Capítulo 52

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"Existe apenas um tipo de amor eterno e incondicional."

Anahí

— Everaldo, preciso sair, tenho que resolver um problema sério! Amanhã eu compenso meu horário.

Ele levantou os olhos do computador à sua frente e franziu a testa ao ver o meu desespero.

— Claro, Anahí. Pode ir, espero que se resolva logo.

Assenti e saí correndo. Sem nem olhar para os lados, estava completamente desesperada.

Nunca em minha vida senti tanto medo. Quando estava no hall de entrada trombei com um peito musculoso e cheiroso, que conhecia bem demais para o meu gosto.

— Ei, calma aí, querida. Aonde vai com tanta pressa?

— Me dá licença, por favor? Não estou com tempo para as suas gracinhas.

Tentei me desvencilhar, mas foi praticamente impossível. Alfonso  parecia um polvo cheio de braços. Consegui ficar três dias longe, sem ao menos vê-lo, mas logo nesse dia de merda ele tinha que aparecer na minha frente?

— Calma, gatinha. O que foi? Onde precisa ir, eu te levo.

Sabe quando você está desesperada que até a ajuda do seu inimigo é bem-vinda?

Pois essa era eu naquele momento, por isso aceitei que me levasse.

— Que seja, será mais rápido que esperar um táxi.

Ele assentiu liderando o caminho para fora do prédio. Chegamos ao seu carro e ele logo destravou. Entrei e me sentei, nervosa e com pressa.

— Para onde?

— Hospital Municipal.

Percorremos o caminho em silêncio. Na verdade, eu estava gritando por dentro, xingando todos os motoristas lerdos que apareciam à nossa frente. Eles estavam me atrapalhando chegar perto dele.

Ai, Deus, que nada sério tivesse acontecido.

Assim que Alfonso parou, saí porta afora gritando um “obrigada” e que eu voltaria para casa de táxi, não precisava me esperar. Entrei em disparada e fui logo para a emergência, que foi onde me informaram onde ele estava. Algumas enfermeiras tentaram me parar, mas nem liguei. Precisava envolvê-lo em meus braços e saber que estava bem.

Demorei a encontrar a maca que ele estava deitado, pois era muito pequeno ainda. E como não tinha acompanhante, se encontrava sozinho. Meu coração se partiu ao vê-lo tão quietinho e com a cabeça enfaixada.

Corri para o seu lado e ele logo sorriu ao me ver. Estendeu os bracinhos e o peguei, abraçando- o fortemente. Miguel tinha três anos e meio, era um doce de menino. Quase nunca se machucava, mas quando eu recebi a ligação da diretora da escola dizendo que ele tinha caído do escorregador e machucado a cabeça, me desesperei.

Afastei-me e o olhei com atenção procurando qualquer outro machucado, mas não havia nada.

Seus olhinhos azuis brilhavam de felicidade por me ver e as covinhas em seu rosto eram iguais às do pai. Percebi que estava bem e foi apenas um susto.

— O que aconteceu, Miguel? Mamãe ficou muito preocupada.

Ele arregalou os olhinhos que se encheram de lágrimas, me aproximei da cama e o sentei devagar sem que Miguel largasse meu pescoço.

— Uma miguinha me purrou do escorregador, mamãe.

Respirei fundo e acariciei seus cabelos castanhos tão diferentes dos meus loiros.

Miguel parecia muito com o pai, na verdade ele era sua cópia escrita. Apenas seus olhos que eram iguais aos meus, porém não ajudava muito, já que o pai também tinha os olhos azuis.

— Por que ela te empurrou, filho? Você fez alguma coisa?

Suas bochechinhas ficaram vermelhas e ele baixou a cabeça, envergonhado.

— Dei um bejinho no rosto dela.

Tive que sorrir, mesmo nunca tendo visto o pai, ele era charmoso e galanteador como ele.

— Tudo bem, amanhã a mamãe vai falar com a sua amiguinha. Mas você está bem? Nenhuma dorzinha?

Ele sacudiu a cabecinha e me abraçou encostando-se no meu peito, fiquei acariciando seus cabelos até que apareceu uma enfermeira.

— Ah, viu, a mamãe chegou rapidinho. — Me virei para olhá-la. Era uma moça bonita, cabelos castanhos encaracolados e os olhos cor de mel mais gentis que já vi, e me olhava com doçura. — Ele estava chateado que você não havia chegado. Eu disse que estava a caminho. Prazer, sou Ana Luiza Petri.

— Prazer, Ana, e como está o meu pequeno?

Ela o observou com carinho e sorriu.

— Ele está bem, foi apenas uma escoriação. Deixa-me tirar essa faixa e fazer um curativo e vocês estão liberados. Ele me pediu para enfaixar a cabeça, ou seu sangue todo iria sair. — Rimos juntas, Miguel era bem dramático mesmo.

Assenti e me afastei. Gentilmente, a enfermeira tirou a faixa e pude ver o pequeno corte na testa dele. Sorrindo e brincando com Miguel, ela limpou a ferida e colocou um curativo com gaze e esparadrapo. Quando terminou olhou pra mim chamando-me para o canto.

— Tá tudo bem com ele. Mas é bom ficar de olho nas próximas 24h, se apresentar qualquer tipo de reação, como enjoos, tontura ou ficar tristinho traga imediatamente para avaliarmos. Por enquanto, ele só tem um galo na testa.

Finalmente pude respirar aliviada.

— Obrigada, fiquei desesperada. Estava no trabalho e não pude chegar rápido o suficiente. Vou pedir dispensa o resto da semana e ficar com ele.

— Claro, você vai se sentir melhor, eu não tenho filhos. Mas ajudei a criar minha irmã e a preocupação é bem parecida. Fique tranquila, seu menino é bem esperto.

Assenti, sorrindo agradecida e a vi se afastar, me aproximei do Miguel e o abracei mais uma vez. O medo de ter acontecido algo mais sério, gelou meu coração quase o fazendo parar. Ele era a única família que eu tinha. Meus pais me renegaram quando eu engravidei de um cara que mal conhecia. E então fiquei sozinha, se não fosse pela minha vizinha aposentada, que me ajudou e deu assistência por dois anos não sei o que teria sido de nós.

Quando Miguel completou um aninho voltei a trabalhar, mas morrendo por dentro de ter que colocá-lo na escolinha. Mandei uma mensagem para Everaldo enquanto esperava o papel da alta.

Não voltaria para a empresa até segunda-feira. Seriam apenas três dias, depois eu compensaria.

Logo que recebi a resposta, eu fiquei mais aliviada. Tinha cinco dias para aproveitar com o meu filhote.

Ninguém da empresa sabia sobre Miguel. Eu não tinha vergonha nem nada, mas como ele parecia demais com o pai eu não podia correr o risco de alguém notar a semelhança. Havia um medo aterrorizante em mim de que se descobrissem iriam arrancar meu filho dos meus braços.

Não podia nem pensar nessa possibilidade. Ele não se lembrava, mas enquanto nos amávamos naquela noite perfeita, contou-me que sonhava em ter um filho e que nunca o deixaria sozinho como o seu próprio pai fizera. E quando descobri a gravidez, por segurança, saí da empresa.

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Any tem um filho 😱
Vem bastante Ponny aí..

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