Norman
Ele acordou com batidas em sua porta naquele sábado.
As batidas eram contínuas e aceleradas.
No início, ele achou que podia ser Olivia, mas depois, achou o ritmo muito diferente para ser ela.
Desceu as escadas meio grogue ainda e quando atendeu, era Tonya:
- Bom dia, Norman.
- Bom dia, Tonya. - ele disse com o cenho franzido devido a claridade da manhã querendo furar seus olhos.
- Desculpa aparecer assim, mas nós precisamos conversar. - ele assentiu:
- Claro. Você quer entrar?
- Não. Podemos falar aqui mesmo. - ela se sentou num dos degraus da escada da varanda dele.
Ele repetiu o gesto.
- Tem algo errado com Olivia. E não estou falando de luto. Estou falando de alguma coisa muito errada. - ela foi de cara ao assunto; sem nenhum rodeio.
- Eu sei. - foi como o inferno para ele admitir aquilo a primeira vez e não era nenhum pouco melhor admitir isso agora.
- O que é?
- Ela tem um distúrbio alimentar. - ele falou isso, encarando o próprio vento. - Ela se vê de uma forma que não é real.
- Como ela se vê?
- Gorda. - o rosto dela contraiu:
- Norman, ela é super magricela!
- Sim, mas ela não consegue ver isso. Ela realmente se vê acima do peso.
- Meu Deus! - ela perdeu os dedos nos meios dos cabelos ruivos. - Ela te contou?
- Não, ela nem sabe.
- Como assim? - ele não a culpava, era confuso mesmo.
- Ela não admite que tem um problema. Está em negação. - ele se lembrou da primeira pergunta dela. - Eu descobri porque fui notando alguns comportamentos dela.
- Como por exemplo o fato de ela não comer?
- Você também percebeu?
- Não achei que fosse nada sério. Achei que ela comesse em outras ocasiões, sei lá. É sério que ela não come? - Tonya estava boquiaberta.
- Acho que se ela fizer uma refeição no dia é muito. E não é o que nós consideramos uma refeição. É muito pouco. - ela só assentiu, até manter a cabeça baixa mesmo. - Mas sim, isso é um dos comportamentos. Mas como você notou?
- Quando conversamos sobre você é estranho. - ela fez uma cara que demonstrava um desconforto quase físico. - Ela sempre fala como ela não pode estar com você, porque ela é ruim ou algo do tipo. E não é da boca para fora. As palavras dela pesam, Norman.
- É porque ela se sente assim. - refletiu e mais uma vez notou, o quanto aquele estado era deprimente. - Eu fui falar com a psicóloga do colégio.
Em um primeiro momento, Norman achou arriscado falar sobre aquilo, porque talvez Tonya poderia se ofender pela amiga; achar que tivesse sido um abuso, entretanto, ele estava tão aéreo, que ele simplesmente não se importou.
- E o que ela disse? - a reação dela foi diferente do que ele estava esperando, tinha que adimitr.
- Basicamente, que eu não devo confrontá-la, porque isso só irá piorar as coisas. - Tonya balançou a cabeça em sentido positivo. - Ela vai ajudar Olivia.
- Meu Deus! - ela repetiu, como se cada vez mais fosse se dando conta da gravidade da situação. - Eu não fazia ideia de que pudesse ser um problema tão sério assim.
- Eu andei pesquisando - acrescentou. - Não afeta só o físico, mas principalemnte o emocional e o psicológico. Acho que por isso que às vezes ela tem uns momentos tão ruins.
Tonya só sabia assentir.
- Nós somos os primeiros a descobrir isso, Tonya. Não podemos comentar com ninguém ainda. - ele se lembrou.
- Mas o Robert precisa saber, não acha?
- Acho que sim, mas no momento apropriado. Acho que Tatiana irá dar um jeito nisso. Ela é profissional; estou confiando nela depois de Deus.
Tonya passou um tempo sem falar. Ela só se jogou para trás, deitando as costas no chão, sem se importar nenhum pouco com a sujeira.
- Eu notei que você fala muito de Deus. - ela comentou depois de alguns minutos, como se não fosse para ninguém em particular, mas ele sabia que era com ele, pois só haviam os dois ali. - Você é religioso ou algo do tipo?
- Sou cristão. - ela assentiu.
- Então ore por ela. - ele achou interessante o jeito que ela disse aquilo. Não foi um pedido normal. Não foi algo comovido; muito menos algo acreditado. Foram mais como palavras jogadas ao vento.
Norman achou aquilo realmente curioso, mas resolveu não perguntar, porque alguns assuntos podiam ser realmente como o teto de uma casa que está prestes a ruir:
- Vamos orar. - ele comentou tão solto, quanto ao vento.
- Você vai. Eu não; nunca fiz essas coisas - o olhar dela ainda tentava confrontar o brilho do Sol.
- Não tem nenhum segredo. A oração é uma conversa com Deus. Uma conversa honesta. - ele disse, encarando os olhos semicerrados da garota.
- Sério? - o tom dela era o que trazia a mais genuína surpresa do mundo. - Nunca tinha parado para ver assim.
- Algumas pessoas acham que quando você ora, tem que falar bonito e com palavras difíceis, mas a verdade é que tudo o que Deus quer é que oremos. E que sejamos sinceros. Ele só quer a proximidade.
- Isso é completamente diferente do que eu achava que era. - o celular dela fez barulho e quando ela olhou o visor, seu rosto voltou a ficar sério:
- É a Olivia. - ela encarou o visor e o encarou. - Ela está me chamando para ir na casa dela.
Norman apenas assentiu:
- O que eu faço? Como eu ajo? Eu não sei o que fazer. - ela teve um mini surto e começou a jogar palavras cada vez mais rápido.
- Tonya, se acalma. - ele a segurou pelos ombros, porque ela estava muito agitada. - Você precisa se acalmar.
Aos poucos, ela foi voltando ao normal:
- Você precisa agir normalmente. Como se não soubesse de nada.
- E como eu faço isso? Eu não posso, Norman! Ela é minha amiga e está doente!
A preocupação estava explícita em sua garganta:
- Eu entendo. Eu também não gosto disso. Eu também estou assustado, mas se nós começarmos a tratar ela de modo diferente, isso só vai a fazer se sentir pior. - ele viu que os olhos dela ainda continuavam em pânico. - Você precisa ser forte; por ela. Precisa segurar as pontas e ser durona igual você sempre é. - a frase ocasionou um sorriso da menina:
- Eu não sou durona. Sou uma manteiga derretida.
- Então finja que é durona. Não podemos demonstrar pra ela. - Tonya assentiu.
- Tudo bem, eu vou dar um jeito. - ela concluiu com uma cara de quem não sabia nem por onde começar.

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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...