Eu estava diante a porta dele, mas minha mão parecia se recusar a bater.
Tentei duas, três vezes, e eu nem sabia que estava tão nervosa assim.
Quando eu virei as costas e cogitei desistir, ela se abriu e eu me virei, dando de cara com ele:
- Olivia?
- Norman, oi. - eu senti minhas bochechas esquentando e aquilo era um alerta de que eu provavelmente havia corado.
- Oi. - foi uma surpresa descobrir que o tom dele estava tão suave como sempre. - O que está fazendo aqui?
- Eu ia bater, é só que... - as palavras que eu formava na minha cabeça, só não vinham e eu me sentia como se estivesse em slow motion.
- Tudo bem. - ele encostou a porta atrás de si e se sentou na escadinha que havia na sua varanda.
Eu o acompanhei e lancei meu olhar no horizonte de várias casinhas iguais:
- Você está bem? - ele foi quem rompeu o silêncio discrepante.
- Norman, eu queria te pepdir desculpas. - o encarei. - De verdade.
Por mais que doesse muito mais pedir perdão olhando nos olhos de uma pessoa, mamãe havia me ensinado que aquele era o jeito certo de se desculpar, porque provava a sua sinceridade.
- Você tem razão; eu tenho um problema. Um problema sério. - antes que eu pudesse perceber, meu olho já havia enchido. - Eu sinto falta da minha mãe, muita mesmo. E eu percebi isso quando cheguei em casa.
"Não estou tentando me justificar, eu só queria ser honesta com você.
"Você tem sido uma pessoa incrível comigo, Norman. Eu odiaria perder a sua amizade, porque eu sinto que... Eu sinto que você é alguém que eu preciso ao meu lado".
Nesse momento, meus olhos ardiam com a quantidade de lágrimas dispersadas.
A boca de Norman se mantinha em uma leve linha neutra e eu estava com medo de ele me mandar embora, entretanto seu próximo movimento foi me abraçar.
Fazia tanto tempo que eu não sentia que precisava tanto de um abraço daqueles; com todo aquele nível de carinho; de alguém que não fosse da família.
Quando eu comecei a soluçar no colo dele, ele só me apertou mais forte e começou a fazer carinho na minha cabeça.
Dentro dos braços dele, eu percebi o quanto ele era compassivo; o quanto ele era gentil e que eu não deveria quebrar isso nunca. De forma alguma.
Estar ali com ele, me fez sentir abençoada por Deus. Como se Norman tivesse sido escolhido a dedo para aquele momento.
- Está tudo bem, Forbes. Estamos bem. - ele me assegurou pouco antes de me soltar. - Como você está hoje?
- Não estou completamente bem, sabe? - limpei meus olhos com a manga da blusa longa que eu usava.
- O que foi isso? - ele segurou meu braço. A ponta da atadura que eu havia feito estava um pouco aparente.
Estava bem discreta, mas ele percebeu mesmo assim:
- Eu... - de repente uma vergonha imbatível tomou conta de mim. - Eu estava muito mal quando cheguei em casa, entao eu... - respirei fundo tentando continuar com o cinza dos olhos dele atento a mim. - Tive um ataque de raiva e quebrei meu espelho. Daí me cortei, mas foi sem querer. - essas últimas sentenças saíram de forma atropelada.
- Voce foi ao médico? - ele havia puxado a manga da minha blusa para cima e estava inspecionando o curativo.
- Não. Eu mesma fiz o curativo.
- Forbes, eu sei como é difícil para você se abrir; você tenta segurar as pontas para não preocupar ninguém, mas isso não é saudável. - eu assenti.
Eu me perguntava como, em tão pouco tempo, ele havia percebido aquilo? Às vezes, pessoas levavam anos de convivência até chegar em um veredito daqueles e Norman só me conhecia há algumas semanas.
Achei aquilo reconfortante de certa maneira. Às vezes era bom ter alguém que estivesse um passo à frente de você mesma. Que te conhecesse de verdade.
- ... Então se houver algo a incomodando, pode falar comigo. Seja qualquer coisa, não me importo. - eu assenti novamente.
- Obrigada, Norman. Eu de verdade nem sei como seriam esses últimos dias para mim sem você e a Tonya. - vi um sorrisinho se formar nos lábios dele.
Só entao percebi como estava sentindo falta daquilo. Dos sorrisos à toa que ele dava. Era como um sinal de que tudo estava bem. Para mim, ver Norman sorrir para alguma coisa que eu dissesse, era conforto.
- Então, você vai à festa? - ele surgiu de. novo
- Sinceramente, não estou a fim. E você?
- Eu não posso ir a festa sem a melhor companhia de lá. - ele me arrancou um sorrisinho besta.
- Já te falaram que você é muito galanteador? - ele fez uma cara de convencido.
- Você me diz isso o tempo todo. - meu sorriso se alargou um pouco mais. - Vamos lá, vai ser divertido. Não quero que você fique em casa sozinha.
Ao contrário do que ele estava afirmando, eu não estava sendo uma boa companhia nem para mim, quem dirá para ele? Eu só ficaria num canto sendo chata.
- Você acha que sua mãe gostaria que você ficasse em casa só no seu quarto lendo um livro, ou que você saísse com seus amigos? - o olhei de forma curiosa.
- Como você sabe?
- Foi um chute, na verdade. Mas combina muito com você. - ele deu de ombros.
- Tá bom. Eu vou. - o sorriso dele resplandesceu o brilho das estrelas no céu e olha que nem era noite.
- Te busco às sete e vinte e cinco. - ele anunciou.
- Ok. - eu me levantei e andei alguns passos. - Até mais, Norman.
- Até, Forbes.
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EAT ME
De TodoComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...