Capítulo 23

886 62 2
                                    

“Você me enlouquece com seu rosto inocente e corpo do pecado”.


Christopher 


— Cara, eu não sei você, mas acabei de ter a visão do paraíso.


Levantei o olhar dos papéis à minha frente e dei de cara com os olhos azuis e o sorriso malicioso do meu amigo e sócio Alfonso Herrera (Poncho), que acabava de entrar no meu escritório. O folgado nem bateu.


— O que você está falando? — Me levantei para cumprimentá-lo. — Como você tá, a viagem foi boa?


Poncho se aproximou dando aquele meio abraço de homens e balançou a cabeça se sentando, dei a volta e me acomodei. Apoiei o cotovelo no braço da cadeira e apoiei o queixo em meu punho fechado.


— Estou falando daquele avião ali fora. Onde você arrumou uma belezinha como ela? Quero uma dessas também. — Franziu a testa parecendo confuso. — Se bem que ela me lembrou de alguém. Dulce, parece um doce gostoso.


Endireitei meu corpo e minhas narinas inflaram, tive uma vontade meio louca de esganar meu amigo de anos. Ele estava interessado nela. Eu o conhecia bem, sabia o que aquele olhar significava.


Poncho era um pegador nato, as mulheres caíam aos seus pés. Não era arrogante ou egocêntrico como eu. Sim, eu sei dessas minhas “qualidades”. Meu sócio estava mais para o cara de fácil convivência que não perdoava uma mulher bonita que lhe desse bola.


E agora seu alvo estava na mulher que me enlouquecia, e para meu corpo e personalidade machista me pertencia. Poncho nem percebia minha reação, claro eu era mestre em esconder o que sentia.


— Acho bom você ficar longe da minha secretária — grunhi, faltava pouco para pular em seu pescoço. Se Poncho dissesse alguma gracinha, provavelmente, eu não iria me segurar.


Ele riu franzindo a testa, parecia realmente confuso. Na empresa não tínhamos problemas com relacionamentos entre os funcionários, tanto que Everaldo casou com sua antiga secretária, mas agora estava pensando bem em implementar essa regra.


— Como assim? Ela é casada ou algo assim? Pareceu-me bem interessada. — Sorriu amplamente, balançando as sobrancelhas.


Trinquei os dentes e senti um músculo do meu maxilar pulsando. Na verdade estava quase quebrando o meu queixo de tanta força, isso para não arrebentar a cara do filho da puta à minha frente, porém não podia me expor demais, ele já havia notado certo reconhecimento em Dulce.


Poderia acabar confundindo as coisas se dissesse que estava fodendo-a.


— Ela é minha secretária e você vai respeitar. Entendeu?


Poncho arregalou os olhos e estendeu as mãos para cima.


— Calma, cara. É só uma gostosa.


Porra, eu estava perdendo minha cabeça. Aquele sorriso no rosto do Poncho me deixou completamente fora de mim. Eu nem queria saber mais da merda da sua viagem. Na verdade queria deportá-lo para os Estados Unidos o mais breve possível, de preferência já. Mas, infelizmente, eu tinha um compromisso de trabalho que só ele poderia resolver.


— É só ficar longe, Poncho, não quero problemas com você. Dulce é uma boa funcionária e não quero ter que mandá-la embora.


— Nunca teve isso de não poder se relacionar com funcionários. Por que agora? — Estreitou os olhos, desconfiado.


— Você não quer se relacionar com a senhorita Saviñon. Quer fodê-la. — Droga, isso dava um gosto amargo em minha boca.


— Com certeza. E creio que por trás daquele rostinho inocente esconde-se uma mulher fogosa e cheia de amor pra dar. Rá, minha estadia no Brasil acaba de ficar ainda melhor. 


— Chega dessa conversa que você tem que trabalhar, na verdade foi pra isso que veio. Não para ficar assediando minhas funcionárias. — Encarei Poncho, fuzilando-o com o olhar. — Vou te colocar a par do programa.


— Ok.


Apesar de Poncho ser um cafajeste assumido era muito profissional, quando se tratava do seu serviço era a seriedade em pessoa. Não deixava nada passar. Ele se aproximou e observou o iPad em cima da mesa, onde eu rodei o programa e mostrei em detalhes o que ele faria e o bug que estava dando exatamente na hora de sair os resultados que o cliente esperava.


— Então, meu amigo, é aqui que eu entro. Vou direto para o setor de programação e arregaçar as mangas. Mas me diz, como estão as coisas? Não te vejo há meses, como está a Angelique? Ainda vendo aquela loira fogosa? — Sorriu de lado.


— Na verdade, não vejo e nem falo com ela há uma semana.


E por incrível que pareça, nem me lembrava dela. Minha cabeça estava muito cheia por certa ruiva.


— Sério? Nossa, isso é uma surpresa. Porque ela sempre foi sua foda regular, a mulher não quer nada com o amor. E isso é bom, certo?


Bem, eu estava numa cilada. Se eu dissesse a verdade, Poncho seria capaz de dar em cima da Dulce por pura implicância, então ficaria com o mais seguro.


— Sim, mas o caso é que enjoei dela. Prefiro um corpo natural a um esculpido cirurgicamente se é que me entende. — Levantei uma sobrancelha.


— Entendo sim, lembro bem como é o corpo da mulher. Ela é uma ótima pessoa, boa de cama, mas é muito silicone, acho que tem até nas coxas.


— É bem provável. — Rimos juntos.


Há alguns anos, numa noite muito louca, participamos de uma festa de swing e ela estava presente. Às vezes dividíamos uma mulher disposta a brincar dessa maneira, frequentávamos clubes quando ele estava na cidade ou quando eu ia para os Estados Unidos. E Angelique estava mais que animada para isso, porém Poncho não quis mais saber. Disse que gostava de carne e não ossos e silicones.

<•>

Pecaminoso Onde histórias criam vida. Descubra agora