Norman
O caminho de volta para casa foi todo feito em silêncio.
Tonya insistiu para os levar de carro, porém Joshua o dera uma força falando que "eles tinham perna e não iriam se perder de novo". O nível de maldade do comentário foi tal grande que foi suficiente para Tonya não propor mais aquilo.
Ele achou que conseguiria uma brecha para falar com ela durante o caminho, porém todos os assuntos (ou tentativas deles) soavam borrachudos e desconfortáveis.
- Boa noite, Forbes.
- Boa noite, Norman. - ela deu um sorriso agradável.
Mas naquela noite, quando ele estava se convencendo de que ela merecia mais um tempo para processar as coisas e estar confortável a tocar no assunto, um impulso explodiu de dentro pra fora e ele não foi capaz de o conter.
Provavelmente se tivesse o contido, não ficaria em paz pelos próximos dias.
- Olivia, - sua voz soou longínqua naquela noite, atravessando o gramado e a atingindo perto da porta. - Eu preciso te dizer uma coisa
Ele nem precisou concluir seus passos até ela para ver o quão vermelha ela havia ficado.
- Eu acho que você está um pouco constrangida sobre o que aconteceu hoje, mas eu...
- Não estou, eu só... Não sei o que dizer. - a sobrancelha dele saltou com uma leve surpresa que a sentença dela o provocou.
- Eu quero que saiba que pra mim aquilo não foi isolado. - ele manteve a mesma intensidade no cinza de seus olhos. - Já faz um tempo que eu fantasio com aquilo na minha cabeça. Que eu penso mais e mais em você. Que eu fico ansioso para estar perto de você de novo, porque eu... Eu... Eu realmente aprecio estar com você. - os olhos dela estavam tão concentrados que se houvesse mais um pouco de foco, o lindo verde deles se trincaria. - Eu gosto de você, Olivia.
Ela abriu a boca e demorou uns três segundos para a fechar.
Ele percebeu que seu olhar estava diferente agora; ele estava ainda mais verde, tinha alguma coisa o ressaltando; eram lágrimas. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.
Norman estava confuso. Se perguntando se havia feito algo de errado para a chatear, quando um sorriso ensurdecedoramente alto, porém lindo, alcançou os lábios dela.
Foi um sorriso aberto.
Era a primeira vez que ele a via sorrir daquela forma; ela geralmente dava sorrisos discretos de canto de boca, mas ali, ali ela iluminou o rosto dele.
- Lembro que quando conversamos uma vez, você me disse sobre as pessoas não poderem estar lá para você, mas Olivia, - ele pegou uma de suas mãos e segurou delicamente seus dedos finos. - eu quero estar lá, bem ao seu lado. Para rir com você e pra chorar se precisar. - o sorriso dela vacilou, mas logo ele voltou.
Ela havia derramado algumas lágrimas, mas apesar disso, sua face ainda continuava completamente decorada por toda aquela iluminação que vinha dos seus lábios.
- Norman, eu... - ela secou o canto dos olhos com a mão livre, não fazendo questão de desvencilhar a mão da dele. - Eu não acho que eu possa... Eu não me sinto... Eu não sou alguém que merece estar com você.
O que aquilo queria dizer exatamente? O nível de confusão dele só se elevou:
- Por que não? - Olivia pousou a mão em cima da dele e a acarinhou suavamente.
- Porque você é uma pessoa tão boa, tão gentil e tem um coração maravilhoso. É a pessoa mais bonita que já conheci. - ele sabia que ela estava falando isso no sentido metafórico. - E eu sou muito complicada, Norman. Eu ainda estou de luto e você pode ver - ela mostrou a mão com o curativo. - como ele ainda me afeta.
Ele entendia tudo o que ela estava dizendo. E discordava sensivelmente de absolutamente tudo.
Ela não era complicada; ela só estava numa fase ruim, mas ele já percebera o quão incrível ela era, porque mesmo nessa fase cinza, ele conseguia ver as cores do arco íris por detrás das nuvens. Ele via mesmo que ela estivesse sendo ofuscada demais.
- Você sim é a pessoa mais bonita que eu já conheci. Em ambos os sentidos. - fez questão de reforçar. - E eu te entendo, mas você vai descobrir que essas concepções não são reais. E independente do tempo que isso levar, eu vou estar bem aqui, esperando por você, Forbes.
- Norman, - os olhos dela soaram apavorados sobre os dele. - Eu não quero que crie esperanças sobre mim. Não quero que empaque sua vida...
Ele a silenciou com um beijo na testa:
- Eu quero fazer isso. E vou fazer. - disse confiante, checando seus olhos. - E quando você estiver pronta, me avise.
- Norman...
- Boa noite, Forbes. - ele deixou um sorriso quieto e ela sabia que não podia retrucar.
Apesar daquilo, ele não se sentiu nenhum pouquinho desanimado. Na verdade, ele sentiu a esperança explodir em seu peito, porque ele conseguira notar, - mesmo nas sutilezas - que ela sentia algo por ele. Caso contrário, por qual motivo se importaria de esclarecer tudo aquilo?
Ela só não estava bem para iniciar aquilo agora e ele a compreendia totalmente, mas mesmo assim estaria lá, para ser o que ela precisasse durante essa fase que se julgava complicada.
Aquilo não diminuiu nenhum pouco o entusiasmo que o beijo de mais cedo causara ou o impacto que isso tinha deixado demarcado em todos os átomos de seu corpo.
Ele esperaria por ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...