Capítulo 34

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"Seu nome é sinônimo de perigo, preciso me afastar."


Dulce


— Fred, já falei pra você não roer os sapatos da mamãe. Menino malvado.

Ele me olhou e tombou a cabeça de lado, fazendo aquela carinha que sabia que iria ganhar alguma coisa. Filho da mãe, sabia como me conquistar. E toda vez que isso acontecia, eu o perdoava.

Aproximei-me e acariciei os pelos da sua cabeça.

— Você é muito esperto, sabia? Bom, tenho que ir trabalhar. Se comporte direitinho.

Atrasei-me um pouco tentando encontrar meu outro pé de sapatos, e o descobri babado e mordido na cama do Fred. Peguei outro e me aprontei logo. Falar com o meu cachorro me lembrava de outro, que não saía da minha mente.

Safado, pretensioso, gostoso, que teimava em ficar em mim. Eu não podia, tinha que me afastar, por mais que doesse. Christopher me lembrava muito alguém, e não gostava disso. Por mais que agora fosse diferente, pois eu era uma pessoa diferente, repetir um erro não era saudável. O jeito era me distrair e deixar o tempo rolar. E, claro, encarar o carrasco delicioso no trabalho sem provocá-lo, já que agora eu era apenas a sua secretária.

Ao chegar à empresa, notei meu andar muito quieto. A porta da sala do Christopher estava fechada, sinal que ele ainda não havia chegado. Sentei de frente ao computador e o liguei.

Assim que abri a caixa de e-mails, uma mensagem nova do senhor Uckermann piscava na tela, eu a abri e meu coração esfriou.

Bom dia, senhorita Saviñon.

Estou partindo para uma viagem de negócios e só volto em duas semanas para a festa beneficente. Qualquer problema, encaminhe ao Everaldo ou ao Alfonso. Se precisar falar comigo, por favor, envie e-mail.

Cordialmente,
Christopher Uckermann.

— Filho da mãe, desgraçado. Que porcaria de e-mail é esse?

Bem, Dulce o que você queria, sua louca? Disse para o cara que só queria ter um relacionamento profissional e era o que estava tendo. Mas, então, por que me sentia tão desequilibrada? Minha vontade era socar aquela cara bonita dele por ter me enviado algo tão frio.

Deus, às vezes eu sou complicada. Sim, eu sei disso. Droga de homem que me fez ficar desse jeito. Eu não era de duvidar do que sentia ou de uma decisão que tomava, e quando acontecia eu me odiava por isso e a quem provocou.

— É bom mesmo que ele fuja, ou iria acabar socando sua cara.

— Amiga, já disse pra você resolver esse problema, vai acabar ficando maluca falando sozinha assim.

Levantei os olhos e vi Anahí parada ali com seu sorriso brincalhão no rosto.

Bufei e revirei os olhos, a garota era sorrateira e silenciosa, sempre me pegava nas situações mais constrangedoras, geralmente quando eu estava falando sozinha.

— E eu já falei pra você parar de chegar assim. O que foi, você foi criada no mato? Ô mulher silenciosa.

Ela riu e balançou a cabeça.

— Nos últimos anos aprendi a ser mais quietinha, ou então ficaria louca. Bom, mas vamos mudar de assunto. Everaldo quer uns papéis da sala do Christopher, parece que ele viajou e deixou tudo na mão do meu chefe.

Assenti de cara feia e me levantei.

— Sabe do que ele precisa?

— Alguns documentos do programa com bug e dos novos.

— Ok.

Andei até a sala dele e o perfume que emanava dali me deixou tonta. Por um momento estaquei no meio do escritório de olhos fechados, até que a voz suave da Anahí me despertou.

— Negar, minha amiga, é pior do que admitir, dói mais.

Abri os olhos e a encarei.

— Não sei do que está falando, Anahí. Você tá ficando doida, hein? — Andei até a sua mesa e reuni os papéis necessários. Voltei para ela, que me olhava de testa franzida. Fingi que não sabia de nada. — Toma aqui. E vai logo antes que eu te expulse.

Ela riu e deu de ombros.

— TPM das brabas, hein? Tchau, amiga. Te vejo mais tarde.

Assenti e a vi se afastar. Voltei minha atenção para a mesa imponente no meio daquele recinto enorme. Tudo ali combinava com ele. A mesa de vidro grande com o piso de madeira bem feito, a cor verde-escuro das paredes, a janela de blindex que ia do teto ao chão. Exalava bom gosto e, na minha cabecinha obcecada, sensualidade.

O perfume dele estava em todo lugar, fechei os olhos e permiti que as lembranças de nós dois ali viessem à tona. Maldição! Eram memórias demais para o meu gosto! Ai, minha nossa, precisava tirar esse homem da cabeça.

Saí e fechei a porta deixando as coisas onde deveriam ficar: no passado.

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