65 - Indo ao Shopping

4 0 0
                                        

     - Do que você precisa exatamente?
     - Do que eu achar bonito. - eu não ganharia uma descrição mais específica.
     - Não sabia que você era tão rica assim. - informei.
     - Não sou. Mas meu pai é. - meu rosto foi embebido em surpresa.
     - Como assim, seu pai?
     - Ué, um homem que fez negócio com a minha mãe e eu nasci. Todo mundo tem um pai, Olivia. - ela disse daquele jeito lógico de sempre.
     - Mas você nunca falou do seu pai.  - argumentei, defendendo meu ponto.
     - Ok, mas isso não elimina o fato de eu ter um. E ele é rico.
     - Ok. - repeti. - Por que frizar tanto essa informação?
     - Porque provavelmente esse é o ponto mais interessante sobre ele. - ela deu de ombros com total indiferença. - Resumo da opera: ele é um babaca.
     - Ele tenta se aproximar de vocês? - ela negou com a cabeça.
     - Ele só manda o cash para mim e para o Joshua. - ela fez com os dedos o símbolo.
     - Eu não me sentiria bem de usar o dinheiro de alguém assim. - me ressenti.
     - Joshua não se sente. E é por isso que ele sempre me dá o cartão dele. - ela sorriu, totalmente maldosa. - Eu já tentei me incomodar com isso, mas eu não tenho vergonha na cara mesmo. - mais um dar de ombros. - Eu penso: ele é um idiota, mas um idiota que tem que pagar, então vou torrar o dinheiro dele todo mesmo e que se dane.
     - Tonya, você é um péssimo exemplo de amizade. - eu disse, mas sem deixar de sorrir.
     - Posso até ser, mas sou a única que você tem, então se conforme.
     Continuamos caminhando entre as vitrines, até que deu a louca em Tonya, ela agarrou a minha mão e saiu me puxando toda descarrilhada:
     - Meu Deus, mas o que é isso?
     - OLIVIA, OLHA ESSE VESTIDO! - ela praticamente colou o rosto na vitrine e fez uma careta engraçada.
     Era um vestido de tecido leve. Ia até um pouco abaixo do joelho. Era numa tonalidade de verde água.
Ele tinha mangas longas e tanto na bainha, quanto nas mangas, quanto na abertura do pescoço, havia um detalhe branco de ondinhas.
     Era uma peça tão simples, mas ao mesmo tempo tão intrincada.
     Entendi o desespero de Tonya. Era a minha cara. Faltava só ter escrito o meu nome na etiqueta.
     O vestido parecia brilhar contra a luz:
     - Você tem que ter esse vestido! - ela disse agarrando no meu braço e me levando para dentro da loja, sem nenhum outro aviso. - Moço, bom dia. Quanto custa? - ela apontou a vitrine.
- Não está a venda. É apenas mostruário. Tanto que só temos desse tamanho. - vi que pela cara de Tonya, ela queria bater no rapaz, até ele chorar.
     - Tonya, tudo bem. Vamos lá. - eu tentei evitar uma catastrofe.
     - Quanto você quer? - ela insistiu.
     - Moça, não está a venda. - o rapaz repetiu e por algum motivo eu fui ficando nervosa.
     - Você tem um gerente, supervisor ou algo do tipo? - ele assentiu e saiu para o chamar.
     - Tonya, vamos embora. Estamos em desvantagem aqui, se ele for vender, vai ser por um preço ridiculamente caro.
     - É por isso que vamos usar o cartão de Joshua, Ollie. Porque o saldo dele é maior do que o meu. - eu sorri, negando com a cabeça.
     Não demorou muito para que o atendente viesse acompanhado de um cara alto e bigodudo. Ele lembrava um pouco meu pai.
     Lia-se em uma plaquinha no seu terno o nome 'Jonas'.
     O cara tinha uma plaquinha. No terno. Foi só aí que percebi que aquela loja devia ser caríssima.
     Meu estômago revirou e eu senti vontade de arrancar Tonya dali, da mesma forma como ela havia feito eu entrar. 
     - Bom dia, senhoritas. Com o que posso ajudar?
     - A gente quer comprar aquele vestido ali. - Tonya cortou o meu 'bom dia' intencionalmente e apontou a peça.
     - Aquela peça não está à venda, senhorita. É mostruário. - ele repetiu a mesma coisa que o atendente.
     - Cara, por que você só não me fala o preço do vestido? - ela paprecia estar ficando entediada.
     - Por que é mostruário. Não está a venda, minha jovem.
     - Se é a droga de um mostruário, porque não tem nenhuma peça dele? Eu estou querendo comprar; não estou querendo pegar de graça... - enquanto Tonya iniciava uma discussão, eu me aproximei do vestido e fui o inspecionar.
     Não era uma peça de mostruário. Eu achei uma etiqueta que dizia que o valor era duzentos reais.
     Achei caro sinceramente.
     Entendi tudo naquele momento.
     Puxei Tonya para um canto e a expliquei que eles não queriam vender para a gente porque achavam que nós não teríamos dinheiro.
     - VOCÊS ACHAM QUE EU SOU POBRE? POR ISSO QUE NÃO POSSO COMPRAR A DROGA DE UM VESTIDO? - ela literalmente fez um escândalo e a essas horas, eu não estava nem vermelha. Estava escarlate mesmo.
     - EU VOU EMBORA DESSA POSSILGA E VOU COMPRAR UM VESTIDO MAIS CARO AINDA. VOCÊS PODEM ENGOLIR O VESTIDO DE VOCÊS. ESPERO QUE CONSIGAM VENDER! - ela cuspiu as palavras e saímos andando de lá.
Nós continuamos andando e percebi que ela ainda estava muito brava:
     - Tonya, se acalme. Tá tudo bem. Eu nem queria tanto assim.
     - Cara babaca! - ela quase urrou para dizer aquilo. - Eu detesto esse tipo de coisa. Nossa, eu queria voltar lá e dar na cara daquele paspalho...
     - Mas você não vai fazer isso. - segurei em um dos seus braços para prevenir. - Porque aquele paspalho não vai estragar nosso dia.
     Ela emitiu alguns sons que eu não sabia se significavam acordo ou desacordo, mas continuamos andando:
     - O que Joshua colocou no sanduíche daquele dia? - tentei trocar de assunto para ver se ela se engajava.
     - Sei lá. Aquele menino é doido. - ainda havia uma sucinta irritação chateando sua voz, porém agora, eu achei que se eu desviasse o foco seria melhor.
     - Estava muito bom! - eu não menti.
     - Você comeu? - eu assenti com um sorrisinho. - Nossa, Olivia! Ele vai ficar tão feliz!
     - Norman deu o jeitinho dele e eu nem percebi que ele estava me ludibriando.
     - Ótimo essa funcionalidade de ludibriador. - eu gargalhei um pouco. - Mas falando sério, não sei o que ele coloca no molho. Ele nunca revela.
- Peça para ele fazer de novo quando viajarmos. - ela assentiu, se animando institivamente.
     - Quer um milk shake? - ela perguntou na aleatoriedade de sempre.
     - Não abusa também. - eu ri.
     - Tatiana disse que tínhamos que tratar você de forma normal. - ela deu de ombros.
     - Normal de acordo com as condições. Tenha mais sensibilidade com a pessoa dodói da situação.
     - Você já tem sorte de eu ter te aguentando até aqui. - eu ri de novo e consegui tirar um sorriso divertido dela.







EAT MEOnde histórias criam vida. Descubra agora