Capítulo 39

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Todos os anos, levantávamos fundos para o hospital de crianças com câncer e um jantar seguido de um leilão arrecadava um bom dinheiro. Eu sempre gostei de ir, mas agora parecia que estava indo para minha inquisição.

Senti uma mão em minha coxa e a observei. Angelique estava com um vestido longo azul-turquesa, linda e elegante. Só que seu rosto demonstrava preocupação.

— Acho bom parar com essa cara de quem vai pra forca. Ela não pode perceber esse interesse evidente quando a vir.

Respirei fundo e assenti. Quando chegamos, o estacionamento já estava cheio.

Coloquei o carro na vaga destinada a mim e meus sócios, e notei o da minha irmã ali. Droga, mais essa!

Porém com Belinda eu sabia lidar, o que me preocupava não era ela. Dei a volta e abri a porta para Angelique, que sorriu em agradecimento e pegou meu braço. Fomos à porta de entrada onde muitos flashes anunciaram nossa chegada. Provavelmente, no dia seguinte, teríamos nossa foto no jornal e a costumeira nota que ela era minha companheira de foda, especulações de que estávamos namorando e por aí vai...

Angelique sorria e as pessoas paravam para nos olhar. Olhei em minhas vestes e meu smoking estava normal sem mancha alguma, então percebi que estavam encarando a minha acompanhante, que estava “naturalmente” bonita. E vê-la daquela maneira com pouca maquiagem e tão à vontade era difícil para as pessoas em geral.

Chegamos a nossa mesa e nos acomodamos. Estávamos numa conversa animada sobre um funcionário da empresa dela que fez a maior burrada e achou que seria demitido.

Agiu como uma criança escondendo o que tinha feito, mas ela encontrou e o repreendeu em seguida. Ele ficou tão grato por não ter sido demitido que parecia apaixonado.

Angelique gargalhava quando uma voz sinistra nos interrompeu.

— Parece que a desclassificada rodou e a plastificada tomou o lugar.

Levantei os olhos e Belinda estava parada ali com seus olhos maldosos fuzilando Angelique, que se virou e ficou de pé. Sorrindo, ela tombou a cabeça de lado.

— Oh, Belinda querida, quanto tempo sem o desprazer de te ver. Mas, bem... Eu pude mudar minha aparência, é uma coisa que posso desfazer se quiser. E você? Bem, um coração gelado e envenenado não pode ser melhorado, não é?

Belinda inflou as narinas ficando mais estranha do que já era. Uma pena, pois foi uma garotinha tão doce. Era impressionante o que uma má criação pode fazer com alguém.

— Christopher, vai deixá-la falar assim comigo? Sou sua irmã. — Olhou para mim com os olhos semicerrados de raiva.

— Você que provocou, aguenta as consequências.

Ela arregalou os olhos e apertou a boca.

— Você vai se arrepender por me tratar assim. Um dia virá rastejando para mim e eu vou pisar em você.

— Acho melhor não contar com isso.

Ela respirou fundo para se controlar e deu meia volta quase trombando com Poncho que vinha em nossa direção. Ele se afastou para não ser atropelado.

— Cara, o que vocês fizeram para a doce Belinda?

Angelique bufou e se sentou olhando para mim com uma careta. Ela meio que suportava o Poncho, pois ele sempre implicava com ela.

— Christopher, acho que ela é adotada. Como pode ser tão diferente de você, além de ser horrorosa, né? O que é aquela maquiagem? Parece que um trator passou por sua cara.

Eu ri e Poncho se acomodou ao lado dela.

— Uau, Angel! Tá linda, meu amor, o que foi? Viu passarinho verde e decidiu ficar mais clean?

— Rá, e você sempre engraçadinho. Já deu jeito no seu pinto pequeno?

Tentei esconder meu sorriso, mas foi complicado. Por mais que Poncho tentasse não soar debochado, era meio impossível, pois sua voz pingava sarcasmo. E teve o que merecia.

— Pelo visto sua língua continua afiada, como sempre.

Ela olhou pra mim e piscou. Sabia que iria aprontar. Era sempre assim quando se encontravam, farpas para todos os lados.

— Sim, exatamente como se lembra. Quer que eu te mostre novamente? — Lambeu os lábios e se levantou. Foi em direção aos banheiros sorrindo e deixando meu sócio com cara de tacho.

— Cara, ela pode ser artificial, mas me lembro da língua, é bem talentosa.

— Alfonso, você é um pervertido duma figa. Mas deixando as suas provocações com a Angelique de lado, como anda tudo na empresa?

Ele se encostou à cadeira e sorriu, malicioso.

— Fiz amizade com a sua ruivinha. Ela é um encanto... — Trinquei os dentes e o fuzilei com o olhar, o que fez o maldito rir ainda mais. — E antes que você diga mais alguma coisa, é só amizade mesmo. Já te disse que não sou fura-olho.

— Eu não quero falar disso. Mas, e o programa?

Seu sorriso morreu e ele se aproximou, falando baixinho para que ninguém escutasse.

— Como te disse, achei o IP e comprovei de onde veio o vírus, só que eu estou gravando todo o processo para podermos pegar o cara no pulo. E quando tiver consertado o bug e entregado o programa ao cliente nós daremos o bote.

Balancei a cabeça concordando, com provas seria menos complicado dar de frente com o malfeitor.

— E de onde veio o vírus?

— Na empresa eu te falo, aqui tem muitos ouvidos atentos.

Assenti e varri o salão com o olhar, as pessoas conversavam entre si. Muito bem-vestidas e alegres. Muitos ali eu conhecia por serem da empresa, alguns com sua família, outros estranhos que vinham pela primeira vez.

Meu olhar passou pela porta de entrada e eu congelei. Uma aparição. Era como eu a classificaria naquele instante.

Dulce acabava de entrar, vestia um longo rosa-claro colado ao corpo delineando suas curvas e seus cabelos estavam soltos do jeito que eu gostava. A provocadora sorria e conversava com a amiga, que a cutucou e disse algo em seu ouvido.

Ela estacou no lugar e olhou em minha direção. Era como se algo nos ligasse, eu não o olhar ou fazer qualquer coisa que Angelique me instruiu. Não via nem ouvia nada em minha volta. Só existia uma mulher naquele salão para mim.

Percebi naquele momento estava me apaixonando por Dulce Saviñon.

— Porra!


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O que acham que vai acontecer depois dessa festa?

Sábado farei outra maratona 😍

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