Capítulo 47

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"Serei a sua mais gostosa tentação. Perca-se em meu corpo, estou entregue!"

Dulce

Eu devo ter feito alguma coisa muito errada ou muito certa em minhas vidas passadas. Quando Christopher me encurralou não tive escapatória a não ser me render ao desejo que ardia em mim. Até que a chatinha da minha amada amiga apareceu. Bem, antes ela do que qualquer outra pessoa. Seria constrangedor.

E o filho da puta gostoso tinha que se fazer de desentendido? Ai, como eu queria odiá-lo! Mas como, pelo amor de todas as mulheres perdidas por safados e cafajestes? O cara era simplesmente delicioso, somente com um beijo era capaz de me deixar excitada num grau que nunca tinha alcançado antes.

Agora tinha uma amiga parada no meio da cozinha, me observando com as sobrancelhas arqueadas e escondendo um sorriso debochado.

— Pode parar, dona Anahí. Não quero gracinha para o meu lado.

Ela assentiu e se aproximou com a garrafa de café nas mãos. Só então notei as olheiras em volta de seus olhos, ela estava com a aparência bem fatigada. Any sempre se mostrava alegre e resplandecente. Alguma coisa devia estar errada.

— Any, você parece abatida. Tem alguma coisa acontecendo?

Sem me olhar nos olhos e concentrada em encher a garrafa de café, ela suspirou profundamente e seu sorriso morreu.

— Tive um fim de semana complicado. Os fantasmas voltaram para me assombrar.

Franzi a testa e me recostei na bancada cruzando os braços.

— Hum, namorado?

— Vixe, nunca foi! Mas tudo bem, amiga, logo vai passar e voltarei ao normal. Além do mais, nunca foi importante.

— Sabe que se precisar de mim, pra bater no cachorro, é só chamar, né?

Ela riu e, então, virou seu olhar azul clarinho pra mim. Seus olhos encheram de lágrimas e ela balançou a cabeça. Voltou sua atenção ao que estava fazendo para tentar disfarçar as emoções, mas ela não era boa nisso.

— Eu sei, amiga. Esse canalha não vai mais chegar perto de mim.

Eu ia abrir a boca para responder que se ele se aproximasse, nós o caparíamos, quando uma voz masculina e sexy invadiu a cozinha.

— Então quer dizer que o anjo esquentadinho se chama Anahí?

O corpo da minha amiga ficou tenso e ela franziu a boca numa careta de nojo.

Depois engoliu em seco e se virou para encará-lo com a garrafa cheia nas mãos. Acho que, pelo olhar assassino em seu rosto angelical, ela jogaria o café nele, se pudesse.

— Sim, senhor Herrera. Esse é meu nome, se me der licença agora, preciso levar o café do Everaldo.

Any nem arriscou um olhar em minha direção, porque tentou sair da cozinha como um furacão, porém Poncho a segurou pelo braço, a encarando confuso. Ele não era o único, eu também não entendi naquele momento a repulsa repentina por alguém que ela mal conhecia.

— Que isso, sweet girl. Tá com pressa, por quê?

— Tira. Essas. Mãos. Nojentas. De. Mim — falou entre dentes.

Arregalei os olhos pela rispidez da sua voz doce. Surpreso, Poncho a soltou. Anahí não perdeu tempo, saiu dali tão rápida que parecia o Papa-Léguas correndo do Coiote.

— Acho que a coisa é mais séria que pensei. — Poncho a observava com a mão no queixo. 

— Do que você está falando? Sabe o motivo de ela estar assim?

Ele se virou parecendo surpreso de me ver ali. Então percebi que Poncho tinha perdido realmente a noção de tudo, aí caiu a ficha de que ele estava interessado em Any. Não gostei daquilo, pois ela era muito boa para um cara safado como ele.

— Você tá dando em cima dela? Alfonso, fica longe. Anahí é muito boa pra você.

Nos tornamos amigos nas semanas que ele ficou na empresa, e, sim, eu tinha intimidade para dar esse ultimato nele. E mesmo se não tivesse daria mesmo assim, eu sou meio protetora com quem eu gosto.

— Inferno, girl. Eu sei, mas ela me deixa maluco. Sabe por que dessa acidez toda comigo?

Estreitei meus olhos para ele e pensei em sua pergunta. Notei que não sabia muito sobre Any.

Ela era muito reservada e nosso relacionamento se resumia a contatos na empresa e aquela saída para o bar, que foi fracassada pela presença do Christopher.

Estranho isso.

— Não sei, mas mesmo se soubesse não te diria. Bom... tenho que ir, o Brutus já está na empresa e preciso trabalhar.

Poncho riu e assentiu.

— Ok, gata. Vê se cuida direitinho do meu amigo. Ele parece durão, mas no fundo é uma florzinha.

— Sei, um cravo de defunto bem fedido, isso sim.

Sua gargalhada aumentou e ele me abraçou. E seu perfume invadiu meus sentidos, o homem era bem cheiroso. Deus, de onde saíam esses caras maravilhosos, cheirosos, gostosos, safados e cachorros? Droga, que merda, já estava pensando no carrasco sem-vergonha.

Desvencilhei-me do seu abraço e me despedi, não antes de lhe dar um último aviso sobre Any.

Mas claro que ele nem me ouviu, afinal caras como Alfonso e Christopher viam uma recusa, ou desdém, como um desafio e não costumavam se deixar vencer tão fácil. Tive a impressão ao ver o sorriso lindo do Poncho que minha amiga não iria conseguir resistir por muito tempo. Ele era simplesmente e maravilhosamente sexy.

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