Capítulo 53

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Outra enfermeira voltou com a autorização de alta, eu peguei Miguel no colo e fui para fora do hospital. Logo na entrada, ele se afastou um pouco e me olhou nos olhos.

Acariciou meu rosto com as mãozinhas gordinhas e sorriu.

— Eu estou bem agora, mamãe. Posso andar, é só a cabeça que machucou.

Eu ri da sua sinceridade, desde bebê ele sempre foi independente e eu ficava triste por estar perdendo meu bebezinho muito rápido, mas ao mesmo tempo feliz porque ele podia se cuidar.

Coloquei-o de pé no chão e segurei sua mãozinha. Ele foi me contando as brincadeiras que fez na escola e eu o observava gesticular e fazer caretas que os amigos imitavam.

Miguel adorava bichos, e fazia sons de todos os tipos de animais. Estávamos rindo e conversando quando ouvi uma voz masculina que me fez gelar por inteira.

— Tá tudo bem, Anahí?

Arregalei meus olhos e vi meu filho parando de falar e encarando Alfonso ao meu lado. Alfonso havia me esperado, não tinha ido embora como pedi. Atrevi-me a levantar a cabeça.

Ele me observava com o rosto enrugado de preocupação e então abaixou os olhos.

Olhou Miguel e sorriu. Quando meu filho correspondeu o sorriso — tudo aconteceu como em uma câmera lenta — o semblante de Alfonso se fechou e ele franziu a testa, mas logo bateu o reconhecimento.

Não havia maneira dele não reconhecer. Miguel era sua cópia exata. Ainda mais com aquelas covinhas expostas.

Alfonso levantou a cabeça e seus olhos azuis estavam arregalados. E, então, a raiva se apoderou do seu rosto.

— Como você pôde esconder ele de mim por todo esse tempo?

Fechei os olhos e segurei a mãozinha de Miguel com mais força. Meu peito doía por tudo que poderia acontecer. Amaldiçoei o dia que voltei para aquela empresa. Minha única certeza era que ele nunca descobriria o filho, pois ficava a quilômetros de distância. Porém, a vida tem uma maneira de consertar todos nossos erros e nos fazer pagar.

Eu só pedi a Deus para que não me fizesse pagar caro demais.

— Pra que você iria querer saber se nem ao menos se lembrou de mim?

— Porra!

Ele se virou com as mãos na cabeça e eu logo peguei Miguel no colo, que já estava assustado com a situação. Tentei pensar numa maneira de amenizar tudo, pois estávamos na rua. Porém, nada vinha à minha cabeça, apenas a possibilidade de ter o meu menino arrancado dos meus braços.

— Mamãe, puque o moço tá bravo? — Ele franziu a testa confuso. Não estava acostumado a ficar perto de homens, os relacionamentos que tive, que foram poucos, ele não sabia e nem conhecia os caras. Não gostava de confundir sua cabecinha desnecessariamente.

Ao escutar a voz de Miguel, Alfonso se voltou para nós com os olhos menos furiosos, que logo se derreteram ao encarar meu menino. Engoliu em seco e se aproximou.

— Posso? — Estendeu os braços querendo pegar meu filho.

Eu não queria, na verdade tinha vontade de sair correndo dali. Porém, não havia escapatória.

Assenti e ele logo pegou Miguel. Olhou em seus olhos e sorriu, um sorriso lindo.

O mesmo que me encantou quando nos conhecemos, mas aquele era diferente. Tinha amor por uma criança que era seu sangue e não teve a oportunidade de conhecer.

Miguel não estava entendendo o que acontecia, olhava para mim todo o tempo até que virou a cabecinha de lado e tocou com o dedo as covinhas do Alfonso.

— Você tem buraquinho na bochecha igual eu. — Sua vozinha baixa me fez engolir o nó que estava em minha garganta. 

— Sim, mas as suas são mais bonitas que as minhas.

— Minha mamãe disse que meu pai tinha covinhas. Mas eu não conheço meu pai.

Alfonso se virou para mim com o rosto fechado e respirou fundo.

— Tenho certeza que seu pai gosta muito de você. Qual o seu nome?

— Miguel.

— Bom, Miguel, agora você não vai precisar mais ficar longe do seu pai. Nunca vou me afastar de você. Ninguém será capaz de me obrigar a isso.

E me olhou com os olhos cheios de desgosto e repulsa. Desviei meu olhar e pedi a Deus para que não deixasse Alfonso levar meu menino, que era minha única salvação. O amor da minha vida.

— Vamos, Anahí. Temos que conversar, aqui não é o lugar adequado.

Assenti e estendi os braços para pegar meu filho. A contragosto ele me devolveu.

Logo que o tive em meus braços, o apertei forte e beijei sua cabecinha.

— Mamãe tá tiste? O que eu fiz?

Sorri tristemente com os olhos cheio de lágrimas.

— Nada, querido. Mamãe está com medo.

Ele riu e pegou meu rosto com as duas mãozinhas.

— Não fica com medo, mamãe. Eu vou te poteger.

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Miguel super fofo né gente ❤️

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