Há dias que acordamos sem muita perspectiva positiva. Às vezes não passa de uma má impressão que não se concretiza, porém dessa vez não foi bem assim.
A terça começou atribulada. Após o jantar maravilhoso com os dois meninos da minha vida, me vi sozinha e com um aperto no coração de ter deixado Alfonso ir embora. Claro que meu filho bastava em minha vida, mas sempre faltava um pedacinho. E o encontrei no homem que me deu o meu maior tesouro.
Levantei-me resignada com minha noite perdida e fui acordar Miguel para a escola. Admirei seu rostinho sereno e dei beijinhos em sua bochecha despertando-o carinhosamente. Assim que abriu seus olhinhos azuis, ele sorriu e soltou a pergunta que mexeu comigo:
— Quando meu pai vai vir morar com a gente?
Engoli em seco e não soube o que responder prontamente, afinal Alfonso se insinuava e brincava, mas nunca conversou sério e tenho que deixar claro que isso me frustrava.
— Não sei, filho. Temos que esperar, ok?
Ele balançou a cabeça e se levantou. Observei-o ir até a cômoda e pegar seu uniforme que estava dobradinho na gaveta. Uma saudade louca se apossou de mim. Miguel tinha três anos e quatro meses e desde que entrou na escolinha ficou muito independente.
Sempre fora inteligente e muito adiantado para sua idade. Falou muito cedo e andou também, com dois anos completos já falava de tudo. Enrolava apenas em algumas palavras, mas a cada dia me surpreendia com algo novo. Seu pediatra dizia ser normal, que cada criança tem seu desenvolvimento e tempo para as coisas, não era para levar suas traquinagens a sério demais.
Miguel apenas se fez autossuficiente prematuramente. Talvez por ficar sem a presença do pai, se transformou no homenzinho da casa. Sei lá, meu filho tinha uma superproteção comigo que me assustava às vezes.
Era possessivo desde bebê, não lidava muito bem com dividir a mamãe.
Miguel voltou-se para mim e estendeu a roupa.
— Estou ponto para o banho, mamãe!
Puxei-o em meus braços e o envolvi carinhosamente, meu bebê estava crescendo rápido demais.
— Será que você vai me amar daqui a vinte anos?
Ele se afastou e me observou atentamente, às vezes me espantava com a seriedade do meu menino.
— Eu vou te amar para sempe!
O sentimento que essa declaração me causou foi indescritível e só podia aproveitar esse amor que tanto me era oferecido, não há coisa mais pura do que o carinho de uma criança.
Passado a emoção, tínhamos que nos arrumar. O dia seria cheio e não havia muito tempo. Dei banho em Miguel e o aprontei para a escola. Tomamos café animados e conversamos sobre o que faríamos no dia. E, claro, Alfonso esteve presente em noventa por cento do que Miguel falava.
Logo saímos e pegamos o ônibus que tinha parada na frente da escola. Não demorou muito, pois o trânsito estava tranquilo naquela manhã. Deixei-o com o coração apertado, como sempre acontecia quando nos separávamos. Ficamos por dois anos muito ligados, cuidei sozinha do meu menino e era difícil deixá-lo. Acho que é assim com todas as mães apaixonadas. Sua primeira vez na escola foi tensa. Ele chorou não querendo ficar e eu tive que deixar. Chorei por horas no portão até criar coragem e ir trabalhar.
Fui a pé mesmo, a escola era bem próxima à empresa, por isso a escolhi. Mesmo sendo um pouco acima do que seria ideal para minha condição financeira, valia a pena estar um pouco próxima ao meu filho.
Ao chegar à empresa percebi que tinha alguma coisa errada. Uma gritaria podia ser ouvida do salão de entrada. Porém, o que me chamou atenção foi uma voz bem conhecida, e quando me deparei com a cena à minha frente quase não acreditei. O circo estava armado!
Dulce e Belinda estavam numa discussão acalorada enquanto Christopher olhava de fora, com os braços cruzados e um sorriso no rosto. Seu terno bem cortado estava impecável, era como se estivesse assistindo um programa de televisão.
— Mas que merda é essa? — Estava meio confusa com essa reação daquele doido.
Ele não devia separá-las? Ou, sei lá, jogar a irmã na rua definitivamente? De preferência com a cara no chão. Mulherzinha esnobe e insuportável. Seria bem legal vê-la assim.
Senti uma mão forte em meu ombro e uma respiração quente em meu pescoço.
Virei-me assustada e Alfonso sorria olhando a cena à nossa frente
— Começou o jogo, princesa. Esteja preparada. Teremos uma semana cheia.
Franzi a testa e o observei. Apesar do sorriso no rosto, Alfonso estava tenso e preocupado. Não gostei nada dessa declaração e me preocupei.
— O que quer dizer com isso?
Ele me encarou e passou as mãos por meu rosto, suspirando fortemente.
— Sabe aquele envelope de ontem? — Assenti e ele continuou. — Tem algo que vai mexer com o Christopher e pode dar uma grande confusão. Esteja pronta para apoiar sua amiga. Não que eu ache que ela pode precisar, porque a mulher sabe se cuidar muito bem. Belinda que o diga! Mas vai ficar perigoso.
— Você não vai me dizer o que é?
Ele negou com a cabeça e respirou fundo, me abraçando. Colou seus lábios em minha testa e senti seu coração batendo rapidamente.
— É melhor não, muita merda suja e gente nojenta, que não é bom você se envolver antes do tempo. Mas fique sabendo, sweet girl — Afastou-se e sorriu olhando em meus olhos, fazendo meu coração acelerar que parecia uma escola de samba. — após isso tudo acabar, eu vou me casar com você!
Arregalei os olhos não acreditando. E se não fosse por todo o barulho e confusão que acontecia à nossa volta poderia jurar que estava sonhando.
— Oh, meu Deus!
Alfonso sorriu e beijou meus lábios levemente.
— Não quero a resposta agora. Mas é isso aí, garota. Você será minha definitivamente.
E eu seria a louca de negar?
Não mesmo!
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Pecaminoso
Fanfiction[CONCLUÍDA] +18|Quando Dulce Saviñon foi trabalhar em uma empresa de processamento de dados como estagiária, não imaginou que, ao ser efetivada, passaria por uma situação tão inusitada... E deliciosa! Ela se deparou com um vício: Christopher Uckerma...