Capítulo 72

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"A melhor parte de mim também é sua."

Anahí

Eu não sei se fiz certo ou errado, talvez esteja me precipitando em me entregar ao que havia em meu peito. Mas já foram tantos anos de solidão e saudades que não conseguia me controlar, ser orgulhosa e teimosa por algo que aconteceu sem que os dois tivessem culpa, seria apenas perda de tempo e adiar o inevitável, trazendo apenas sofrimento e complicações desnecessárias.

Estávamos a caminho da minha casa com Miguel no banco traseiro cantando musiquinhas que aprendeu na escola. Foi então que Alfonso desviou o caminho e parou em frente a um prédio na zona norte da cidade. Olhou para nós e sorriu, mas percebi a tensão em seu corpo.

— Espera aqui que eu não demoro.

Franzi a testa e assenti. Miguel pediu para que o soltasse da cadeirinha e veio para o banco da frente. Mexeu no volante e brincava de dirigir. Fazia barulhos com a boca, e muito concentrado olhava para a rua fazendo desvios e manobras imaginárias. Deixei-o se distrair e me estiquei olhando para o prédio. Era uma construção imponente e bem conservada, parecia de classe média alta.

O que será que Alfonso foi fazer nesse lugar?

Passaram-se alguns minutos e o avistei na porta do prédio ao lado de um cara robusto e careca, além de muito mal-encarado. Despediram-se com apertos de mãos e as expressões muito sérias. Alfonso se virou, aproximando-se do carro com um envelope nas mãos. Ele se aproximou e sorriu ao ver Miguel no banco da frente.

— Tá dirigindo aí, garotão?

Miguel sorriu e seus olhinhos brilhavam de felicidade.

— Sou um ótimo motorita. — Fez barulhinho com a boca.

— Que bom, agora dá licença para o papai dirigir?

Ele assentiu e se levantou, o ajudei a ir para o banco traseiro e afivelei seu cinto novamente.

Voltei-me para Alfonso e ele estava inclinado sobre o banco colocando o envelope no porta-luvas.

— O que é isso, Alfonso?

Ele olhou pra mim e sorriu. Mas percebi seu desconforto.

— Uma bomba das grandes, que vai explodir em breve.

— Ai, credo. Mas é com você?

— Indiretamente sim. Mas não vamos falar disso. Agora minha prioridade é encher a barriguinha daquele pequeno ali. O que vão querer comer?

Miguel, ouvindo que estávamos falando dele e comida juntos, gritou:

— Xuxi.

Alfonso franziu a testa, espantado com a convicção do meu filho por um dos seus pratos preferidos.

— Ele adora comida japonesa, faz um bom tempo que provou e não fica uma semana sem.

— Sério? Nossa, eu também gosto muito. Então, próxima parada comida japonesa.

Deu partida e no caminho indiquei o restaurante que costumávamos comprar.

Alfonso pegou nosso jantar e partimos animados para casa. Ao chegar, Miguel correu para o quarto pegando seus brinquedos que “comiam” conosco. Vi-me junto com dinossauros, dragões e dois príncipes à minha frente.

Sentada naquela mesa, observando aqueles dois homens lindos e tão importantes em minha vida, percebi que não era nada sem eles. Talvez tudo devesse ter acontecido exatamente daquele jeito. O tempo se encarregou de tudo.

Separamo-nos e agora, enfim, estávamos juntos. Como uma família devia ser. O sorriso no rosto do Miguel ao olhar seu pai era o prêmio que qualquer mãe zelosa podia pedir. E o amor que

Alfonso tinha pelo nosso filho me conquistou completamente. Eles me tinham cativa e eu não queria sair.

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