Capítulo 27

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"Você diz que não me quer, mas só sabe me devorar."


Christopher


Estava a caminho de uma reunião com um cliente em potencial quando parei numa padaria para comprar chiclete. Precisava me distrair, e mascar alguma coisa era uma maneira eficaz de deixar meus pensamentos voarem.


Coloquei duas gomas na boca e fui andando para o prédio onde seria realizada a reunião.


Foi quando a vi parada num ponto de ônibus com cadernos e livros amontoados em seus braços finos.


A garota tinha cabelos castanhos-avermelhados encaracolados, um rosto redondo e suave, seus olhos marrons varriam as pessoas com interesse evidente. Um pequeno sorriso enfeitava sua expressão.


Ela observava um bebê no colo da sua mãe que fazia a criança sorrir. Mas a imagem mais linda naquele cenário era apenas aquela desconhecida.


Aproximei-me devagar para não assustá-la com a minha altura. As pessoas ficavam um pouco intimidadas, tanto com o meu tamanho quanto com o meu porte físico. Sem contar meu jeito arrogante. Parei ao seu lado e a fitei embasbacado, a jovem parecia um anjo de tão suave.


Sentindo minha presença, ela virou o olhar em minha direção. Franziu a testa, confusa.


Provavelmente devia estar se perguntando o que um louco estava fazendo assediando-a, porque eu estava quase babando na garota.


— Olá, posso ajudar? — Sua voz era baixa, quase como um sussurro. Eu sempre fui muito atrevido, e não iria mudar naquela hora. Levantei a mão e acariciei seu rosto.


— Só se eu puder sentir a doçura dos seus lábios. — Ela sorriu envergonhada e seu rosto ficou com uma cor vermelha vibrante, deixando-a mais bonita do que já era. — Qual o seu nome, linda?


— Maite.


Sorri amplamente e coloquei as mãos nos bolsos, percorri seu corpo com o olhar e senti uma vontade doida de protegê-la. Era muito delicada, quase a colocaria numa redoma de vidro.


— Nome delicado, eu estava passando e a vi sorrindo. Achei a coisa mais perfeita do mundo. E gostaria de te ver de novo. Aceita tomar um café?


Ela levantou os olhos me fitando, parecia surpresa com minha pergunta direta.


Mas eu era assim mesmo. Em meus vinte e cinco anos de vida, nunca perdi algo que queria.


— Tudo bem, mas não posso ficar por muito tempo. Preciso estudar para uma prova na faculdade.


— Não vamos demorar, vai ser o tempo de eu fazê-la se apaixonar por mim.


Sorriu timidamente e me acompanhou.


Dito e feito, depois de alguns encontros nós começamos a namorar e, então, noivamos. Ficamos juntos por três anos antes de Maite sofrer o acidente que levou a sua vida e a alegria embora da minha.


Permaneci por meses em luto e solidão, depois decidi não me apaixonar e saí apenas com mulheres para o sexo. E quando percebia que queriam algo a mais, eu dava um jeito de dispensá-las.


Não de um jeito gentil ou educado. Nunca fui disso, mas quis provar o meu ponto de vista, que muitas vezes não acabou muito bem, porque as mulheres meio que enlouqueciam quando eram dispensadas.


Até que Dulce apareceu na minha frente, elas se pareciam tanto que na hora quase perdi a cabeça. O mesmo formato do rosto, os olhos marrons, a boca carnuda e vermelha. Os cabelos eram diferentes, enquanto Maite tinha cachos compridos, os de Dul era vermelho e lisos com pequenas ondulações.


Só que a semelhança assustadora acabava por aí, enquanto uma era doce a outra era azeda.


Dulce não levava desaforos para casa e com o tempo de convivência desentrelacei o que as ligavam. E também percebi que não era tão parecida quanto minha mente imaginava. Ela me enlouquecia de um jeito totalmente novo, nunca havia sentido o que me provocava. Meu corpo entrava em modo de batalha e ficava louco para tocá-la. Viciei-me completamente em seu toque, era necessitado por um mínimo de carinho, porém só recebia arranhões, e adorava.


Maite era gentil e carinhosa, sempre acatava o que eu queria. Tímida ao extremo, tivemos nossa primeira vez um ano depois de começarmos namorar, quando, enfim, a pedi em casamento. Se eu a amava? Com certeza, mas era algo confortável e estável, não tinha adrenalina subindo em meu corpo. Nada de perigo iminente. Nenhuma loucura. 

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