Dias Depois
Eu já estava no hospital há basicamente uma semana. E até que as coisas não estavam tão tediosas quanto eu achei que fosse ser.
Tonya tentava sempre vir me ver, mas quando ela não conseguia, ela me ligava e nós ficávamos por horas em ligação.
Ian vinha todo dia depois da escola e ficava nem que fosse por alguns minutinhos. Papai não gostava muito que ele ficasse por conta das lembranças de mamãe. Ele notara que meu irmão estava ficando meio emotivo.
E tinha o Norman. Norman vinha todo dia e ficava o máximo permitido. Às vezes ele até tentava persuadir a enfermeira, mas nunca dava certo.
Todas aquelas pecinhas em conjunto eram fundamentais para a melhora do meu humor.
Meu humor continuava algo muito estranho. Eu até tinha questionado a doutora Bloom e ela me respondera que na verdade aquilo fazia parte dos sintomas. Ora eu estava muito feliz, ora eu estava me sentindo mal. Ela disse que a diferença agora era só que eu conseguia perceber essas oscilações.
Me perguntei se a minha rotina seria a mesma hoje, porém quando a doutora Bloom entrou no meu quarto às sete horas da manhã, notei que tinha algo diferente.
Eu falava com ela todo dia, porém mais pelo finalzinho da tarde, depois que já tinha feito todos os exames:
- Bom dia, Olivia.
- Bom dia, doutora Bloom.
- Como está se sentindo?
- Bem e você?
Ela sempre sorria quando eu retrucava aquela pergunta:
- Estou bem também, obrigada. - ela se aproximou e apoiou as mãos na grade da cama. - Vim trazer boas notícias.
- Quais? - do nada, um pico de ansiedase bateu à minha porta.
- Seu pai está assinando sua alta. - ela despontou um sorriso radiante. - Você vai para casa hoje.
- Você tá brincando? - eu também sorri, imersa.
- Não. É sério. - ela se mantinha sorrindo.
Eu pulei da cama e avancei para a abraçar.
Foi um abração.
- A enfermeira Joyce vai ajudar você a arrumar tudo. - assenti, recebendo suas orientações. - Nós vamos ter encontros a cada quinze dias, ok? Então não se esqueça de mim. - eu assenti:
- Pode deixar.
- Para os próximos dias, as suas sessões com a Tatiana já começam também. - ela escrevia algo na prancheta enquanto falava. - Por mais que eu quisesse que você começasse logo, ela preferiu que você tirasse esse tempo para algo como "respirar". - ela mencionou a fala que eu sabaia ser da própria Tatiana.
- Ok. - já que nós estávamos acertando todos os detalhes, eu precisava tirar uma dúvida: - Doutora Bloom, eu queria te perguntar uma coisa...
- Sobre a comida. - de repente, todo mundo tinha capacidade de adivinhação? Eu só assenti. - Nós não podemos fazer você comer normalmente com um tratamento recém iniciado. - senti alívio. - Mas ao mesmo tempo, não podemos permitir que sua desnutrição progrida e que seu quadro se agrave, então precisamos introduzir as refeições.
- Todas?
- Sim. É o ideal, por mais que não seja fácil. Vamos fazendo isso aos poucos, tudo bem? - eu assenti, com um pouco de receio.
- Eu não sei como vou fazer isso. De verdade. - eu sorri, de nervoso. Não foi um sorriso nada bonito.
- Nos primeiros dias vai ser muito difícil colocar algo para dentro, mas você tem que colocar, menos que não seja muita coisa. Tenta ingerir um pouco em cada refeição e já vamos estar progredindo. - eu assentia, mas quando meu cerébro processou a informação, eu sentia medo. Porque além do medo irracional de engordar, que era errado eu sabia, mas que estava lá, agora eu tinha o medo de falhar miseravelmente e não conseguir. - Com a terapia, vai se tornando menos complicado.
- Você realmente acha que consigo? - encarei o fundo dos olhos tão claros dela e seu rosto se tornou completamente sério, foi quase como se ele chegasse a ser severo:
- Eu não a daria alta se soubesse que não conseguiria. - foi tão convicto, tão certeiro, que eu senti que tinha tomado um tapa na cara, por mais que a intenção dela fosse o oposto. Ela era intimidadora, mesmo quando não se esforçava para isso. - Você ficou aqui por mais de uma semana, recebendo substâncias por IV. Mais do que isso, Olivia, você ficou aqui esse tempo todo, mastigando a ideia da sua doença e as mais variadas questões sobre ela. Você teve tempo de sentir um milhão de coisas e era exatamente do que você precisava, mas agora você precisa enfrentar o problema, com todas as forças que tiver. É isso o que quero que você faça.
"É isso que quero que me diga que está fazendo Quando voltar aqui em quinze dias".
- Tudo bem.
- Pode tentar fazer isso por mim? - a voz dela estava gentil.
- Posso. - assenti.
- Ótimo. - ela sorriu. - Vou pedir para a enfermeira te ajudar com tudo.
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EAT ME
RastgeleComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...