Capítulo 55

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Ficamos brincando de carrinho por um tempo. De repente, ele se levantou dizendo que iria pegar mais brinquedos no quarto, aproveitei a sua ausência e procurei a mãe dele que até então estava quieta. Achei-a na cozinha.

Anahí estava preparando um lanche, provavelmente para o Miguel. Só que soluçava de tanto chorar. Tentei não me importar, pois aquela mulher era a razão de eu não ter visto meu filho crescendo. Porém, sentia algo por ela que eu mesmo não compreendia.

Procurei-a todo esse tempo, e quando encontrei descobri toda a traição que ela cometeu.

Eu sou um idiota mesmo!

— Tá tudo bem, Anahí?

Ela deu um pulo e virou o rosto para mim. Enxugou as lágrimas rapidamente, mas seu rosto estava vermelho e inchado.

— Sim, tudo bem. — Sua voz estava rouca e embargada.

Respirei fundo e tentei manter a calma. Na verdade estava bem melhor que antes, brincar com Miguel havia me apaziguado.

— Por que o escondeu de mim? O que eu fiz de tão errado pra você fazer isso?

Anahí largou os biscoitos no pote e se virou encostando-se na pia. Encarou-me e seus olhos estavam muito claros, límpidos de tanta lágrima derramada.

— Quando eu acordei aquela manhã, me descobri apaixonada. Preparei um café e esperei você acordar, o que demorou um pouco. Mas mesmo assim eu estava encantada. Aí meu sonho desmoronou quando você se levantou e me viu na sua cozinha. — Sorriu amargamente. — Olhou pra mim confuso e perguntou se eu tinha dinheiro para ir embora. Se precisasse me pagaria. Então, você disse adeus e entrou no banheiro. Ainda fiquei algum tempo, meio estagnada no lugar. E a raiva me acometeu. Vesti-me rapidamente e fui embora. Quando cheguei ao Brasil prometi ficar longe da filial em que você trabalhava o máximo possível. E dois meses depois descobri a gravidez. Como não tive nenhum relacionamento por um tempo, sabia que era seu. E me bateu o medo, se você não se lembrava de quem eu era, podia fazer um escândalo achando que eu queria dar o golpe da barriga e depois levar meu filho de mim. Não pude suportar isso e saí da empresa. Pedi ajuda aos meus pais, que infelizmente me renegaram, pois são muito antiquados e não quiseram saber de nada. Então, a dona Tita me ajudou. E o tempo foi passando e meu medo aumentando. Não fique achando que acho que estou certa, pois sei que não estou. Mas isso virou uma bola de neve e ainda estou magoada por tudo que aconteceu.

Passei a mão pelos cabelos tentando digerir tudo que ela me disse. Acabei me deparando com a figura exata do meu pai. Ele era assim, usava as mulheres para sexo e as descartava. Percebi que me tornei o que mais odiava na vida. E não queria isso. Olhando para aquela loira maravilhosa, mãe do meu filho e a mulher que povoou meus sonhos por muito tempo, tomei uma decisão capaz de mudar minha vida para sempre.

— Você vai ter que se casar comigo!

— O quê?! — Anahí gritou com a testa franzida e os olhos arregalados.

Uma vez, minha mãe me disse que eu tenho o dom de despertar os piores sentimentos com minha personalidade e humor. Só que eu não estava fazendo graça, falei muito sério, porém acredito que quanto mais eu me explicasse pior ficaria.

— Isso mesmo. Temos um filho juntos, Miguel ainda é novo e vai se adaptar bem. Sem discussão.

Anahí era uma mulher linda, isso não tinha dúvida. Mas juro que fiquei com medo da sua expressão naquele momento. Suas narinas estavam infladas e os olhos azul-claros disparavam adagas em minha direção. Meu amigo... se olhar matasse, eu estaria durinho no chão.

— Você é louco, tem algum problema? Porque só assim irei relevar o que disse. Mas acho que não, é só um babaca egocêntrico que acha que está no direito de vir reclamar o filho, pedindo a mãe em casamento.

— Você preferia que eu entrasse com a justiça no caso?

— Não se atreva a tirar o meu filho de mim. Você pouco se importou comigo por mais de quatro anos. Sim, é mais tempo do que você pensa. E agora vem me pedir em casamento por que temos um filho? Cara, estamos em outra época. Fazer esse tipo de proposta só afirma o quanto é idiota.

Respirei fundo e tentei me acalmar, estávamos gritando feito dois malucos e vi a hora que iria deitar a mulher no meu colo e lhe dar umas boas lições de comportamento.

— E qual é o problema? Eu não vou deixar meu filho crescer sem a minha presença. Você vai ter que se casar comigo, Anahí.

— A porra que vou!

Já iria gritar de volta quando vi um vulto pequeno entrando na cozinha. Miguel se aproximou da mãe, que logo se acalmou e abaixou-se na sua altura.

— Mamãe, minha cabeça tá doendo!

— Onde, filho, no dodói?

Ele sacudiu a cabecinha e, antes que pudesse ser dito mais alguma coisa, se virou e vomitou ao lado da mãe.

— Ai, meu Deus! Filho, o que está acontecendo? — Anahí levantou os olhos para mim que estavam aterrorizados. — Temos que levá-lo para o hospital.

Assenti e me vi completamente perdido. Não conhecia muito a cidade, então decidi ligar para quem conhecia. Peguei o celular enquanto Anahí pegava Miguel no colo e o levava para dentro, o pequeno já estava cabisbaixo e tristinho.

Disquei e esperei. No segundo toque, a voz rouca do meu amigo soou do outro lado da linha.

— Uckermann!

— Christopher, onde tem um bom hospital particular na cidade?

— Poncho, o que houve? Você está doente?

— Não, é o meu filho...

Ele tossiu e pareceu se engasgar do outro lado.

— Filho? Como assim?

— Cara, depois te explico direito. Agora me diz onde tem um bom hospital na cidade.

Ainda tentando saber mais, Christopher me deu instruções e logo anotei em um bloquinho que tinha em cima da mesa da cozinha. Despedi-me e fui à procura de Anahí, que estava no quarto trocando a roupa do Miguel.

— Pronto, Anahí. Vamos?

Ela assentiu e abraçou o filho apertado. Meu coração se derreteu naquele instante, estava preocupado que algo sério estivesse acontecendo com ele. Miguel estava amuadinho com a cabeça deitada no ombro dela e de olhos fechados. No elevador, ele os abriu e me encarou. Estendeu a mãozinha, que peguei prontamente.

Naquele momento, eu mudei completamente. Ao ter meu dedo envolvido por sua mão gordinha, me tornei pai.

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