Capítulo 36

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Deus, o que esse homem fez comigo? Eu não estava sentindo o que achei que estava, né? Ai credo, pior que sim. Fechei os olhos e tentei me controlar. Isso não podia estar acontecendo, ainda mais descobrir esse tipo de coisa dessa maneira.

Levantei-me e corri para o banheiro feminino, dei graças a Deus de não ter ninguém nas cabines, precisava de privacidade. Cheguei em frente ao espelho e percebi que minha maquiagem já estava borrada. Meus olhos vermelhos começavam a inchar.

O que refletia de volta para mim era puro desdém, como se eu mesma caçoasse de mim por ter sido tão fraca. E naquele momento lembrei-me de quando eu não era como a garota que me olhava do espelho.

Eu tinha dezessete anos quando o conheci. Pablo era o garoto mais bonito da sala e eu apenas a magrela desajeitada da turma. Muito tímida, fiquei encantada quando o popular da escola prestou atenção em mim. Começamos a namorar e então eu floresci, perdi grande parte da minha vergonha e engordei um pouco, deixando meu corpo mais voluptuoso.

Pablo era extrovertido e amado por todos, perdi minha virgindade com ele no capô de um carro numa estrada abandonada. Não foi bom, ou gentil. Ele apenas tomou o que lhe era de direito, assim como me disse. Eu, como uma boba, deixei a situação se estender por um ano inteiro.

Ele me controlou a ponto de eu não poder conversar com as minhas amigas, pois elas podiam colocar caraminholas em minha cabeça, ou até falar de outros garotos para mim.

Um belo dia, para não dizer ao contrário, estava voltando da escola com a minha prima e o namorado dela. Por já estar no último ano optei por estudar à noite, pois logo começaria a faculdade e teria que trabalhar de dia e era bom ir me acostumando. Pablo apareceu com o carro e parou à nossa frente nos assustando, ele brigou com o namorado da minha prima cismando que estava dando em cima de mim, que estava fazendo ménage, que o cara estava comendo nós duas.

Como na época eu não sabia de nada disso, tinha sexo apenas com ele, achava aquilo tudo um absurdo e me enojei por pensar isso de mim.

Então, depois de muitos socos que levou, ele me obrigou a entrar no carro e queria que eu explicasse o que eu estava fazendo com eles, me proibindo de andar com a minha prima e de falar com qualquer pessoa. Eu fiquei olhando para a cara dele e, completamente em transe, apenas assenti e abri a porta, entrei em casa e fui direto para o banheiro. Fiz a mesma coisa que estava fazendo agora, me olhei no espelho e avaliei minha vida. Naquele dia há cinco anos atrás eu prometi nunca mais deixar alguém mandar em mim e obrigar-me a fazer qualquer coisa.

Nunca mais queria me envolver sentimentalmente, pois era assim que começavam as cobranças e exigências.

Depois disso tornei-me alguém diferente, livre. Eu tinha minha sexualidade à flor da pele e a deixei me levar, me tornei alguém confiante e não uma menina chorona que obedecia a qualquer comando.

E olhando para o meu reflexo naquele banheiro percebi que Christopher entrou sem pedir permissão.

Já havia se entranhado em minha carne, como uma praga, para atrapalhar minha liberdade de escolha.

Eu não escolhi isso, e o odiava por ter me feito sentir assim.

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