- O que você quer de mim, Tatiana? - Eros bufava enquanto entrávamos no táxi.
- Nada! Quero nada, Eros!
- Por que você está sendo assim comigo?
- Eros, por favor! Chega!
- Você sempre fala em se abrir. Em te falar tudo. Mas você sempre que acontece alguma coisa se isola. E eu fico desesperado tentando de entender. Eu te amo. Eu sinto ciúmes de você. Eu não quero que ninguém te toque. Eu não quero que ninguém te machuque ou te ofenda.
- Eros. Eu sou adulta. Já aprendi a me defender sozinha.
- Não parece.
- Como assim?
- Você sabe do que estou falando. - Eros cuspia as palavras. - Se soubesse se defender não tinha aguentado aquele traste por anos. Na primeira vez que ele tinha te posto um par de cornos teria feito as malas e fugido.
- Você não entende. As coisas são muitas vezes mais complicadas do que parecem. Às vezes nós nos sacrificamos por causa dos outros. Eu não tenho o privilégio de sair por aí chutando o pau da baraca. Eu tenho uma filha que depende de mim. Pais que contam comigo. Não posso simplesmente abrir a boca a todo momento e falar o que penso. Você é podre de rico. Eu não. Nós somos de mundos muito diferentes.
- Você parece minha mãe falando agora. - aquele comentário me pegou de surpresa.
- Não me compare com a sua mãe.
- Eu não acredito que você disse que somos diferentes.
- Eu disse que somos de mundos diferentes.
- E você não quis dizer que somos diferentes?
- Eros. Estou cansada. Por favor! Eu não aguento mais.
- E você acha que eu estou feliz com tudo isso. Eu só queria te fazer a mulher mais feliz do mundo. E olha isso agora!
- Eu não quero mais discutir com você.
- Então é isso? É assim que acaba? Nós fazemos de conta que nada existiu? Você se fecha e eu fico como um idiota correndo atrás de você até que um certo dia você canse de dar gelo e volte a falar comigo? Vai ser assim?
- Por favor. Para!
- Eu te amo. E hoje não senti isso de você. Eu fiquei preocupado com você. Vai saber o que aquele imbecil não faria com você se eu não estivesse lá. Eu só quero te proteger.
- Eros. Vamos parar de falar. Eu só quero silêncio.
Até chegar em casa foi uma tortura. Eros pagou o motorista e eu desci do carro com a Larissa no colo. Ela já não chorava mais. Minha mãe abriu a porta de casa e eu entreguei a Larissa para ela.
- O que houve? - minha mãe estava de pijama.
- Só coloca ela na cama para mim. Por favor! Depois te explico melhor. - minha mãe estava relutante em obedecer de primeira. Mas acabou indo para dentro.
Eu e Eros fícamos parados no jardim se encarando.
- Que foi? - ele estava ainda indignado.
- Isso não vai dar certo. - eu engoli em seco.
- Então é isso? Você desiste tão fácil assim de mim? Do desgraçado você levou uma vida para conseguir se livrar? De mim, uma noite é o suficiente.
- Você tem que parar de tirar conclusões precipitadas. Eu não disse isto. Só quero dizer que assim discutindo não vai dar certo.
- E o que você sugere?
- Vamos dar uns dias. Esfriar a cabeça. Você pensa no que fez e depois a gente vê.
- Tati. - Eros se aproximou de mim. - Eu não tenho nada para pensar. Eu sei o que eu quero. E é estar com você.
- Então não há mais nada para ser dito hoje. Você vai descansar na sua casa e eu fico aqui na minha. Boa noite.
- Eu acho melhor então nós terminarmos. Se faço tanto mal para você assim.
- É assim que você quer? Você quer terminar.
- Eu já não sei mais de nada. Para mim parece tudo uma bagunça. Está difícil de te entender.
- Me desculpa por eu ser eu. Eu sempre fui uma bagunça. Você sempre soube disto. - eu respirei fundo. - Eu acho melhor a gente dar um tempo. - eu precisava muito respirar. Pensar. Colocar as coisas no lugar.
- Eu não sou homem de dar um tempo. Quero resolver tudo hoje. Comigo ou se está junto ou se está separado.
- Eu vou deitar. Obrigado por ser tão compreensível comigo.
- Obrigado por me deixar como um idiota assistindo aquela desgraça de agarrar. Me deixar fazer papel de idiota na frente de todo mundo.
Eu entrei e fechei a porta. Eros saiu caminhando pela calçada. Eu sabia que ele chamaria um Uber e voltaria para a sua mansão.
Minha mãe veio correndo perguntar o que tinha acontecido. Eu contei tudo. Ela ficou perplexa e no final disse: - Queria eu ter dado uma coça no Marcus.
Eu só quis ir deitar. Foi reconfortante em abraçar minha filha. Dezenas de vezes eu liguei a tela do celular e pensei em mandar uma mensagem para Eros pedindo para ele voltar. Pedindo para esquecer tudo. Mas eu só queria que ele entendesse que eu tenho capacidade de me virar sozinha e que não somos crianças para cair na porada. Como minha filha ficaria ao ver o namorado da mãe dela surrando o pai na frente dos coleguinhas? Eu acariciei a cabeça do meu anjinho até cair no sono.
Na manhã seguinte Eros mandou uma mensagem no meu celular dizendo que eu não precisava ir trabalhar.
Eu não visualizei. Me senti estranha com tudo que acontecia. Meu ego dizia que era melhor dar um tempo.
No segundo dia em casa eu mandei uma mensagem perguntando se ele tinha se arrependido, se tinha pensado melhor, se tinha chegado numa conclusão. Ele também não visualizou.
No terceiro ao sair de casa para levae o lixo na lixeira, vi um homem me observando do outro lado da rua. O rosto familiar. Logo que ele viu que eu o vi, saiu andando apressado.
Na quinta feira eu mandei uma mensagem pedindo se podia ir lhe ver na sexta de manhã. Que eu queria demissão do emprego. Tinha passado a noite inteira pensando nisto. E achei a melhor opção.
Eros apenas respondeu com um o.k. Tão frio que me doeu na alma. Eu respirei fundo e prometi que não me estressaria.
Na sexta de manhã fui preparada para o pior. Passei a noite pensando e imaginando separações definitivas. Quais seriam as últimas palavras.
De cabeça erguida caminhei até a sua mansão. Abri a porta. Eu tinha a chave. E entrei. As cortinas estavam todas fechadas. Nuvens formavam uma tempestade acima. Coloquei a chave na porta da mansão e abri. As luzes estavam apagadas. Eros provavelmente estaria ainda dormindo.
Uma mão pegou no meu braço. Eu senti um objeto tocar na minha cabeça. Frio. Parecia com um cano.
- Não se mexe! Fica paradinha! Quietinha! E ninguém morre!
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Eros
RomanceDepois de um casamento fracassado e uma gravidez não planejada, agora Tatiana aceita qualquer emprego para sustentar a sua filha. Ela é só mais alguém no mundo tentando neste momento sobreviver e seguir em frente. Depois de ser traída pelo pai de su...