Capítulo 79

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Não contive o grito preso em minha garganta. Só pensava no que a louca era capaz de fazer, e se ela estivesse na minha frente eu a mataria sem pensar duas vezes por ousar ameaçar a vida da minha mulher.

— Se você encostar um dedo na Dulce, eu vou te matar, sua desgraçada.

Angelique riu do outro lado e não perdi tempo dando explicações para o Poncho que estava atrás de mim, comecei a descer as escadas indo em direção ao estacionamento. Rezava para que ainda estivesse lá. Dizem que os loucos psicopatas gostam de se vangloriar de suas atrocidades antes de cometê-las e contava com isso.

— Você não vai conseguir chegar perto de mim, querido. Sabe, foi bom estar ao seu lado esse tempo. Consegui, enfim, vingar a minha mãe.

— E eu com isso? Não tenho culpa se sua mãe traiu seu pai com o meu e pariu um mostro como a Belinda.

— Como você descobriu isso? — gritou histérica. Com certeza não queria que eu soubesse de tudo, talvez ainda planejasse mais alguma coisa envolvendo Belinda.

— Você se acha muito esperta, né? Mas eu tenho um dossiê seu em cima da minha mesa e as autoridades já foram acionadas, e você vai pagar pelo crime que cometeu causando a morte da Maite. Sei que é irmã mais velha da Belinda, filha do primeiro casamento de Ágata. Como também sei que ela traiu seu pai com o meu e ele se suicidou, e que sua mãe a rejeitou e você decidiu se vingar. Mas por parecer tanto com a sua mãe passou por um processo doloroso de cirurgias plásticas. — Fiz uma pausa tentando não parecer ofegante da corrida na escada e ri. — Você é ridícula Angelique, todo aquele papinho de marido controlador. Pelo que sei, você se casou com um velho milionário e o coitado morreu misteriosamente enquanto dormia. É só isso, ou tem mais sujeira que não sei?

— Nossa, eu sabia que você era bom de cama, mas é também fora dela, né? Até o assassinato daquele velho babão descobriu. Bom, então já sabe tudo o que passei em minha vida por culpa da sua família. Como minha mãezinha se encarregou do seu velho, eu prometi a ela acabar com sua vida. E a melhor maneira que encontrei foi tirar o que mais ama: sua mulher e sua empresa. Tchau, querido, te encontro no inferno. — E desligou.

— Porra, desgraçada! — aumentei minha corrida que parecia não chegar nunca.

Maldita, se ela fizesse mal a Dulce, eu a mataria sem dó nem piedade. Depois do que pareceram séculos, enfim, cheguei ao estacionamento. Olhei em volta à procura do seu carro e quando encontrei meu coração quase parou. Angelique sorria loucamente com a arma apontada para Dul que, de onde eu estava, parecia estar de olhos fechados. Então agi por instinto e gritei:

— Dulce?!

E tudo se transformou numa confusão dos infernos. Angelique olhou para mim assustada e Dul agiu.

Com um sapato na mão, ela bateu em Angelique e a chutou no peito fazendo-a perder o ar. Aproveitando o vacilo da sua captora, saiu do carro e correu em minha direção. Sem pensar duas vezes fui ao seu encontro, porque estava louco para abraçá-la e mantê-la em meus braços, protegendo-a. Ela estava no meio do caminho quando ouvimos um estampido que reverberou em meu coração, queimando-me completa e literalmente.

Quando percebi estava de joelhos, tonto e meus olhos lacrimejaram da dor.

— Oh, Deus! Christopher, fala comigo, amor.

Olhei para cima e minha Dul estava ali, a salvo e inteira. Escutei um barulho de pneus cantando no asfalto e vi o carro da Angelique saindo em disparada do estacionamento.

— Cara, você está bem, né? Eu vou atrás dela. Não vai ficar assim.
Alfonso passou por nós e entrou em seu carro saindo em disparada atrás da louca.

Apesar de estar sentindo muita dor, só conseguia sorrir para a minha linda.

Dulce ajoelhou-se na minha frente e peguei seu rosto entre minhas mãos, dando beijos em seus lábios, sentindo seu corpo e comprovando que ela estava viva.

— Você tá bem? Ela te machucou?

— Não... Eu estava em transe e conformada com tudo quando ouvi você gritando. Não podia deixá-lo sozinho. — Lágrimas desciam por seu rosto e passei os polegares para secar. — Oh, Deus! Christopher, sua barriga está sangrando. Você vai morrer, amor?

Sorri e fechei os olhos, a abracei tomando cuidado para não sujá-la de sangue.

Eu não saberia dizer sobre meu ferimento, mas acreditei não ser muito sério, apesar da dor que sentia.

— Pega meu telefone e liga para a ambulância, eu estou começando a ver tudo embaçado.

— Ai, droga. — Ela enfiou a mão no bolso da minha calça e pegou o telefone ligando para o hospital.

Dul estava tão nervosa que mal podia falar. Então peguei o aparelho de suas mãos e expliquei para a telefonista sobre o caso. Ela prontamente me deu instruções e pediu para que verificasse a ferida. Fiz o que me pediu e constatamos que tinha sido de raspão, ou então eu já teria desmaiado.

Mas mesmo assim era para fazer compressa no local.

Retirei o paletó e fiz uma bola. Sentei-me no chão e prendi o tecido na ferida.

Dulce, que chorava copiosamente, sentou-se ao meu lado abraçando meu corpo, como se assim comprovasse que eu ainda estava ali.

Eu sorri e apoiei o queixo em sua cabeça. Estava mais que feliz por minha mulher estar bem e ali comigo. Não podia imaginar minha vida sem ela e na verdade nem queria.

— Fica calma, meu amor, vai dar tudo certo.

Ela assentiu e levantou os olhos me observando. Minha provocadora estava assustada.

— Ela matou sua noiva, Christopher. A mulher é um monstro... — soluçou apertando os lábios.

— Eu sei, querida. Arrependo-me apenas de ter conhecido Maite, a pobrezinha não merecia esse fim. É tudo culpa minha.

— Ah, pode parar. Ela que é uma louca, assim como todas da família dela. Não é culpa sua, e tenho certeza que se Maite pudesse opinar diria o mesmo.

Fechei os olhos e tentei pensar como ela, mas nunca me perdoaria por isso. Eu levaria para o resto da minha vida a culpa pela morte de alguém inocente.

— Mas sabe o que é pior, Dul?

— Hum...

— Eu sofri com a perda da minha noiva. Mas nada comparado ao que senti quando vi que você não estava em sua mesa. Eu quis matar aquela desgraçada por atentar contra a sua vida. E, sinceramente, se eu estiver ao alcance dela, não penso duas vezes. — Me afastei e peguei seu queixo com a mão livre. — Eu não vivo sem você, provocadora. Quando te vi dando uma sapatada na louca e saindo daquele carro, eu só pensava em te abraçar, proteger e cuidar para que nada de ruim lhe acontecesse. Fico feliz de ter levado um tiro por você, minha linda.

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