39 - Jejum Diário

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     Havia uma apresentação hoje e eu tentara focar ao máximo nela, assim eu não me distrairia com coisas triviais.
     Era uma apresentação de biologia e eu achara até que interessante. Estava com a matéria na ponta da língua, não estava preocupada nenhum pouco.
     Eu estava sentada na primeira carteira da primeira fileira, coisa que eu quase nunca fazia. Mas foi a única forma que eu achei de me distanciar.
     Graças a Deus nenhum dos dois havia vindo falar comigo durante esses dias e muito menos aquela psicóloga mequetrefe.
     Acho que no fim das contas, a piada havia perdido a graça não é?
      -  O próximo a apresentar é o grupo de Norman. - é, maravilha de coincidência inconviniente. Nós tínhamos biologia juntos.
     Aliás, ele e Tonya, porque o grupo dele era constituído pelos dois.
     - Bom dia a todos, - me forcei a responder, para manter minha boa linha de educação e também me forcei a me manter prestando atenção, afinal teríamos um questionário ao final das apresentações. Havia sido a forma que a professora encontrou para manter a turma prestando atenção.
     Eles estavam falando sobre metabolismo e amídos e composição de alimentos.
     Falando em alimentos, eu havia perdido peso finalmente. Eu estava feliz. Finalmente estava conseguindo ver resultados. Eu ainda não estava satisfeita Não era o peso que eu almejava chegar, mas de fato, o jejum estava fazendo efeito.
     Eu havia me distraído um pouco. Quando me voltei a mim, Norman estava me olhando; desviei os olhos propositalmente e passei a ativar só a escuta.
     Meu celular vibrou e eu percebi que havia acabado de completar mais uma hora de jejum. Peguei minha caderneta onde estava fazendo o controle das minhas calorias e anotei "55 horas".
     A apresentação deles não demorou muito e a professora anunciou que o próximo grupo seria o meu. O grupo na verdade era uma dupla também, eu e Will.
     Assim que levantei da cadeira, senti que alguma coisa estava errada. Senti uma vertigem intensa e voltei a me sentar para evitar o desconforto:
     - Olivia, tá tudo bem? - Will me perguntou, observando o curto episódio
     - Está sim. - eu dei um sorriso cortês. - Eu só levantei rápido demais da cadeira. - ele assentiu, mas manteve um olhar de precaução sobre mim.
     - É pra hoje, pessoal. - a professora nos apressou.
     - Tudo bem. - eu disse mais para mim mesma, do que para eles.
     Me levantei da cadeira e eu estava ainda mais tonta do que na primeira vez. Me forcei a caminhar até a frente da loja, onde nossa apresentação seria projetada.
     Will estava verificando o projetor com a professora e eu estava lá na frente apoiada na mesa.
     As coisas pareciam diferentes, como se elas tivessem com um tipo de marca d'água. Elas pareciam uma nuance, muito clara.
     Era como se meu coração tivesse acelerado e fazendo força para arrebentar a caixa torácica, mas eu não tinha certeza.
     Eu sentia frio, mas era como se meu corpo estivesse hiperaquecendo; eu não podia explicar.
     Eu estava suando? Por que eu me sentia úmida.
     Todos estavam me encarando, mas a final de contas, não era assim que ocorria uma apresentação?
     Mas a cara de todo mundo estava estranha. Onde estava o Will? Eu não o encontrava mais. Onde estava a Tonya e o Norman? Onde estava a professora? Eles ainda estavam ali?
     A tontura estava aumentando e ela puxou junto consigo uma ânsia de vômito. Eu não queria vomitar ali, na frente de todo mundo. As pessoas diriam que eu estava insegura, com medo da apresentação e eu não estava, eu tinha tudo na minha cabeça.
     Ou será que não? Eu tentei relembrar os tópicos dos quais eu tinha que falar e de repente 'bam', tudo havia sumido.
     A nunace começou a desaparecer e o que foi a substituindo ela, foi uma escuridão que margeava a cena de pouco em pouco.
     Eu estava me sentindo exatamente daquele mesmo jeito, nua e exposta. Porque todos estavam olhando para mim de uma forma que me deixava muito desconfortável.
     O escuro margeava cada vez mais as coisas; ele estava praticamente tomando a cena toda. Eu estava ficando cega?
     Pisquei para espantar aquilo que estava se enroscando na minha visão, mas não pareceu funcionar. Não teve efeito algum.
     Eu estava morrendo?
     Será que era isso?
     Eu estava sentindo tantas coisas ruins ao mesmo tempo que realmente parecia ser uma opção plausível.
     Eu não queria morrer... Assim...
     Mas assim como?
     Tinha algo.
      Alguma coisa parecia errada sobre eu morrer daquela forma, mas eu não conseguia me lembrar o quê. Qual era o meu arrependimento? Era um arrependimento?
      Minhas lembranças, elas... Era como se elas tivessem sido sugadas para fora se mim. Não fazia sentido.
      Havia apenas uma pequena parte que eu podia ver. E agora, enquanto os meus sentidos paravam de funcionar, eu ainda tive o deleite de ouvir alguém gritar meu nome. Mas quem? Tudo era tão confuso para mim.
      Antes de tudo se findar, eu vi.
      Eu o vi.
      Eu vi o rosto de um garoto muito bonito de olhos cinzas.
     

   
     


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