Eu estava perdida na lanchonete da escola adiantando um trabalho extra. Aquilo me daria pontos adicionais para alguma matéria que eu ficasse de recuperação no final do bimestre.
Naquele dia, quando deixei Ian na escola, ele me reforçou a conversa sobre amigos que havíamos tido: "vá lá e tente achar alguém legal. Você não é antisocial, Liv." O pior era que eu de fato não era. Eu sempre acabava indo puxar assunto com as pessoas independente de qualquer coisa.
Pensando no que Ian me dissera, eu não o vira mais. Norman. O garoto de conversa legal e que sempre sorria.
Eu estava tão envolta no meio de um pensamento e outro, que quase não notei quando aquela garota ruiva do outro dia, veio e se sentou na mesma mesa que eu:
- Olá, tudo bem?
- Oi, sim. E com você?
- Estou bem. - ela estava com uma bandeja de comida e acabara de colocar uma colher bem cheia de cereal na boca. - Eu não perguntei seu nome, né?
- É Olivia Forbes. E o seu?
- Tonya Evergreen. - apresentei um sorriso compacto. - Você não vai comer? - a garota apontou sua própria bandeja.
- Eu já comi, na verdade. - ela assentiu. - Então, o que está achando da escola? - tentei seguir o conselho do meu irmão e ser um pouco mais amigável.
- Olha, é menos pior que a minha antiga. - ela disse com um tom humorado. - Mas percebo que certas coisas não mudam, não é?
- Tipo o quê?
- Tipo a líder das cheerleaders insuportável que gosta de atazanar a vida de toda pessoa normal no colégio e que dá em cima de todos os garotos. Todos. - areegalei os olhos pela a quantidade de detalhes. Podíamos dizer que aquela era uma situação bem específica.
- Você está da falando da Clarisse. - matei na hora.
- Sinto vontade de voar na cara daquela magrela sempre que ela passa no corredor. - o ódio era mais do que eminente. - Sem ofensa. - não entendi aquilo. Eu me parecia com uma cheerleader?
- Por que detesta cheerleaders? Além dos motivos comuns.
- Porque encontrei meu ex me traindo com uma. E advinha era a chefe das donzelas. No armário da escola. Qur nojo! - meus olhos voltaram a se arregalar para a drasticidade da história.
- Foi por isso que mudou de escola?
- Não. Claro que não. Tive que mudar de escola, porque esmaguei a cara da princesinha com um soco e fui expulsa. - mesmo sendo mal, eu ri um pouco com aquilo.
- Você é doida.
- Você nunca brigou? - apenas neguei com a cabeça, com uma careta de estranhamento. - Ah, a quem eu quero enganar, você não tem cara de quem briga mesmo.
- Obrigada?
- Você parece originalmente uma daquelas pessoas que tenta fazer todo mundo se sentir bem. - gostei do que ela estava fazendo. Leitura.
- Posso dizer do que acho que você tem cara?
- Claro. Livro dos julgamentos aberto. - ela sorriu e eu refleti o gesto.
- Você tem cara de quem faz as pessoas rirem. Não importando a situação.
- Você não está puxando o meu saco, está? - Tonya rebateu automaticamente.
- Não tenho motivos para tanto. - a garota sorriu.
- Vai fazer o que depois da aula?
- Pegar meu irmãozinho na escola e ir para casa.
- Eu ia te chamar para tomar um sorvete.
- Espero que isso não seja uma cantada, porque eu nao gosto de meninas. Nesse sentido. - a risada dela encheu a lanchonete.
- As únicas vezes que te chamaram para tomar sorvete foi em um encontro? - ela não me deu nem tempo pra responder. - Eu também não curto meninas. Fique tranquila.
- Então até mais? - fui juntando meus cadernos porque o intervalo já havia acabado.
- A gente se vê por aí. - ela acenou pegando sua bandeja e partindo.E o que todo mundo havia falado naquele dia, havia sido sobre a festa de boas vindas aos alunos que a escola realizaria. Bom, deixa eu me corrigir, na verdade o que todo mundo estava realmente falando, era sobre a festa de boas vindas que Clarisse ofereceria na casa dela.
Era basicamente tradição.
Todo ano, o comitê dos organizadores de evento da escola, faziam um pequeno baile no início do ano letivo para celebrar e desejar boa sorte, porém Clarisse tinha uma rincha com Tanajo, que era a garota asiática responsável pelo comitê, e por isso ela fazia essa festa em sua casa no mesmo horário que a festa da escola estava acontecendo.
Entre oferecer um baile escolar bacana e uma festa na casa de uma menina rica com alcool e pegação, o que você acha que adolescentes prefeririam? Exatamente. A escola ficava com uns poucos gatos pingados e Tanajo sempre ficava frustrada.
Eu gostava dela. Era uma boa menina. E ela sempre tentava, todo ano. Mesmo se frustrando.
Eu costumava ir até esse baile na escola e ficar algumas horas. Eu me sentia como se estivesse incentivando Tanajo, de alguma forma.
- E aí, fez algum amigo? - Ian soltou de repente no nosso caminho de volta pra casa.
- Vocês crianças fazem amigos muito rápido. Nós não agimos da mesma forma. - justifiquei.
- Liv, você está me dando uma desculpa?
- Não. Eu conversei com uma garota hoje. Tonya o nome dela. Ela é legal.
- Acho que isso é o máximo que conseguirei por ora. - eu assenti, sorrindo.
- E como foi seu dia? - e ele começou a ser uma metralhadora ambulante de novo.
Eu não achava que Tanajo teria meu apoio esse ano.
Eu só não estava a fim. Como eu podia incentivar alguém se não estava me sentindo incentivada?

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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...