17 - Fracionando a Comida

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Norman

     Asssim que eles se prestaram a ajudar o Senhor Forbes, ouviram vir lá de cima:
     - Ô LIIIIIIIV! - Olivia trocou um olhar com seu pai e deixou sobre a bancada o pano de prato que segurava:
     - Estou indo. - disse em um tom um pouco mais alto. - Você se importa de esperar um pouco? - ela se voltou ao garoto de olhos cinzentos que picava um pimentão.
     - Não. Tranquilo.
     - Por que não leva ele? - o pai dela disse de repente.
     - Sério? - ela parecia ter estranhado.
     - Sim. No dia do baile, Ian estava louco para o conhecer. - o pai dela continuou argumentando.
     - Ok. - ela encarou Norman e ele só assentiu, a acompanhando escadas acima:
     - Por que isso foi tão estranho? - ele disse quando eles já estavam há uma certa distância da cozinha.
     - Podemos dizer que meu pai é um pouquinho superprotetor quando se trata de garotos. - ela fez a quantia com os dedos.
     - Isso foi depois do Will?
     - Pior que não. Ele sempre foi assim. - ela bateu na porta do irmão. - Oi, posso entrar?
     - Sim.
     - O Norman pode entrar comigo? - ela ainda questionou antes de passar pela porta.
     - Sim.
     - Olá, Ian. - eles deram um toquinho de mão. - Acho que não nos cumprimentamos direito com aquela coisa toda lá embaixo.
     - Pois é. - o irmão dela sorriu. - Liv, eu preciso de ajuda com uma coisa.
     - Com o quê? - ela se sentou na beirada da cama dele.
     - Papai me pegou na escola mais cedo porque levei uma advertência. - o rosto da garota assumiu uma careta. - É que eu não estava prestando atenção na aula.
     - É um tipo de advertência bem besta. - ela comentou.
     - É que não foi a primeira vez. - ele complementou.
     - Desde quando isso tem ocorrido, Ian?
     - Há mais ou menos umas três semanas.
     - Você sabe o porquê? - ele assentiu. Animado como sempre fazia.
     - Estou conversando muito com a Maya. - Norman quase não pôde perceber, mas ele viu. Sutil e pequeno. Olivia havia sorrido. - E a professora disse para o papai, que ela se dá bem com esse ritmo. Que consegue fazer as duas coisas, mas eu não. Por isso tenho deixado de entregar algumas tarefas.
     - Ian, você tem que ter mais cuidado. - Olivia o reprendeu. - Eu sei que é legal conversar e o quão difícil foi para você achar alguém legal, mas não pode deixar tudo de lado só pra ficar conversando.
     - Eu sei, Liv. Eu já entendi isso. Esse não é o problema. - o rosto da garota se complicou:
     - Então qual é?
     - Você está gostando dela, não está? - Norman soltou de repente e nesse exato ponto, Olivia o encarou e ele não soube de certo o que havia em seus olhos.
     - Eu não sei. - o menino mais novo respondeu.
     - Ah, meu Deus. - foi tudo o que a irmã dele considerou.
     - Por que "ah meu Deus"? Isso é uma coisa ruim? - Ian parecia beirando o desespero.
     - Não, não é uma coisa ruim, é só que... - Olivia soltou um sorriso juntamente com um suspiro. - Eu não acredito que isso já está acontecendo. Você está crescendo tao rápido.
     O irmão dela pareceu confuso por um momento e para Norman, ela pareceu muito mais madura naquele momento. Não que já não fosse; Olivia parecia uma pessoa de trinta e poucos anos quando você conversava com ela.
     - Você pareceu com a mamãe agora. - o comentário do irmão mais novo fez a garota esticar o sorriso de um lado do rosto:
     - Você deve realmente estar se apaixonando por ela, Ian.
     - Mas eu só tenho dez anos. Quase onze. - ele protestou como se quisesse se livrar daquilo.
     - O que está acontecendo é uma paixão juvenil. - Norman que estava até então de braços cruzados, encostado na porta do armário, falou finalmente.
     - Mas se apaixonar não é coisa de adolescente? - houve uma conexão entre Norman e Olivia, que fizeram os dois trocarem um rápido olhar com aquele questionamento.
     - Não. - o garoto mais velho se aproximou. - O que você está sentindo é algo jovem, inocente e bonito e não há nada de errado com isso.
     - Mas como eu posso ter certeza se é isso mesmo?
     - O fato de você não ter certeza já é a sua garantia. - o garoto mais novo pareceu ficar confuso. - Você é um bom garoto, nunca deve ter levado advertência por algo, ainda mais algo tão bobo quanto conversar na aula...
     - O fato de você não querer parar de falar com ela, nem quando não deveria estar falando, já mostra que você está gostando dela. - Olivia complementou a explicação.
     - E o que eu faço com isso? - ele olhou em dúvida para os dois.
     - Fala pra ela, ué. - Olivia disse, muito convicta e Ian fez uma cara que personificava como o desespero seria se ele tivesse uma face:
     - Eu não posso falar pra ela, Liv!
     - Por que não?
     - Porque... Porque...
     - Mostre a ela, então. - Norman fez sua voz soar leve e aquilo pareceu acalmar o menino. - Você não precisa falar oralmente ou de uma vez. - ele encarou a irmã do menino sutilmente e ela sorriu, agradecida. - Aos pouquinhos, no dia a dia, você pode ir dando uma ou outra pincelada.
     - Vocês tem um jeito muito complexo de dizer as coisas. - Norman gargalhou. - Mas eu acho que entendi. - o menino sorriu para o mais velho. - Obrigado, gente.
     - Por nada. Foi um prazer. - Norman apertou a mão do menino.
     - Qualquer coisa me avisa. - Olivia disse antes de eles saírem do quarto dele.
     Eles desceram as escadas e quando alcançaram a sala, Norman notou que um sorriso ainda planava nos olhos dela:
     -  O que foi?
     - O meu irmãozinho está gostando de uma garota. - ela deu uma risada bem leve. - Eu não acredito!
     - Não dê uma de irmã ciumenta. - Norman cruzou os braços.
     - Falando em ciúmes, vamos manter isso longe do meu pai, ok? - ele assentiu. - Ian nunca chegou com essa notícia e eu não sei como o 'senhor protetor' pode reagir.
     - Tudo bem.
     - Vocês vem comer? - eles ouviram lá da cozinha.


