Uma nova Cinderela (parte 21)

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Só me restava lhe acalmar. Larissa estava revoltada.
- Ele disse que vinha. O pai disse.
- Eu sei meu amor. Mas houve um problema. Seu pai disse que vem no final de semana e que vai lhe comprar o presente que você quiser.
Minha mãe bateu na porta do quarto.
- Seus avós vão ficar tristes se você ficar no quarto. Eles decoraram tudo só para você. Então vamos lá fora. Eu prometo que vou assistir o que você quiser. Podemos dormir a hora que você quiser. E tem tanta coisa boa para comer.
"Toc-toc" na porta não parava.
- Já vou mãe. - Larissa estava quase convencida a seguir em frente. - Vamos meu amor. Vamos lá fora.
"Toc-toc".
- Tati. Tem visita para você.
Meu coração gelou. Quem?
Abri a porta do quarto.
Sentado na cozinha ao lado da mesa, Eros estava sentado ao lado do meu pai. Com um copo de vidro de extrato de tomate com refrigerante dentro.
Ele deu um leve sorriso.
- Seu pai estava me contando algumas curiosidades sobre você, Tati. - Eros ergueu o copo tomando um gole.
Eu não sabia o que dizer.
- Você veio. - foram as únicas palavras que consegui pronunciar.
- Quem é ele mamãe. - senti as mãos da Larissa se pendurando na minha perna.
- Oi, Larissa. - Eros se levantou num pulo da cadeira. - Sua mãe me contou que você estava de aniversário hoje. Quantos anos é que você faz hoje, mesmo? Uns 35?
- Nãaaaaaaaooooo. - Larissa fez um bicão. Em seus olhos havia muita curiosidade. Larissa sempre foi curiosa. Fascinada com adultos. - Eu faço ó. - ela abriu a mão mostrando os cinco dedinhos.
- Uau! Tudo isso? - Eros se apoiou um joelho no chão para ficar na altura dela. - E você ganhou algum presente?
Meu pai, minha mãe e eu estávamos perplexos tentando assimilar o que acontecia na nossa frente. Eu ainda estava meio chocada de ver Eros de calça jeans, camisa e tênis na minha cozinha.
- Simmmmm. - Larissa saiu gritando pela casa e pulando. Pegou seus presentes e começou a mostrar um por um para Eros. - Esse eu ganhei da minha mãe. Esse do vô. Esse da vó. Esse aqui da minha profe.
- Que lindos.
Minha mãe aproveitou enquanto os dois conversavam e se aproximou de mim.
- É o seu chefe? - ela sussurrou ao pé do meu ouvido.
- Sim.
- É bonito mesmo.
Olhar os dois se dando bem aliviou meu coração.
Eu caminhei nas pontas dos pés até pertinho dos dois. Ele estava tão interessado no que Larissa contava. Tão gentil. Tão bacana. Me deu vontade de beijá-lo na boca.
- Você aceita um pedaço de bolo, Eros? - minha mãe já estava enfiando comida goela abaixo da visita. - Só não repara na bagunça.
- Muito obrigado. - Eros pegou na bandeijinha de papel com desenhos de unicórnios e com o garfinho de plástico rosa choque levou um pedaço de bolo até a boca.
- Está uma delícia. Muito obrigado. Larissa. Você deixa eu conversar um pouquinho com a sua mãe?
Ela não sabia o que responder. Apenas levantou os ombros num sinal de tanto faz e olhou para mim.
- Eu já volto, querida. - fiz um sinal com a mão e Eros veio até mim.
Caminhamos pelo quintal.
- Eu estou surpresa com a sua aparição. Eu sinto muito mas hoje não vou poder sair com você. Por mais que eu queira.
- Eu sei. Na verdade vim fazer um convite para vocês. Como é aniversário da Larissa, queria levá-la em um lugar especial. Reservei só para nós. Seus pais também são convidados.
