Capítulo 09

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Mas então meu plano de deixá-lo maluco começou a se formar na minha cabeça. Eu deixaria o cara de quatro e depois o dispensaria. Fácil assim! Só esperava não me queimar no caminho. Mas odioso como era, eu só iria querer usar seu corpo mesmo, o cara não devia ser alguém legal de se bater um papo. Um sorriso se abriu em meu rosto ao pensar no que tinha debaixo daquele terno perfeito. O pecado, com certeza.


Cheguei em casa e abri a porta devagar. Logo fui acometida por uma bola de pelos. Meu cachorrinho, Fred, não parava de pular em minhas pernas.


— Fred, menino mau. Se comporte, senão mamãe não vai te levar pra passear. — Ele se sentou e colocou a língua pra fora.


Ganhei Fred de um ex-namorado, na verdade a única coisa que me sobrou de bom daquele relacionamento. O cara era um panaca, sem sal e monótono. Não queria monotonia num homem, mas muita sedução e sexo ardente.


Então, todos os dias nós corríamos pelo bairro. Como eu não tinha tempo e nem gostava de academia, tinha costume de correr, e Fred me acompanhava. Ele era um Golden Retriever de um ano de idade. Nos dávamos muito bem.


Abaixei-me à sua altura e acariciei seus pelos dourados.


— Agora sim, menininho da mamãe. Eu vou tomar um banho e já vamos para o passeio. Ok?


Podia jurar que ele assentia com a cabeça. Logo foi para seu cantinho e aguardou. Entrei debaixo do chuveiro e tomei uma ducha rápida. Quando já estava com short e top, o meu telefone tocou. Corri para o quarto e o retirei do suporte.


— Oi, mãe. — É, eu sabia que era ela porque mamãe me ligava todos os dias nesse horário.


— Oi, criança. Como estão as coisas por aí? Já matou alguém com esse humor ácido?


Tá, agora vocês viram a quem puxei. Ela não ficava atrás, coitado do meu pai.


— Rá, muito engraçado, mãezinha. Eu sou uma santa. Mas tá tudo bem por aqui. Vou sair pra correr com o Fred.


— Sei, de santas iguais a você o inferno tá cheio.


— Credo, mãe. — Eu tive que rir da sua sinceridade dolorosamente verdadeira.


Ela me conhecia bem demais. E na verdade éramos exatamente iguais.


— Bom, só liguei pra saber como foi seu dia. Não vou te alugar por muito tempo. Beijos e tchau.


Desligou sem me deixar responder. Às vezes tinha a impressão que minha mãe era meio louca.


Caramba, nem me deixava responder. Mas paciência.


Fui até a sala e assoviei, logo Fred apareceu com a coleira entre os dentes. Meu cachorro era mais educado que certos caras. Sacudi a cabeça ignorando que aquele homem estava preenchendo demais meus pensamentos.


Passei pelo porteiro que acenou pra mim. Comecei a corrida com um ritmo moderado para que eu e Fred nos esquentássemos, mas logo estava numa velocidade comum para nós e meu amigo me acompanhava direitinho. Quando, enfim, terminamos nosso exercício diário estávamos ambos cansados, só faltava eu ficar com a língua pra fora como o meu cachorro.


Assim que pisei no prédio, seu Adilson me parou.


— Dona Dul, tem uma encomenda aqui. Deixaram dez minutos depois que saiu.


Assenti e aguardei, ele pegou debaixo do balcão uma caixinha com um envelope entre o laço que o prendia. Agradeci e subi para o meu apartamento. Coloquei a caixa em cima da mesa de centro e fui para o chuveiro. Fred foi para seu cantinho na área de serviço.


Provavelmente comer e dormir.


Tomei uma ducha rápida e coloquei uma roupa confortável. Voltei à sala e me sentei no sofá.


Abri a caixa devagar e nela tinha vários bombons importados. Franzi a testa confusa, não tinha ideia de quem enviou. Peguei o envelope para verificar de quem se tratava. E o que estava escrito me deixou entre furiosa e excitada.


Para a mulher mais doce e azeda que conheço: Bombons para acariciar seus lábios, pense em mim quando degustá-los. Enlouqueça com cada sabor, vicie-se. Sinta neles um terço do que sinto por você. A cada minuto que passa, quero mais desse seu gosto de pecado. 


— Que filho da puta!


Se ele estava querendo me desestabilizar para que caísse em sua lábia, estava muito enganado.


— Eu que não vou comer esses bombons. Vai que tem um afrodisíaco maluco que me faz querer pular em cima dele assim que o vir?


Sorri, como se isso já não acontecesse. Bufei e fui pra cama. O dia seria cheio e, provavelmente, o cara estaria com o contra-ataque armado contra mim.


Deitei-me e fiquei olhando para o teto, refletindo como tudo aconteceu desde que entrei na On System, nosso sexo enlouquecedor e depois eu sendo dispensada sem mais nem menos. Ali, naquela cama, percebi algumas coisas.


Eu estava com o alvo na palma da mão. Era só cutucar mais a onça.


Não seria fácil resistir àquele charme, o cara era nitroglicerina pura. Tinha que ser forte e não me envolver demais.


Contudo, a batalha estava armada.

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