37 - Se Sentindo Traída

4 0 0
                                    

     Eu estava sentada atrás das arquibancadas.
     Eu tinha combinado de encontrar Tonya depois da aula, mas agora sinceramente, eu não queria ver ninguém.
     Eu só queria estar só e tentar solucionar o mistério de porque parecia que todo mundo se virara contra mim de repente. Por que a droga do meu peso tinha se tornado a principal palta de todos?
     Mas o meu desejo de ficar só não foi realizado porque Norman me achou.
     Assim que ele me encontrou, nossos olhos se bateram e seria um impacto e tanto, porém as minhas lágrimas aliviaram a colisão.
     Norman abaixou a cabeça e se sentou ao meu lado.
     Por um momento permanecemos em completo silêncio. Não se ouviam nem as nossas respirações.
     - Tatiana falou com você? - até que ele rompeu a barreira em que estávamos.
     - Como você sabe?
     Norman respirou fundo. Achei ser a respiração mais funda que já havia visto ele dar.
     - Porque ela me disse que falaria. - fiz cara de confusão. - Eu pedi para ela ajudar, Olivia.
     - Espera aí, - me levantei, me distanciando um pouco. - Está me dizendo que você foi falar para ela? Você contou para ela como eu me sentia?
     Nunca me senti tão nua e indefesa. Nunca me senti tão exposta, tão vulnerável.
     - Por quê? - minha voz falhou miseravelmente e desafinou.
     - Porque eu não posso te ajudar. Não sozinho. - a impotência assolava como uma sombra em sua voz. - Eu quero que você fique bem, eu quero que você veja...
     - Para com essa idiotice de "eu quero te fazer ver o que é real". - aumentei o tom. - Eu já vejo, vocês é que não vêem droga nenhuma!
     - Olivia, o que eu fiz, foi com a melhor intenção do mundo...
     - Eu confiei em você, Norman! - solucei. - Mas que droga, eu acreditei em você com todas as minhas forças! Eu achei que você... Achei que você gostasse de mim!
     - Mas eu gosto! - ele rebateu. - E é por isso que eu não posso deixar você piorar. Não posso deixar você continuar se maltratando desse jeito.
     Eu o encarei com uma careta. Meu Deus, do que ele estava falando? Eu não estava fazendo nada de errado. Eu não estava tentando me matar! Por que todo mundo agia como se o fato de eu querer perder um pouco de peso fosse uma tentativa de suicídio?
     - Como pôde? - o encarei de cenho franzido. - Pegar algo tão íntimo, que nem era seu e levar para uma completa desconhecida? - Norman só abaixou a cabeça. - E agora isso está sendo usado contra mim. - falei de forma baixa.
     - Não, não, não. - ele tentou se aproximar, mas eu dei um passo para traz, como se o seu toque pudesse fisicamente me queimar. Como o sol, que era lindo, mas se você chegasse perto, ele simplesmnete te desintegraria. - Ela está querendo ajudar você; todos nós estamos.
     - ELA FEZ PIADA SOBRE O FATO DE EU SER UMA GORDA NOJENTA! - gritei a plenos pulmões. - COMO VOCÊ PODE CHAMAR ISSO DE AJUDA?
     Ele permaneceu em silêncio. A cabeça baixa:
     - Eu não preciso de ajuda! E eu não quero a droga de ajuda de vocês!
     - Olivia...
     - Não fala mais comigo! - a queimação nos meus olhos se confundiam com as lágrimas que embaçavam tudo para mim. - E obrigada por fingir que se importava! - saí correndo antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.
     Eu não queria ouvir ninguém. Eu não queria ver ninguém. Eu estava de saco bem cheio de todo mundo.
     Corri o mais rápido que os meus pés me permitiram e não me importei nenhum pouco com as aulas, ou em ter deixado os meus pertences na sala de aula.
     Eu só precisava sair dali; precisava esquecer um pouco daquelas pessoas e de todos os sentimentos doloridíssimos que estavam voltando.
     Não era como luto.
     Talvez não fosse pior que o luto, mas era tão ruim que eu não sabia escalonar.
     Na verdade, talvez fosse pior sim, afinal minha mãe não teve escolha; ela só se foi. Mas Norman? Norman estava vivo e consciente de seus atos. E mesmo assim, ele pegara a coisa mais particular que eu tinha e mostrou para uma estranha com síndrome de 'eu sou incrível e eu vou te ajudar'.
     Como doía aquela droga.
     Quase inconsciente, meus pés pararam e quando eu me dei conta de onde estava, minha pernas cansaram e não puderam mais me sustentar. Eu caí, de joelhos.
     Eu estava em frente ao cemitério no qual a minha mãe havia sido enterrada.
     Eu não havia ido lá desde o enterro. Nunca me foi conveninete estar no túmulo dela. Mas sinceramente, para quem era conveninente estar de frente a um túmulo horrível?
     Mas por algum motivo, eu havia chego lá.
      Passei pelos portões e caminhei até lá. Parei de frente ao que se lia Ruby Forbes.
      A primeira coisa que me chamou a atenção é que lá tinha um buquê de flores de campo amarelas. Eram as preferidas da mamãe.
      Meus olhos explodiram em mais lágrimas.
      Eu sabia que havia sido o meu pai quem havia deixado aquelas flores lá. Ele visitava o túmulo dela todo final de semana.
     Infelizmente ele não conseguira superar. Acho que nenhum de nós, porque em algumas noites, Ian ainda pedia para dormir comigo pois estava "com saudade da mamãe".
     Desejei ardentemente que ela estivesse ali para me dar um de seus sábios conselhos. Ou simplesmnete para ela deixar eu deitar a cabeça em seu colo enquanto me faria cafuné.
    

     Quando cheguei em casa naquela tarde, Tonya estava me esperando na escada.
     Ela estava sentada lá, segurando minha mochila vermelha, com uma cara péssima.
     - Olivia! - ela disse assim que me viu.
     Eu não falei nada, só parei de pé na sua frente e a encarei.
     - Eu trouxe a sua bolsa. - ela a ofereceu psra mim e eu a peguei.
     - Obrigada.
     - Eu fiquei sabendo do que aconteceu. - eu não disse nada. - Olivia, eu sinto muito, muito mesmo que as coisas estão assim, mas o Norman fez tudo de coração...
     - Você sabia, não é?
     Ela demorou um tempo para me responder. Os olhos dela só ficaram correndo como um ratinho na gaiola.
     Aquilo já foi uma resposta e tanto para mim:
     - Assim como o Norman, eu não quero mais ver você. - eu tinha uma série de outras coisas para dizer, mas eu já estava tão de saco cheio, que aquilo foi o bastante.
      Entrei e bati a porta, indo para o meu quarto.
      Assim que entrei e me deixei escorregar pela porta até acabar sentada no chão, eu decidi uma coisa: eu mostraria para eles que eu não precisava de ajuda alguma. Que eu não era uma coitada.
      Eu ia emagrecer de verdade dessa vez. Ia me dedicar. E quando eu estivesse esguia, eu ia esfregar na cara de todos eles como estava tudo bem em perder alguns quilos.
      Eles iam ver que o que fizeram foi a coisa mais sem sentido do mundo.
     
    
    
   

EAT MEOnde histórias criam vida. Descubra agora