Capítulo 83

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- Quando terminei com o meu namorado, e percebi o quanto da minha vida tinha sido controlada, corri pra cá e sentei naquela pedra. Olhei a água correndo rio abaixo enquanto meus olhos derramavam lágrimas e não queriam parar. Retirei minha roupa e entrei. Estava tão frio naquele dia que achei que poderia congelar. Nossa, foi realmente doloroso quando saí. Mas, enfim, eu acreditava, e ainda acredito que tudo estava destinado a acontecer. Porém não me conformava por ter me deixado chegar àquele ponto de sentir-me humilhada por minha própria estupidez. Eu pedi para quem estivesse a cargo do destino que me desse um amor diferente, vou repetir as palavras que usei, para que não pareça que sou muito louca. - Ouvi sua risada baixa e continuei. - Neste dia em que minha vida mudou completamente, deixo de ser alguém controlável e passo a mandar em minha própria vida. Contudo deixo ao destino um único trabalho: o amor. Mas tenho certas exigências que não podem ser ignoradas. Quero um amor doce e amargo, alguém que me tire do sério, e me arrebate com seu sorriso safado. Uma pessoa que me ame com tudo o que tem, que daria a vida por mim. Não quero o mocinho das histórias de romance, mas o vilão que saiba me levar à loucura. Quero alguém que ao olhar em seus olhos possa me perder para depois ser resgatada por seus braços. Traga para mim o maior pecador, chega de ser boazinha, destino. Serei a presa do predador mais cruel. É isso que eu quero, um amor pecaminoso. - Desgrudei nossos lábios e encarei aqueles olhos que me fizeram perder a cabeça. - Quando eu vi seu rosto a primeira vez que gozou em mim, soube que era você. E fugi como uma doida, pois não queria mais isso, era perigoso amar. E dou graças a Deus por você ser tão cabeça-dura quanto eu. Ou teria perdido o mais delicioso e perigoso amor.

Christopher ficou me olhando por tanto tempo que achei que ele não tinha ouvido nada do que eu disse. A única prova que havia se abalado com algo era seu coração acelerado nas palmas das minhas mãos.

- Eu fui ao inferno e voltei por sua causa. Perdi meu coração duas vezes na vida. - Quando ele falou isso engoli em seco, achei que estava se referindo às perdas da mãe e de Maite.

Abaixei os olhos e respirei fundo. Acho que nunca seria páreo para a falecida, afinal foi alguém importante em sua vida. E como competir com um defunto? Impossível!

Senti dois dedos fortes segurando meu queixo e forçando para cima, deparei-me com seus olhos felinos.

- Eu amava tanto a minha mãe, que quando ela se foi achei que iria apenas existir. Por muito tempo não vivi plenamente até que encontrei algo com o que me distrair, e Maite foi isso para mim. Um controle, algo doce em minha vida de fel. E a segunda vez que perdi minha vontade de viver foi quando te vi na mira daquela arma. Meu mundo desabou e tive a certeza de que se a perdesse não sobraria nada de mim. E sim, eu daria minha vida pela sua, pois nada mais importa se estiver sem seu sorriso. O nosso amor é pecaminoso e eu só quero mais.

***

"Na tortura mais doce, me entrego cegamente."

Christopher

Depois de nos secarmos ao sol, e também curtir uns amassos na grama daquele riacho, voltamos de mãos dadas para a casa da família da Dul. Confesso que fiquei preocupado e muito inseguro pelo que iriam achar de mim. Nunca havia me sentido assim, porque não estava acostumado com essas coisas. Era tudo novo e me vi balbuciando como um idiota. Quase não consegui dizer uma frase coerente completa.

E, apesar de todos os avisos de Dulce sobre a mãe, eu realmente não estava preparado, ela era tão intensa que dava medo. A mulher tinha uma língua ferina, e constatei que a filha herdou tudo dela.

Aquele dia foi uma junção de acontecimentos que quase me levaram a nocaute.

Porém tudo mudou de rumo quando minha provocadora veio com um papo de pedido para o destino. Aquilo me desarmou completamente, fiquei entregue ao seu dispor para que fizesse o que fosse comigo. Só que algo me incomodou. Ainda sentia Dulce triste com algo, parecia insegura. Mas não pude pensar muito sobre o assunto, pois logo voltamos para a casa principal.

O almoço foi bem legal e pude presenciar o amor que tinha naquela família, tão diferente da minha. Sempre fomos cercados de desconfianças, traições e tudo que havia de sujo no mundo. Após a morte da minha mãe minha vida familiar ficou sombria e fria.

A interação da Dul com o irmão também era outra lição a se aprender. Eles eram companheiros de aventuras e me contaram peripécias de sua infância, junto com os outros dois que moravam longe.

Tive até um ultimato por parte dele. Apesar de achá-lo meio intrometido, eu entendi muito bem, porque era superproteção de irmão, coisa que eu não estava acostumado, já que conheci muito pouco esse amor puro.

De tarde fui levado para conhecer a propriedade, o lugar era modesto, contudo muito bem cuidado. Tinha alguns cavalos e bois, mas eles sobreviviam de plantações, na verdade o cultivo de hortaliças que abastecia o restaurante da família. Aprendi a plantar e também a cuidar para que ficassem grandes e viçosas. Foi bem legal conhecer esse lado dela. Descobri o quanto penou para concluir os estudos, mesmo sendo tão modestos. Seu pai me disse que ela percorria um pedaço de chão para estudar, pois eles sempre a incentivaram a sair do interior. O que em suas palavras me emocionou, pois era a mais pura verdade: "Minha menina tinha que brilhar mais que a estrela maior do céu". Eu concordava plenamente, o desistir não existia em seu vocabulário. Lutava pelo que queria e não arredava o pé.

Quando a noite chegou fizemos uma fogueira no quintal e comemos churrasco regado a muita conversa e risos. Senti-me em casa, como há muito não acontecia. Acreditei que tudo foi obra do destino mesmo ao colocar aquela mulher em meu caminho, pois estava perdido e não sabia.

Estávamos deitados na cama, nos curtindo e observando-nos sem dizer uma palavra. Dulce percorria o dedo por minha pele fazendo desenhos e contornos imaginários. Até que parou em meu braço e logo retirou a mão. Não disse nada, e nem precisava. Percebi que aquilo a incomodava.

Eu não me importava, se estivesse ali ou não. A felicidade da minha mulher vinha em primeiro lugar. Naquele momento eu não falei nada e fingi não ter percebido seu incômodo. No dia seguinte acordei cedo e saí, pedi algumas instruções ao pai dela e parti para a cidade, uma hora depois cheguei e encontrei o que queria.

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