Capítulo 54

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"Nunca senti esse tipo de amor, é único e inexplicável.

Simplesmente tomou conta de mim."

Alfonso

Todos nós temos um limite. Perdoamos até certo ponto. Eu estava quase explodindo de tanta fúria. Se havia uma coisa que prometi a mim mesmo, era nunca abandonar um filho. De maneira alguma o deixaria crescer sem a minha presença.

E meu maior pesadelo tinha se concretizado. Eu tinha um filho de três anos e meio, independente e que nem me conhecia. Minha vontade era arrancar dela o motivo de ter escondido meu menino por tanto tempo na maior cara dura.

— Indica o caminho até a sua casa — vociferei olhando de esguelha.

Anahí me olhou assustada e apertou Miguel em seus braços. Porém, mesmo assim deu as instruções de onde morava. Parei em frente a um prédio de classe média e desci.

Não seria gentil ou cortês com ela. Não merecia nada de mim a não ser raiva e desprezo.

Subimos em silêncio e Miguel ficava me encarando pelo ombro da mãe. Era impressionante a semelhança dele comigo. E o amor que sentia no peito por aquele menino que mal conhecia era enorme, e saber que ele não sabia quem eu era me dilacerava por inteiro. O que só fazia minha raiva aumentar.

Quando chegamos ao seu andar, notei uma senhora baixa, de cabelos grisalhos e gordinha varrendo o corredor. Ao ver Anahí, ela franziu a testa.

— Ué, menina, o que está fazendo a essa hora em casa? Aconteceu alguma coisa com o Miguelzinho?

Quando ouviu a voz da mulher, Miguel se levantou e estendeu os braços para ela.

— Vó, uma miguinha me purrou e machuquei a cabeça.

— Oh, mas que peninha. Tá doendo, meu filho? — Passou a mão pela cabeça do meu filho carinhosamente.

— Mamãe já deu bejinho e salo.

— Ah, sua mãe é um anjo! — Levantou a cabeça e me encarou. — E quem é esse jovem... Oh, meu Deus!

Virou-se para Anahí, que abaixou a cabeça parecendo envergonhada.

Provavelmente reconheceu o pequeno em seus braços em mim. Pisquei os olhos tentando afastar a raiva contida no meu peito.

— Vamos, Anahí?

Ela assentiu e pegou Miguel dos braços da mulher, caminhando para a porta no final do corredor. Ao passar pela senhora, esta me segurou pelo braço e olhou em meus olhos.

— Cuidado com o que vai fazer, jovem. Essa menina lutou muito para criar o filho sozinha, sem a ajuda de ninguém.

— Por que o escondeu de mim?

— E por que ela iria te contar, se nem ao menos se lembrou do nome dela? Ambos erraram, mas não jogue toda a culpa em cima dela, sendo que não há culpados. E sim pais de um garoto de ouro.

— Solta meu braço, por favor.

Assim que me vi livre, saí de perto dela, pensativo. Anahí já tinha entrado e colocado Miguel no chão. Ele se sentou no tapete mexendo em alguns brinquedos. E, então, olhou para mim, sorrindo.

Caramba, o garoto tinha o sorriso mais bonito que já vi na vida.

— Vem binca comigo, moço.

Assenti e tirei os sapatos ficando apenas de meias. Sentei-me ao seu lado e esperei por instruções. Ele me olhou curioso e estreitou os olhinhos azuis.

— Qual o seu nome?

— Alfonso.

Miguel torceu a boca de lado e balançou a cabeça parecendo satisfeito.

— Eu sou o caminhão de bobelo e você é o da polícia.

— Ok.

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