- Levanta as mãos, vai! Para o alto! Mais alto! - a voz masculina e rouca quase gritava ao pé do meu ouvido.
Eu fiquei muito nervosa e comecei a tremer. Meu corpo perdeu o controle sobre si. Eu não conseguia me mexer.
- Levanta a merda desses braços! - ele deu um soco nas minhas costas, meu corpo foi arremessado para frente.
Com dificuldades eu levantei os braços. Minhas costas doíam. Minha cabeça não entendia o que estava acontecendo. Onde estava Eros?
A luz acendeu e os meus olhos não estavam preparados. Demoraram alguns longos segundos para se adaptar.
- Cadê o Eros?
- Caladinha. - um homem com máscara ninja, casaco de couro, calça jeans e tênis apontava a arma para mim. - Ele está bem. É só ficar quietinha que vai acabar tudo bem. É só não tentar nenhuma merda.
- Cadê o Eros? - eu suplicava por respostas.
- Cala a boca! Você já vai ver ele. Vamos andando! - ele encostou a arma nas minhas costas. O metal gelado fez meu corpo gelar. - Anda! Vai! Ou eu vou ter que dar um tiro em você?
Com dificuldades de respirar e com os olhos marejados eu caminhei a passos desajeitados até o escritório.
Ao abrir a porta de madeira eu levei as mãos à boca.
Eros estava amarrado na sua cadeira no meio da sala. Ensanguentado. Seu rosto estava roxo de tanta pancadas que levava.
- Finalmente chegou quem faltava. - o único homem sem máscara ergueu as mãos e abriu um sorriso. - Você não imagina o trabalhão que deu ficar na cola de vocês.
Eros abriu os olhos e ficou arasado ao me ver ali.
- Deixa ela em paz. Deixa ela ir embora. Eu dou tudo que você quiser. Pode me matar, mas deixa ela ir.
- Solta ele. Solta ele, por favor! Eros! Eros! - eu chorava e suplicava. Um dos rapazes me puxou pelos cabelos e me atirou no chão aos pés de Eros. Eu consegui tocar os seus pés. Meu Eros estava inchado e arrebentado. Cheio de cortes. Havia pingos de sangue pelo tapete.
- Agora você vai dar a senha do cofre ou eu vou ter que cortar um dedinho dessa linda mocinha. - o homem sem máscara se aproximou de mim e tirou uma faca do bolso.
Eu comecei a gritar e a implorar. Dois dos rapazes me ajuntaram do chão me puxando pelos braços.
- Solta ela! Solta ela! Eu dou a senha! A senha é a data de aniversário dela.
- Que romântico. - o homem sem máscara guardou a faca e mandou me soltar. Eu corri até Eros abraçando-o. - Qual é o seu aniversário Tatiana?
- 25 de agosto. 2508.
Ele foi até o cofre no meio da parede da estante de livros e digitou os números. Um bipe e uma luz azul abriram o cofre.
- Que beleza! Gosto assim! Quem sabe assim eu deixo vocês saírem vivos. - agora que eu olhava para o rosto dele eu sabia que o conhecia de algum lugar. Ele era o mendigo na pizzaria, o homem que observava a limosine e eu observava do restaurante. Ele era o homem na ciclovia que eu vi quando fui correr. Eles estavam me vigiando. Esperando o momento certo para entrar na mansão e assaltar o cofre.
- Tem só isso? - o homem sem máscara estava furioso. O sorriso no seu rosto tinha se transformado em ódio. - Cadê o resto? Onde está o resto? Não é possível que um cara com uma casa desse tamanho só tenha isso de dinheiro no cofre. Cadê o meu dinheiro?
Ele se aproximou de Eros e começou a bater nele. Socos na cara, no peito, na barriga. Chutes nos braços. Puxava os cabelos de Eros. E engatilhou a arma. Levantou a arma para o alto e deu três tiros.
O som foi tão alto que os estampidos me fizeram saltar. Meu rosto estava lavado de lágrimas. Eu só pensava se ainda viveria. Se Eros morreria.
- Não tem mais. Fica tudo no banco. Ninguém deixa milhões dentro de um cofre hoje em dia. - Eros tentava se explicar.