- E esse lugar é aonde?
- Ahhh. Isso é surpresa. E antes que você diga qualquer coisa. Posso assegurar que toda criança ama ir neste lugar. Eu fechei só para nós. Não haverá mais ninguém. Tudo liberado. Só para nós. Sem filas. Com comida liberada. Tudo. Topa?
- Não sei se é uma boa. Ela já ficou muito abalada com o que aconteceu hoje. E tenho medo que ela se apegue a você também e depois, sabe.
- Tati. Nós não somos namorados?
Eu respirei fundo. Senti ele pegando minhas duas mãos. Estávamos atrás do pé de limão. No meu quintal. Algo ainda meio que inacreditável.
- Somos.
- Então deixa eu participar da sua vida.
O pedido fez eu rever meu posicionamento. Depois de Marcus, prometi a mim mesma que nunca colocaria um homem na vida da minha filha sem ter certeza de que ele não iria embora.
- Eu não sei, Eros.
Seus dedos se entrelaçavam nos meus. Estávamos um de frente para o outro. Meus olhos presos no seu peitoral.
E num gesto delicado, ele levantou meu rosto com seu dedo indicador.
Tão lindo. Tão maravilhoso. Tão cheiroso. Tão gostoso.
- Confia em mim?
Fechei os olhos. E o beijei.
- Confio. - sussurrei.
- Então vamos lá. Aposto que a Larissa nunca mais vai esquecer desse dia. Vai ser o melhor aniversário da sua vida.
- Meu Deus, Eros! O que você está aprontando?
- Você verá, meu amor.
Era a primeira vez que ele me chamava de amor. Me inundou de alegria.
Ao entrar na cozinha, Larissa já estava brincando com as bonecas. Meus pais faziam de conta que estava tudo na maior normalidade.
- Mãe, Pai, filha. Como hoje é seu aniversário, bebê. O Eros quer levar todos nós para dar um passeio num lugar especial. Então eu quero saber se vocês topam ir.
Os três me olharam atravessado.
- E onde seria? - minha mãe estava cética. Queria mais detalhes.
- É uma surpresa. - Eros estava todo sorridente. - Aposto que todos vão gostar. Eu acho.
Meus pais trocaram olhares. Ficaram arregalando os olhos. Mas no final concordaram em ir.
- Usem roupas confortáveis. Tênis ajuda.
Meus pais foram no quarto se trocar. Eu peguei meu par de tênis na dispensa. Calcei os tênis da Larissa. Ela estava amimada. Nem lembrava do pai. Estava ficando eufórica.
Todos prontos fomos até o carro de Eros. A caminhonete gigante tinha espaço interno para um batalhão. Meus pais ficaram até receosos ao bater as portas do veículo.
Fícamos todos em silêncio. Eu sentada no banco do carrona. Meus pais e a Larissa no banco de trás.
- Vai demorar muito? - Larissa não pode entrar no carro e já quer saber se chegou ao destino.
- Prometo que não demora muito.
E depois de virar em algumas esquinas, percorrer algumas quadras olhando as casas, árvores e postes de luz passando por nós. O carro parou.
- Chegamos. - Eros estava animadíssmo.
Desci do carro e abri a porta para minha mãe. Larissa pulou do carro no cascalho.
Todos estavam olhando para o alto. Franzi minha testa. O que tanto lhes impressionava?
Larissa deu um gritinho e apontou para minhas costas. Segurei na sua mãozinha e arrumei seu vestidinho.
Eros se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro.
- Eu espero que vocês gostem. É só para vocês.
Eu virei meu rosto para ver. E tantas luzes. Tão altas. Objetos girando, subindo, balançando e descendo me deram uma leve sensação de vertigem.
- Eros? Eu não acredito. Você fechou o parque de brinquedos para minha filha?
- Amor. Eu fecharia toda a cidade só para vocês.

ErosOnde histórias criam vida. Descubra agora