Eu não tive muito tempo mais para pensar sobre aquilo.
E isso porque no dia seguinte, era aniversário do meu irmão e ele levava a data muito a sério.
Não era o bastante só ele estar feliz no dia. Todos tinham que estar, por isso eu resolvi ignorar a bola de emoções e sentimentos reprimidos por um milhão de anos dentro de mim para proporcionar ao meu irmão o que ele precisava de verdade.
Eu não estava cem por cento, as vezes eu considerava que eu nunca estivesse, mas eu tentara fazer os exercícios que Norman havia me dito. Era basicamente fugir de qualquer pensamento que me fizesse chegar perto daquilo.
Eu estava falhando miseravelmente, mas estava tentando me convencer a continuar, dizendo para mim mesma que eu estava bem que não havia motivo para se sentir de outra forma.
- Você acha que podemos confiar nela? - Tonya, graças a Deus, me tirou do meu fluxo de pensamentos no qual eu estava mergulhada.
- Sim. Maya é gente fina.
Nós estávamos fazendo uma festa surpresa para o Ian e Maya estava incubida da tarefa de o distrair por tempo suficiente para arrumarmos tudo.
Era a primeira vez que fazia algo daquele tipo, então chamei Tonya para ajudar a arquitetar tudo.
- Caraca, eles já não deveriam ter chego, não? - ela soava extremamente impaciente.
- Ela disse que estava vindo. - eu ressaltei.
- Será que eles pararam para dar uns pegas? - meu pai a olhou de olhos arregalados:
- Oi?
- Tonya, ele vai fazer onze anos. Onze. - frizei bem.
- E daí? Eu com onze anos já roubava beijo de vários menininhos. - por algum motivo, ela parecia se orgulhar daquilo.
- Sua tarada. - Joshua sorriu, negando com a cabeça. - Pior que é verdade.
- Jesus. - Norman comentou e eu só neguei com a cabeça.
Todos ficamos quietos quando ouvimos o barulho de chave na maçaneta.
Voltamos a nos esconder.
Segundo Tonya, o início de festas surpresas sempre era muito clichê, pois a pessoa aparecia e todo mundo gritava surpresa (assim como fora quando voltei do hospital), por isso, esperaríamos eles entrarem e só então pularíamos e gritaríamos 'surpresa!'
Assim que eles entraram, Tonya olhou para mim e assentiu, nós pulamos e todo mundo foi junto:
- SURPRESA!
Foi até cômico o quanto a reação de Ian se pareceu com a minha. Ele levou à mão ao peito e ficou com os olhos esbugalhados.
- Ai, Jesus! - ele disse se aproximando. - Não acredito que me fizeram uma festa surpresa. - ele sorria.
- Pois é. - disse o irmão de Tonya, se aproximando também. - Feliz aniversário, garoto. - e logo, ele o entregou um presente.
Sem pensar duas vezes, Ian levou a caixinha até o sofá e o abriu.
Era uma miniatura de carro. Acho que de um fusca. E isso é o mais específica que vou ser.
- Me disseram que você já tinha uma coleção. - Joshua trocou um olhar com Norman, seu informante.
- Era o último que faltava! Muito Obrigado! - ele correu e abraçou ele.
Eu amava aquilo sobre o meu irmão. Não importava o tempo, nem quantos anos estava fazendo, ele sempre tinha aquela mesma essência carinhosa e gentil.
Eu tinha a certeza que ele sempre continuaria me chamando de 'Ollie' e ao nosso pai de 'papai', independente da ocasião e aquilo por algum motivo me trazia um conforto imenso. Era como sentir que sempre haveria o mesmo chão debaixo dos meus pés.
Ver a cena do meu irmão mais novo sorrindo daquele jeito, no meio dos meus amigos, que há algum tempo atrás eu nem fazia noção que teria, fez eu me sentir terna. Fez meu coração se sentir quente.
- Ficou tudo muito lindo. - Maya disse com aquele seu sorriso costumeiro.
- Obrigada. E obrigada por ajudar.
- Fazer o Ian feliz? Isso é comigo mesma. - eu também sorri.
Ela morria de amores por ele. Só um tolo não via aquilo.
Me perguntei se era daquela forma que Tonya me enxergava quando eu não admitia gostar de Norman.
- Gente, eu de verdade não acredito que vocês fizeram isso. - Ian abria os presentes com um sorriso de ponta a ponta.
Já fazia uns dias que eu não o via animado daquele jeito.
- Abre o nosso, agora. - Norman entregou o dele e da sua mãe e me encarou.
Eu juro que quando Ian abriu a caixa e contemplou o video game novo, ele quase caiu duro.
Sabe a reação daquele menino na internet que recebe um video game de natal? Então, a reação de Ian foi a cópia fiel disso.
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EAT ME
De TodoComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...