- Cala a boca! Cala a boca! - o homem sem máscara colocou a arma na minha cabeça. - Será que eu vou ter que matar ela para você dizer onde guarda o dinheiro?
- Não tem mais. Eu juro! Eu juro! Não mata ela! Por favor! Eu suplico. - Eros chorava e gritava. Sua voz estava rouca. Saía num rompante rasgado. - Espera. Espera. Tem as jóias. Estão no quarto. Na gaveta.
- Me fala mais dessas jóias. - o homem sem máscara esfregava a arma na minha cabeça. - Vai fala!
- São uns diamantes. Uns colares de ouro e pérolas. Algumas jóias de família. Elas valem muito. Você pode revendê-las.
- Cala a boca! - ele deu um chute no Eros tão forte que fez a sua cadeira tombar para frente e Eros bater com a cara no chão. - Solta ele! - um dos homens mascarados se aproximou e cortou as cordas que amaravam Eros na cadeira.
Eros esticou os braços sobre o tapete e se ergueu. Meu Eros, um homão, estava todo arrebentado.
Um dos rapazes segurava uma arma apontada para mim.
- Vamos fazer assim. Nós vamos subir com você até o quarto pegar as jóias e a boneca fica aqui. Se acontecer qualquer coisa. Qualquer barulhinho eles vão crivar ela de balas. Entendido?
Eros balançou a cabeça positivo.
- Então vá na frente. - o homem sem máscara segurava a arma apontada. Dois rapazes foram junto com ele. E dois ficaram no escritório me olhando.
Rios de lágrimas quentes escorriam pelas minhas bochechas. Os minutos em que Eros saiu foram os mais longos da minha vida. Eu apenas implorava para que eles não o matassem. Eu só queria que isso tudo acabasse.
Meus ouvidos se afinavam no silêncio tentando ouvir algo que acontecia no andar superior da casa. Eu não conseguia definir o que eram os ruídos. Meu coração palpitava forte. Eu respirava fundo e chorava.
O homem sem máscara apareceu na sala. Eros veio atrás. Ele parecia satisfeito. Sorria.
- Não chora Tatiana. Falta pouco para isso acabar. Como eu sou piedoso nós vamos amarrar vocês aqui juntinhos e vendados. E vocês nunca vão contar isso para ninguém. Se ligarem para a polícia eu vou seguir vocês até o inferno. Eu prometo. E eu sei onde seus pais morram Tatiana. Sei onde a Larissa estuda.
Minha alma foi estraçalhado com aquela ameaça. Minha filha. Minha mãe. Meu pai. Eu não conseguia supor que eles poderiam ser torturados ou assassinados. Eu estava destruída.
- Agora os dois ali no centro juntinhos. Você! - ele apontou para um dos encapuzados. - Vai lá e amarra os dois. Venda eles também. - ele olhava dentro do saco de lixo preto com certa alegria. - Não precisa chorar, Tatiana. É só ficar comportadinha. E não contar para ninguém.
Um celular começou a tocar. O homem sem máscara tirou do bolso e antendeu fez sinal para que o rapaz que fosse nos amarrar parasse imediatamente.
- Sim! Filha da puta! Eu vou encher de bala esse merda!
Os outros rapazes estavam preocupados.
- O que que foi?
- A polícia esta vindo aí. Esse idiota deve ter chamado a polícia em algum momento. Mas eu vou matá-lo. Vocês vão indo. Isso é entre nim e eles. Vão. Corram. Ou vocês querem ser presos? Seus merdas!
Uma sirene de carro de policia tocava no fundo. Os rapazes encapuzados saíram correndo.
Só ficamos nós três no escritório.
- Tati, eu só quero que você me desculpe por tudo. Eu te amo. Eu te amo. - Eros falava o mais rápido possível. Ele tentava me proteger do homem sem máscara.
- Eros. Eros. Eu estou grávida.
E tiros explodiram no ar. Sangue respingou no meu rosto.
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Eros
DragosteDepois de um casamento fracassado e uma gravidez não planejada, agora Tatiana aceita qualquer emprego para sustentar a sua filha. Ela é só mais alguém no mundo tentando neste momento sobreviver e seguir em frente. Depois de ser traída pelo pai de su...