     -  Nós devíamos fazer isso mais vezes. - o senhor Forbes anunciou no fim da refeição.
     - Seria um prazer. - Norman sorriu. - Mas da próxima vez, quem vai cozinhar, será eu.
     - Você cozinha? - o homem mais velho perguntou, abismado.
     - Sim. Eu aprendi com a minha mãe.
     - Da próxima vez é com você então. - ele garantiu.
     Estava aquele clima de riso. Aquele clima gostoso de quando você se sente bem vindo. Norman estava se sentindo confortável na casa de alguém, quase prestes a falar coisas engraçadas e afins, até que o pai dela chamou a atenção para a própria Olivia:
     - Tá tudo bem, filha? Você mal tocou no prato. - antes que pudesse evitar, Norman já estava com os olhos no prato dela.
     Olivia tinha colocado um pingo de comida. Tinha um filé de pescada branca (magríssimo), cerca de uma colher de arroz e uma colher de pure de batata. E talvez nem fosse de uma colher de café.
     Norman não via muita diferença na quantidade de comida colocada no início de refeição para agora. O que diferia era que a comida estava remexida e metade do peixe estava cortado em pedacinhos ainda menores.
     - Eu na verdade estou meio enjoada. - ela deu um tipo de sorriso. - Eu estou meio ruinzinha desde o início dessa tarde, mas não quis desfazer da comida.
     - Você quer que o pai pegue um remédio?
     - Não. Eu acho que já já vou tomar um banho e ir dormir. O dia hoje foi cheio.
     - Verdade. - ele achou que aquela era sua deixa. - Pessoal, muito obrigada pela refeição. Eu já vou indo.
     - Mas você não vai nem ficar para a sobremesa? - Ian insistiu.
     - Eu gostaria, mas eu não passei em casa ainda. Preciso ir.
     - Tudo bem. Obrigada pela ajuda. - o senhor Forbes acenou.
     Norman se levantou e Olivia o seguiu:
     - Vou acompanhar ele, pai. Já volto. - o homem de bigode só assentiu.
     Norman se despediu de todos e eles passaram pela porta:
     - Eu queria te agradecer. - ela disse assim que fechou a porta atrás de si.
     - Pelo quê?
     - Por falar com o Ian. - um vento varreu os dois naquele exato momento. - Eu acho que fiquei meio perdida e você foi ótimo falando com ele.
     - Imagina. Não foi nada. Foi um prazer. Apesar das circunstâncias, foi uma tarde maravilhosa.
     - Também achei. - ela sorriu enquanto jogava uma mecha para detrás da orelha.
     - Então até amanhã?
     - Até amanhã, Norman. - ele começou a se distanciar e ela partiu em direção à porta, porém algo não estava certo.
     Norman estava se sentindo incomodado e por mais que houvesse uma vozinha no fundo de sua cabeça o dizendo que era melhor deixar pra lá, porque ele poderia ser mal interpretado, ele decidiu arriscar:
     - Olivia, - ele voltou alguns passos até ela. - Eu posso fazer uma pergunta e você promete ser sincera?
     Ele sentiu como o ar se tornou tenso após ele dizer aquilo:
     - É claro.
     - Tá tudo bem mesmo com você? Tem certeza que é só um enjoo?
     Os olhos dela seguiram os dele e ele percebeu que ela deu uma respirada um pouco mais longa:
      - Eu só não estava com fome. Não queria chatear meu pai.
      - Só isso?
      - Só isso. - ela sorriu, mas foi um sorriso estranho, desconfortável.
      Ele começou a se sentir meio tonto; de qualquer forma era melhor checar do que permanecer com aquela impressão de que algo estava errado:
      - Desculpa, eu só... Só queria saber se você estava realmente bem.
      - Sem problemas.
      - Tchau. Até amanhã. - ele acenou e dessa vez se foi mesmo.
    
    

    
       
    
      

   
    
    
    

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