Capítulo 33

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E não estava errado, ele estava louco girando de um PC para outro. Quando me viu, parou e sorriu balançando a cabeça.

— Eu não sei se essa sua cara é porque a noite foi muito boa ou muito ruim... — Arqueou uma sobrancelha, parecendo divertido.

— Cale a boca, você não sabe de nada.

Ele riu e olhou a maleta em minhas mãos, franziu a testa e me encarou.

— Aonde você vai com a mala do terror?

Poncho chamava a maleta que eu carregava assim, pois sempre havia um pepino para resolverdentro dela. Eu a tinha desde que tomei conta da On System.

— Viajar — disse simplesmente.

Poncho estreitou os olhos e coçou o queixo, torcendo a boca para o lado. Recostou-se na cadeira e deu um impulso com os pés se aproximando.

— Pra mim, isso cheira a fuga.

Por/ra, o cara me conhecia bem até demais! Desviei o olhar e foquei no que ele estava trabalhando, não precisava responder. Ele já sabia.

— Conseguiu descobrir alguma coisa?

— É, mudar de assunto resolve muita coisa mesmo. Mas não, tá tudo muito bem feito. Estou me sentindo um jumento aqui. Mas tudo bem, vou resolver, sou melhor que esse maldito vírus.

— Confio em você. Bom, vou passar na sala do Everaldo e te vejo em breve. Não vá embora sem que eu tenha voltado.

Ele riu e voltou para o computador, digitando rapidamente.

— Não vou, brother. Vai curar sua mágoa. Cuido de tudo por aqui.

Assenti e dei as costas para ele. Ao chegar à sala do Everaldo, vi que tinha acabado de entrar, pois chegava cedo ao trabalho. Quando me viu, ele se levantou e caminhou em minha direção.

— Everaldo, vou antecipar a viagem com aquele cliente. Você pode ficar que eu cuido de tudo. Sei que sua esposa precisa de você essa semana, então posso resolver sozinho.

Ele franziu a testa e colocou as mãos na cintura.

— Tudo bem, Christopher. Tem certeza que não precisa de mim? Vai ser mais demorado sozinho.

— Perfeito! — Quanto mais tempo demorasse, melhor seria. — Está ótimo, te vejo em alguns dias.

Everaldo assentiu, meio a contragosto e voltou para trás da mesa. Não antes de lembrar-se de algo que certamente iria tirar a minha paz.

— Ah, Christopher. Não se esqueça da festa anual beneficente daqui a duas semanas. Somos obrigados a ir, sabe como é?

Droga, tinha me esquecido. E todos da empresa eram convidados, isso a incluía.

Mas tudo bem, até lá eu já teria me recomposto.

— Estarei de volta.

Passei direto pelo meu andar, e enviei um e-mail para a caixa de mensagem da Dulce dando instruções de como me encontrar. Falaria com ela apenas profissionalmente e via internet. Não precisava ouvir sua voz doce.

Assim que entrei no carro, meu celular tocou, o peguei e olhei a tela. Foi a única coisa que me fez sorrir em mais de doze horas.

— Olá, Angelique. Como você está, papando muito anjos por aí?

— Ah, Christopher, você é tão engraçado quanto gostoso, meu amigo. Estou com saudades. Você sumiu, não me liga mais.

Coloquei a valise no banco de trás e me sentei com o celular entre o ombro e a orelha.

— Pois é, querida, falta de tempo. Você sabe, muito trabalho.

— Uhum sei, acha que eu nasci ontem? É a ruivinha, né? Ela está virando sua cabeça.

Tranquei o maxilar ao perceber ser tão evidente no que se relacionava a Dulce.

Respirei fundo e encostei a cabeça no volante.

— Não tenho ninguém, Angelique — tentei soar tão convincente para ela quanto para mim.

— Ah, é? Então, quero te ver hoje à noite.

Um calafrio tomou conta de mim por pensar em tocar outro corpo. Não que Angelique não fosse bem-vinda, pelo contrário era uma ótima companhia. Mas eu não podia dar o que ela queria, dessa vez seria impossível.

— Estou indo viajar, querida.

— No meio da semana? Tudo bem, te vejo quando voltar. Vai à festa beneficente, né? Acho que todos iriam nessa festa.

— Sim, sabe que vou. Bom, meu anjo, vou desligar. Tenho que pegar um avião.

— Ok, gostoso. Até mais.

Desliguei e fiquei sorrindo no caminho até em casa. Arrumei uma mala e mandei uma mensagem ao piloto que já estava a caminho. Como a empresa tinha seu avião particular para ser utilizado em viagens de negócios eu preferia assim, pelo menos não dependia de horários e atraso de companhia aérea.


Coloquei meu carro no estacionamento do aeroporto. Ao chegar, a aeronave já estava pronta para decolar.

— Christopher, quanto tempo.

Roger era nosso piloto contratado. Um homem em seus quarenta anos e aposentado, que ainda gostava de suas aventuras.

— Sim, mas creio que voltarei aos meus intercursos entre os clientes. Sinto falta da adrenalina.

— Sei bem como é. Bom, temos um tempo bom e não vamos demorar, em cinco minutos decolamos.

— Ok, obrigado.

Ele se virou e foi para a cabine do piloto, me encaminhei até a parte de trás do avião. Arrumei minha bagagem no compartimento correto e me acomodei, o mais confortável possível. Já ia desligar o celular quando vi que tinha uma mensagem do Poncho.

“Ucker, descobri de onde veio o malware. É peixe grande, amigo. Bom, como não tenho certeza, não vou acusar ninguém. Quando tiver tudo em mãos, te dou um toque. Mas minhas suspeitas foram confirmadas. Foi algo implantado.”

Droga, estava contando que não fosse. Não gostava dessa merda de traição, em nenhum departamento da vida. Mas Poncho resolveria tudo, e quando chegasse a hora de perfurar o peixe, eu estaria lá para ver o último suspiro do coitado.

Encostei-me e aguardei a decolagem. Só me restava esperar que duas semanas fossem o suficiente para tirar aquela maldita da cabeça.

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Christopher bundão!

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