Capítulo 08

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“O que mais me irrita é minha incapacidade de resistir”.


Dulce


— Droga, não era para me abalar tanto! — Soquei o volante com as duas mãos, estava insatisfeita com a minha fraqueza em relação àquele idiota gostoso.


— O que você disse, Dul?


Arregalei os olhos ao perceber que não estava sozinha. Anahí havia pedido uma carona até seu apartamento. Falei tão baixinho, mas a garota tinha ouvidos de gavião.


Virei o rosto para ela e sorri.


— Nada não. Coisas que estou pensando.


— Hum, não é nada com o carrasco gostoso não, né?


Acho que eu estava dando muito na pinta, mas era meio complicado resistir àquela tentação em forma de homem. Puta merda! Quando senti seu corpo musculoso junto ao meu, tive uma vontade louca de arrancar suas roupas e tê-lo ali dentro daquele elevador sem me importar com mais nada. O calor da sua pele deixava-me em chamas.


Contudo, eu não iria ceder tão fácil. Não mesmo. Cretino! Mexeu com a garota errada!


— Ainda teve a audácia de me chamar de inocente. Coitado!


— Vixe, amiga! Acho bom você resolver isso aí. Tá ficando louca, falando sozinha.


Droga, esqueci a Anahí de novo.


— Vou mesmo, Any. Mas não vou sozinha, o levo junto comigo. — Sorri matreiramente.


— Nossa, coitado!


Anahí Portilla era minha amiga desde que entrei na empresa. Nos demos bem de cara, ela era engraçada, extrovertida e avoada. Mesmo com essa personalidade sociável, eu a achava um pouquinho triste às vezes. Não falava muito da sua vida pessoal, era bem fechada. Na verdade nós nos encontrávamos pouco fora do trabalho. E isso estava prestes a mudar.


— Any, por que nunca nos encontramos para um cinema ou uma saída num barzinho?


Ela franziu a testa e jogou os cabelos loiros para trás dos ombros.


— Porque você é uma reclusa louca que fica em casa de pantufa vendo televisão enquanto traça planos malucos para enlouquecer o chefe — disse rindo da minha cara.


— Humpf, sua chata. É sério!


— Ah, não sei, Dul. Talvez nunca tenhamos pensado nisso. Por que, quer dar uma voltinha comigo? — Balançou as sobrancelhas. — Será que eu faço seu tipo?


— Argh, não mesmo! Mas quero sim, o que acha de sábado pegarmos um cineminha e depois irmos beber alguma coisa?


— Gostei, combinado. Te pego na sua casa. Não precisa vir me buscar — ela disse como se estivesse com medo de que eu aparecesse em sua casa. Que estranho.


— Ok.


Terminamos o restante do caminho em silêncio. Quando chegamos em frente ao seu apartamento, Anahí se despediu rapidamente e entrou no prédio. Seria bom sair um pouco, apesar de gostar de companhia, eu era muito reclusa por não estar acostumada a morar sozinha. Minha vida toda morei numa casa cercada de gente. Quando resolvi ser independente foi uma feliz descoberta de liberdade, não tinha ninguém me controlando ou pedindo satisfações do que fazia ou deixava de fazer. E não pretendia perdê-la tão fácil.


Podia andar pelada pela casa que ninguém iria reclamar. Fazer o quê? Eu gosto assim.


Bem, bem... Mas voltando ao carrasco, após a vaca da sua irmã sair e me fuzilar com aqueles olhos malvados de cobra venenosa, sabia que viria chumbo pesado do Brutus. E logo fui arrumando minhas coisas, mas na verdade foi pior do que ser demitida. Ser classificada como algo sem importância foi bem doloroso. Ainda mais porque eu não conseguia esquecer o cachorro. Droga, por que tinha que ser tão gostoso?!

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