, ou uma jóia. Eu só tento ser um homem bom.
- Você não tem ideia do quanto isto te torna especial. Eu já fui tratada mal tantas vezes, que a única forma de não se trancar num quarto e sofrer foi apreender a ser grossa. - o balançar da lancha desligada nos ninava em alto mar. Eu apoiei meu rosto no seu peito. - O mundo é horrível. As pessoas se machucam a todo momento. Somos tão cheios de ódio e sarcasmo que não conseguimos escutar o que os oitros dizem. Vivemos a beira do colapso. Nos punimos dia e noite. Nos massacramos tanto. Eu cheguei a pensar que nunca encontraria alguém que me amasse. Que pergunta-se você quer? Ou você está bem? Eu literalmente me sinto hoje vivendo um sonho. E isso tudo é por causa de você, Eros. Eu não sei nem como agradecer. - eu limpei as lágrimas com as costas da mão. - As coisas que você disse são tão lindas. Você pegou da internet o poema?
- Não. - Eros limpou a voz. - Na verdade mais ou menos. Eu pesquisei alguns e tentei me inspirar. Você não acha que ficou ridículo?
- Ficou lindo. Eu vou querer emoldurar esse pedacinho de papel. Eros, eu nem sei como retribuir.
- Não precisa. Te fazer feliz me preenche o coração. Eu sei que tentamos ser mais adultos e não pular de cabeça. Mas foi arrebatador. E eu não quero que isso acabe.
- Eu também não. Sabe que o Marcus praticamente me podava todo dia. Quando eu dizia que queria fazer algo diferente ele bufava e revirava os olhos e eu me sentia a pessoa mais idiota do mundo. Toda vez que nos reuníamos com seus amigos, porque as minhas amigas para ele eram todas vadias que eu deveria esquecer, eu passava noites inteiras sem falar mais que duas ou três palavras. Ele nunca perguntava o que eu queria. Simplesmente marcava e me arrastava junto. Uma vez eu assisti na televisão um desses programas que passa de manhã, e eu vi uma coleção de cactos. E eu achei tão bonito que passei uma semana arrumando um cantinho na área de serviço até comprá-los. Quando eu pedi para ele ver os cactos. Ele simplesmente olhou e disse "Que porcaria é essa?" - minha voz ganhava tons de rouquidão, minha garganta ficava seca. - E eu acreditei que isso era normal. Eu acostumei ou me adaptei ou superei ou me conformei ou aceitei. Eu não sei que palavra usar. Eu apenas vivi assim.
- Você é uma mulher incrível, Tati.
- Sou não. Eu sou apenas uma garota comum. Eu não terminei nem o ensino médio. Eu não tenho nenhuma posse. Nem tirei carteira de motorista. Ou tem algum futuro promissor.
- Tati. Você é uma mulher incrível! Você é boa. É uma guerreira. É uma mãe maravilhosa. Você é inteligente. É bonita. Você é incrível. E eu quero me casar com você.
- Vamos com calma nessa parte do casar. Antes temos que ver como sua família vai reagir a isso tudo.
- Eles não tem opção.
- E se sua mãe te tirar a empresa? As coisas tem consequências, Eros.
- Eu não me importo. Viro gari. Viro pedreiro. Qualquer coisa.
- E você não se arrependeria?
- Nunca. Eu me arrependeria se deixasse você ir. Eu me arrependeria se não pudesse te abraçar. - os olhos de Eros brilhavam. De chorar seus olhos ficaram vermelhos e o verde ainda mais intenso. - Eu não tenho medo de ficar pobre. Tenho medo de não sentir nada. De não querer acordar. E te conhecer me fez lembrar o quão gostoso é estar vivo. Se você parar para pensar até respirar dói. Mas é eu não trocaria essa alegria em respirar por nada. Estar aqui com você me torna completo. - Eros segurava meus braços e olhava nos meus olhos com tanta força, seu rosto estava tão sério. - Pode parecer algo simples, mas não é. É no simples ato de estar com alguém que eu amo que eu sinto que viver é precioso. O tempo está passando. E quando nós voltarmos para casa eu vou te anunciar para minha família como a minha noiva. E isto é uma promessa, Tatiana.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora